quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Foi há uns cinquenta e tais...

FOI HÁ UNS CINQUENTA E TAIS...





Foi no dia de hoje, há cinquenta e tal anos que morreu a minha Mãe. Tinha eu uns treze para catorze anos. Os sinos tocaram como tocavam tantas vezes para funerais que eu via passar à minha porta.
O cemitério fica ali para cima uns trezentos metros. Desta vez foi a minha Mãe que partiu para sempre. Com flores, com muita gente a acompanhá-la. Ela era padeira, distribuidora de pão pelas manhãs e nisso, corria grande parte da freguesia todos os dias, Verão e Inverno e, ainda por cima era mulher do alfaiate da freguesia.

Nunca mais ouvi a sua voz, que se ouvia pouco, mesmo quando era viva. Ela ouvia mais do que falava. Relembro o seu carinho de me vir aquecer os lençóis da cama, no pino do Inverno, com o ferro de brunir, da oficina de alfaiate, antes mesmo de me ir deitar. Se o não fizesse, passaria um quarto de hora, enregelado, a aquecer. Assim, era só fechar os olhos e voar nas asas do sonho e do sono despreocupadamente, até ao outro dia para a brincadeira.

Que me diria que passadas estas cinco dezenas de anos, eu estaria aqui, a relembrá-la, com saudade, perto de Aveiro, já com mais uns vinte e sete anos a mais dos que Ela tinha quando foi a descansar...

Aradas, 27 de Novembro de 2008

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

Foi há uns cinquenta e tais...