sábado, 4 de outubro de 2014

viagem de outono...

viagem de outono...
marquei minha viagem
para o final do outono,
ainda a tempo
das vindimas da minha aldeia.
quero ouvir os coros barítonos
e os brados daqueles jovens,
a meio das escadas,
por já terem as cestas cheias.
pelas moçoilas com cestos vazios.
quero ouvi-los, de hora a hora.
comer com eles as sardinhas fritas
e a broa loira.
apanhar os bagos maduros
que foram caindo.
beber um trago.
do vinho velho,
na despedida.
acompanhá-los pisando as uvas
no lagar,
depois do jantar,
pela madrugada.
e dançar o vira,
com as moças trigueiras,
faces rosadas,
mostrando as pernas,
em rodopio.
na eira ao sol.
e esperar o mosto doce,
quando, vermelho,
ele vai para a pipa.
só lá voltarei,
no outro ano,
para beijar a cruz,
com aquela gente,
pela páscoa santa...
Mafra, café caracol, 4 de Outubro de 2014
16h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Tarde amarela...


esta tarde amareleceu suave.

mais lento que nunca,
o sol desceu
e poisou terno,
no telhado da minha alma.

quis entrar e eu deixei.

servi-lhe vinho
como nunca provara.

sentou-se à mesa.
pus-me a contar-lhe a minha vida.
do passado até agora.

ouviu atento.

no fim,
de olhar doce e quente,
disse:

- a vida deu-ta Deus...
só a ti pertence
e teu é só o presente...

D'Ele é tudo.
Tu.
Teu passado, o presente e o futuro.


ouvindo Moldau de Smetana

Mafra, 24 de Setembro de 2014
17h16m
Joaquim Luís Mendes Gomes

tarde amarela...

Tarde amarela...


esta tarde amareleceu suave.

mais lento que nunca,
o sol desceu
e poisou terno,
no telhado da minha alma.

quis entrar e eu deixei.

servi-lhe vinho
como nunca provara.

sentou-se à mesa.
pus-me a contar-lhe a minha vida.
do passado até agora.

ouviu atento.

no fim,
de olhar doce e quente,
disse:

- a vida deu-ta Deus...
só a ti pertence
e teu é só o presente...

D'Ele é tudo.
Tu.
Teu passado, o presente e o futuro.


ouvindo Moldau de Smetana

Mafra, 24 de Setembro de 2014
17h16m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 16 de setembro de 2014

caminhos paralelos--

Caminhos paralelos…

Andamos neste mundo,
Como num deserto de caminhos paralelos.
Nos cruzamos.
Saudamos.

Fazemos nossas compras,
Nossas oferendas,
nos brindamos.

Nos aliamos em braço dado.
Cada par, em sua senda.

Nos amamos.
Nos embriagamos de perfumes.
Geramos os nossos frutos.
Os elos desta cadeia d’oiro.
Não tem mais fim.

Sonhamos dos mesmos sonhos
E também dos pesadelos.

Carpimos de lágrimas
Os nossos mortos.

Que cortejo longo,
A vaguear em festa,
Por este mundo.

Nos alegramos com o bem dos outros
Como eles de nós próprios.

Sempre à espera de melhores dias.

Foi assim que o Criador fez
Este relógio.
E o sustenta com a corda
Que só Ele dá…

Mafra, 15 de Setembro de 2014
14h7m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sótão das ideias e velharias

Sótão das ideias…e velharias

Cansado. Esgotado.
Deste deserto à volta.
Subi ao sótão
Das minhas ideias,
Passadas ou esquecidas.

Remexi caixotes.
Estavam por idades.
Infância.
Adolescência.
Juventude.
Maioridade.
E, ainda vago,
já lá está o da senectude.

Um a um, os vasculhei.

Lá estava o berço
Que me embalou.
Em meia lua.
Um baloiço em pau.
Azul de mar.
Já desmaiado.
Veio de trás.
e serviu para mim.

Meu cavalo de pau.
De olhos redondos,
Muito luzentes.
E tinha orelhas.

Meu ciclista alegre,
duma roda só
Que eu empurrava,
Com velocidade.

A minha fisga.
Onde afinei a pontaria ao longe.
Que me serviu para a vida.

O meu pião. Bojudo.
Tinha cá um bico!...
E o das nicas.
Todo lascado.

As minhas botas.
Leves. Feitas à mão.
Iam comigo a todo o lado.
Que bem corriam.
Coladinhas ao chão.

O triciclo de madeira
Que o joão alfaiate
Me construiu…
O patrão e mestre.
Era o meu pai.

Uma gaita de beiços.
Onde eu dobrava.
Modinhas da terra.

Até um caniço.
Que eu fabriquei à mão.
Em paus de vime.
E apanhei pardais.

Lá estava o tercinho.
Bolinhas pretas.
Cinco mistérios.
E ave marias.

Meu livro de missa,
Com orações.
Que lindas eram.
Falavam do céu,
Onde não havia estrelas
E morava Deus…

Ouvindo “serenata de Schubert” “Claire de lune”de Debussy, a partir do youtube

É madrugada…já trovejou

Mafra, 16 de Setembro de 2014
5h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes

de regresso à minha aldeia---


de regresso à minha aldeia...

faço preces a Deus
por cada migalhinha de pão
que como na minha aldeia.


por cada passo que dou
nos caminhos que pisei
desde a casa onde nasci,
à escolinha e à catequese,
que me deram a luz
para a vida inteira.

por cada abraço,
cada sorriso,
que me dão,
com tanta alma.

em cada canto
e cada esquina,
cada monte e cada campo,
há uma história linda
que eu não esqueci.

até a chuva e a trovoada
me têm o sabor das alvoradas
e dosanos quentes
que aqui vivi.

são as mesmas
todas as rendas
das serras altas,
todos os vales,
aqui em redor,
de Santa Quitéria
ao Marão.

as mesmas cruzes
e campanários,
tantas ermidas brancas,
por aqui espalhadas,
pedindo ao Senhor
a sua bênção.

foi aqui que eu vim ao mundo.
cresceram minhas raizes.
aqui venero a mesma Senhora
de Pedra Maria
que me acompanhou por todo o lado.
Sua bênção minha Mãe!...

e casa de minha irmã

Padra Maria, 17 de Setembro de 2014
6h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 13 de setembro de 2014

sózinha na estrada

sozinha.
açafate à cabeça.
descalça na estrada,
vai pressurosa.
a caminhode casa
a fazer o almoço
para a pequenda
regalada da vida.
ente-se amada.

caregada de uvas,
vermelhas de vinho.
que regalo comer.

yodos dançando,
`volta da mesa,
yoalha de linho
corda do sol.
o´aravilha! é a vida a sorrir.


caixa negra...

Caixa negra…

Trago escondida no meu peito,
Mui bem guardada.
A caixinha negra do meu navio.

Tudo gravado.
Em fogo aceso.
Minhas horas boas
E também as más.

As boas eu lembro
E sei contar.
As outras, muitas,
esqueci para sempre.
Nem quero pensar.

Hão-de abri-la
Quando meus olhos baços
deixarem de abrir.

Hão-de lê-las.
E vão saber ao certo,
como sempre fui.

Tantos segredos
De bilhetinhos escritos
Que iam e vinham
De flor em flor.
No raiar da vida.

Tantos queixumes
De amores escondidos.
Tantos sonhos
que ficaram sonhos.

Uma vida toda.
Um romance lindo,
Com muitas folhas
Onde escrevi passadas
Que nunca dei.

Tantos anseios
E lágrimas vertidas.
O tempo agreste
Me murchava a vida.

Fiz-me uma árvore
Com muita ramagem.
De poucos frutos.

Mas será neles,
De sabor tão rico,
Que me vou vingar.

Deles cuidei,
Jardineiro atento.

Dei-lhes abrigo
Com muito calor.

Cresceram afoitos
Pelo ar acima.
Se fizeram gente
Que me faz feliz.

Foi assim mesmo
que eu fiz aos meus…

Mafra, 13 de Setembro de 2014
15h26m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

tudo a postos.

tudo a postos.

meu barco arfante,
de velas de pano,
está pronto a sair 
da barra do mar.

engalanado,
bailando,
vai partir sem destino.
à volta do mundo.

o sonho encantado,
de quando era menino,
sentado na praia,
olhando ao longe,
donde vinham as ondas
que fugiam do vento.

que é que haveria,
para lá do além,
da linha sem fim,
entre o mar e o céu.

a hora chegou.
na tarde da vida,
onde vivi marinheiro,
como um nauta,
sem bússola,
seguindo estrelas
que se estão a apagar...

minha chama de cá apagou.
quero acendê-la
noutra parte do mundo,
mas à beira do mar.

ouvindo Franz Liszt- Liebestraum

um dia a nascer

Mafra, 12 d Setembro de 2014
6h31m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

correndo à chuva....

sózinha. 
açafate à cabeça. 
descalça na estrada,

vai pressurosa.
a caminho de casa
a fazer o almoço
para a pequenada
regalada da vida.
sente-se amada.

carregada de uvas,
vermelhas de vinho.
que regalo comer.

todos dançando,
`à volta da mesa,
toalha de linho
corada do sol.

ó maravilha! é a vida a sorrir.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

renascer...

o renascer...


minha janela branca devassada
dá para a escuridão da mata.
só o negrume se vislumbra
e o nada para lá daquele muro de pedra.

mas é de lá que vai nascer o sol
com a doce alegria de mais um dia.

verei o verde em chama do manta de copas
e o amarelado seco das duas encostas,
por onde cirando em paz,
os meus cavalos,
tão bons vizinhos.

verei moinhos argutos,
com as três pás brancas,
girando ao vento.

ouvirei o vento que chegou do mar.
vindo dos longes,
mais longe,
onde não havia gente.

verei a luz a chover em bátegas,
pintando às cores,
todas as aves.

e o amigo vizinho de cabelos brancos,
passeando o canito
e contando voltas
para bem das pernas.

tudo eu espero,
quando o sol nascer...

ouvindo Adagio for Strings de Samuel Barber, a partir do youtube

escuro de breu...

Mafra, 10 de Setembro de 2014
6h0m
Joaquim Luís Mendes Gomes

resgate...

o teu resgate...

vou vender tudo quanto tenho
para pagar o teu resgate.

aquele cordão de oiro maciço
que me deu o meu padrinho
pelo natal.

e as terras todas que herdei.
ao pé do rio.
onde a toda a hora
me vou banhar.

e aquela vinha de uvas doiradas
que enchem o meu lagar.

tudo eu vendo.

vou juntar o dinheiro.
que for preciso.

nem que seja uma fortuna.

vou de barco ou de avião,
ao fim do mundo
a buscar a tua mão.

para viver o resto da vida
contigo ao lado.

até à hora do sol pôr.

Mafra, 9 de Setembro de 2014
15h41m
Joaquim Luís Mendes Gomes
GostoGosto ·  · Promover · 

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

alfaiate sou eu...

alfaiate sou eu...

sou semente madura.
nascida da terra.
agarro-me a ela,
com unhas e dentes.

me enrosco lagarta,
com todas as patas
e loro e loro..
perdido, feito mineiro.

busco do minério mais puro,
que vive escondido,
para minhas mensagens.
busco as raizes
que medrem cá dentro.

quero dar fruto,
exposto ao sol.
busco as cores
que só no seu ventre
brilham no escuro
como estrelas do céu.

agarro-me a elas
com todas as forças
e teço fazendas
com que me visto.
eseciarias sem preço
para dar e vender,
na praça do mundo,
ao preço da chuva,
a quem as quiser.

trabalho à medida.
alfaiataria de mestre.
desenho os fatos
a giz e tesoura.
de olhos fechados.
conforme a hora
em que estiver a sonhar...

não aceito encomendas.
o traço dou eu...

Mafra, 8 de Setembro de 2014
19h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes





domingo, 7 de setembro de 2014

armado...invencível...

armado invencível...


armei-me até aos dentes.
com todas as armas
que arranjei.
umas, minhas.
outras, emprestadas.

lancei-me ao largo.
livre.
disposto a tudo.
até a matar
para não ser morto.

me desferiram um primeiro ataque.
defendi-me bem.
fiquei ufano.
convenci-me que era invencível.
como aquela armada
que foi ao fundo

nao foi preciso muito.
ao virar da esquina
um ligeiro ataque
traiçoeiro,
deitou-me ao chão
e desarmado.

vi-me perdido.
pensei no fim
ou na desgraça.
porque não a mim?...

minha fé, porém,
se acendeu em chama.
e acreditei ser mais um pesadelo.
e haveria de despertar.

clamei aos quatro ventos
como quem ora.

tive a esperança
na mão de Alguém...
me viesse acudir,
com força.

e na derradeira hora,
donde menos esperava,
a Sorte veio em força.
escorraçou o maligno...

me pôs de pé.
me pôs à porta
a chave e,
deslumbrado, eu entrei...


ouvindo the best of Chopin, a partir do youtube

Mafra, 8 de Setembro de 2014
4h53m
Joaquim Luís Mendes Gomes




tarde de domingo...

tarde de Domingo...


está azul o céu.
como há muito não.

há cavalos tranquilos a debicar o chão,
para mim,
de olhos baços,
só me restam
as nuvens a bailar festivas...

mais as copas verdes
duma mata em flor.

oiço acordes
duma música lenta
minha alma aspira.
e canta sonora.

louvores sem fim.
de louca a arder.

baladas tristes,
me chegam do fundo
dum mar profundo.
soam a eterno
dum amanhecer.

voo no ar
como se fora ave.
rumo ao infinito
do entardecer.

meu barco alado
de asas abertas.
parece uma gazela triste
a que abri a porta.

vou esbaforido.
se ninguém me alacançar,
darei a volta ao mundo.
e ficarei sonhando.

perdi tantos dias
neste porto morto.

só hoje me chegou o vento.

ouvindo Brahms piano concerto nº 2 por Baremboim
Mafra, 7 de Setembro de 2014
17h4m
Joaquim Luís Mendes Gomes







quinta-feira, 4 de setembro de 2014

ave Maria...

Ave Maria,
Senhora,
Mãe de Jesus!

Rei dos Reis,
Senhor deste mundo,
que é o nosso,
com todas as coisas,
umas, boas, belas,
outras, menos, muitas,
só na aparência,
porque Ele é justo
e todo poderoso...

criado por amor,
para seus filhos
que somos nós,
Tu e eu,
que temos um nome,
e o nosso rosto,
à Sua imagem,
por amor de Sua vontade...

Avé, Mãe de todos,
por Sua vontade.
sejas Bendita!...

ouvindo Kimy Kota, e André Rieu, Ave Maria...

6ªfeira, a nascer com sol

Mafra, 5 de Setembro de 2014
7h20m
Joaquim Luís Mendes Gomes


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

oração da manhã...

da desgraça de cada dia...
Nos livrai hoje, meu Criador.
Pai Nosso. Ave Maria!
vossa bênção chova abundante.
esteja presente
cada hora, cada instante.
em todo o dia.
me faça ver cada passada
que eu der
seja para a frente
nunca para trás.
para fazer mal.
o que deu bem.
sinta fome de bem fazer.
abraçar o mundo
e saber viver.
segundo a ordem
do Teu querer...
ouvindo "claire de lune" e Claude Debussy em piano
amanhece piano e triste...esta 5ª feira doce...
Joaquim Luís Mendes Gomes

as minhas pestanas...

As minhas pestanas...
Minhas pestanas longas,
negras,
são como canas verdes,
na borda do rio.
baloiçando ao vento,
parecem indiferentes.
filtram o sol,
como duas cortinas...
ninguém consegue ver para dentro.
sem sua licença.
quem quiser passar o rio,
tem de atravessar a ponte...
e só conseguem mergulhar no rio
se elas o permitirem...
mafra, 3 de Setembro de 2014
21h26m
Joaquim Luís Mendes Gomes

*a solta...

à solta...

solto as asas
do meu pensamento
e vou voando livre,
sem tema algum.

ora subindo.
ora descendo.

como um condor,
nas alturas,
mirando a terra.
ou gaivota,
leve,
espreitando a presa.

tudo absorvo em mim
enquanto divago.

tantas clareiras,
sem nada à vista.

tantas sendas,
sem rumo claro.
tantas rotas
num mar sem fim.

tantos temas,
sem resposta à mão.
tantas portas,
que ainda falta abrir.

como ao condor,
arguto
e à gaivota atenta,
só cabe saber esperar...

ouvindo Leo Rojas - White Arrows

Mafra, 3 de Setembro de 2014
18h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes









terça-feira, 2 de setembro de 2014

fique om o troco...

fique com o troco...

preocupado.
coisas da vida.
sentei-me à mesa.

Uma linda sala.
bem decorada,
à moda antiga.
em fino gosto.

Lindos quadros,
pinturas de sonho.
com reis e povo.
amplas searas
montanhas de branco.
cataratas no rio.

grandes espelhos,
em mldura doirada.
candelabros acesos,
derramando luz.

vem o empregado,
de casaco branco,
muito aprumado.
como um senhor.

dá-me os bons dias.
esboça um sorriso.
seus olhos brilham.

- que vai tomar?
- um café curto, se faz favor.

abro o jornal.
fico a saber as últimas.
até que a bica chega.
com um rebuçado ao lado.

entro noutra onda,
que me alivia a carga.
por tão pequenino preço.

bendita porta aberta,
onde me senti alguém,
onde fui senhor,
onde se vê mais gente
e me fez feliz.

muito ou pouco...
porque não lhe deixar o troco
que o ajude a viver?...

Mafra, 3 de Setembro de 2014
o dia nasceu cinzento, mas vai abrir...

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

lang lang...

Lang Lang...

as palmas da assembleia soam.
como a chuva a caír do céu.

um vulto de escuro vem palco fora.
rumo a um piano negro.
faz uma vénia funda.
esboça um sorriso
e se apronta para tocar.

seus dedos começam a saltitar nas teclas,
puxando cordas que exalam sons,
em resposta exacta,
ao que sai da mente,
com um fulgor brilhante,
daquele jovem.
que nos transcende.

numa sequência harmónica,
que não é a dele,
tudo de cor,
mas a que escreveu Beethoven,
sob inspiração divina,
um diálogo infindo,
entre um piano
e uma grande orquestra...


  - como é possível,?!...
de estontear.

ouvindo Lang Lang no concerto nº1 de Beethoven
o dia ainda dorme a sono solto...

Mafra, 2 de Setembro de 2014
6h3m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 31 de agosto de 2014

da minha janela...

da minha janela...

desde manhã,
me apoio no parapeito
da minha janela, aberta.

fico à espreita.
e à espera.
tudo que mexa 
eu vejo, remexo e meço.

fico desperto.
meus olhos.
ouvidos
e sentidos escondidos.

melhor que radares.
de último grito.
seu servidor,
embora distante,
está sempre ligado
e atento.
como um farol.
sabe de tudo.
mais que a internet.
nada me cobra.

vejo as cores da natureza.
como elas se enlaçam,
fazendo figuras,
em movimento constante.

vejo as nuvens enormes,
que voam,
parecem dormir.
mudando de forma,
num pronto a servir.

e a bola de fogo
que vem lá do fundo,
uma fornalha esparzindo,
luz e calor, 
fogueira de amor,
um rio de lava benigna,
alimentando, 
sementeira de vida,
no chão e no ar.

oiço sonidos ocultos,
reais,
que passam correndo,
não sei donde vêm.
consolam-me a mente,
de música constante,
relaxam meus nervos
das cargas pesadas
que trago aos ombros.

e sinto, lá longe,
o cheiro do mar,
num baile sem fim,
baforadas frementes
das algas dançantes,
vestido comprido,
nos braços das ondas
que se espraiam na areia.

minha alma, mais leve,
fica orando e cantando,
voltada para a vida,
cheia de ânimo.
contando segundos e horas,
com outro sabor...

benditas janelas
que me ligam ao mundo
e me fazem viver...

ouvindo "sonata moonlight" de Beethoven, por Tiffany Poon

a noite, vestida de negro...

Mafra, 1 de Setembro de 2014
5h 47m
Joaquim Luís Mendes Gomes




sábado, 30 de agosto de 2014

aranguês....

aranguês...

nome de terra mágica,
tão bem pintado
por uma viola a arder
nos dedos divinos
dum filho de Lúcia,
uma portuguesa...

tem a cor do fado
ao fundo,
a alma profunda
que lhe dá luz
e o ser tristonho
de quem sofre de amor.

a leveza pálida
das terras do sul
onde os sobreiros vivem,
à borda do mar
e dum rio azul.

algarvia a Mãe,
Lúcia de nome,
um génio dela nasceu
e se fez aranguês.

glória de espanha
encantando o mundo,
abraçado às cordas
dum violão doirado
que ele dedilha
como um pintor...

ouvindo concerto aranguês
Por Paco de Lúcia

ainda é escura a noite

Mafra, 31 de Agosto de 2014
6h01m
Joaquim Luís Mendes Gomes

a solta na praia...

à solta na praia...

desamarrei as minhas mãos
e parti livre,
em busca do tempo
que perdi.

fui ao mar.
ver as ondas que chegavam.
e as saudades que ali deixei.

minhas mágoas eram tantas,
esbordou o mar,
com as lágrimas doces
que eu verti.

suspirei bem fundo.
enchi meu peito.
vi a madrugada
envolta em bruma
das labaredas todas
que eu soltei.

fiquei dormindo
sobre a areia.
de manhazinha,
ao sol nascendo,
havia tantas gaivotas
batendo as asas
como que a me chamarem.
um dia mais estava nascendo.
seriam horas de eu voltar...

seguindo adágio de albinoni...

Mafra, 30 e Agosto de 2014
2h4m
Joaquim Luís Mendes Gomes

no dia e que um filho faz anos...

no dia em que um filho faz anos...

dar um filho ao mundo
é o maior gosto da vida
que se pode aspirar.

e se, com a nossa bênção,
ele cresce feliz
e se faz homem de bem,

ó que poder sem preço,
quase divino,
Deus pôs na nossa mão!...

ouvindo Sarah Brightman , em
"Ó mio bambino caro"

Mafra, 30 de Agosto de 2014
16h34m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

sedução das colinas...

sedução das colinas...

donde me vem esta sedução pelas colinas?...

adoro as fragas. 

de muito íngremes.
com tantas refegas negras,
me cansam. me estonteiam.
apetece fugir delas.
me esmagam na pequenês de mim.

prefiro os vales.
onde, suaves,
deslizam os rios
e a vida se espraia,
verde e mansa.

mas, com o tempo, também cansam...

subo a encosta. extensa,
em ondas de terra.
como se fosse um mar.

não cortam os olhos,
não têm gumes.

são doces, banhadas de brisa.
nasce-lhe o feno em manta imensa

suavemente, me abrem seus braços,
me põe dançando.

as valsas do vento...
como se fosse em gelo,
com tanta graça,
com tanto brio.
fazem chorar.

me sinto ao colo quente
de minha Mãe...

oiço os silvos,
as melopeias.
o bater das asas
e o frémito em chama
das borboletas...

pintas de cor.
dum rubro em sangue,
salpicam o verde,
num mar sem fim.
meus olhos cintilam a arder,
com tanta luz...

minha alma sobe no ar.
um balão feliz...

ouvindo música suave variada

um sábado quase a nascer, ainda sem cor

Mafra, 30 de Agosto de 2014
6h17m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

sou assim...

sou assim...

tal e qual.
forte e muitas dobras de fraquezas.
um claro escuro,
a transbordar
de muita incerteza.

o meu caminho segue.
e nele eu vou,
tal e qual eu vim ao mundo.
muito de mim
não fui eu que fiz.

sou um fruto.
dum pomar com dono.
a semente.
não fui eu quem a botei.

tenho caule.
tenho copa.
brilho ao sol
e lá nos pés,
a minha raiz...

ouvindo Rachmaninoff, nº 2

Mafra, 29 de Agosto de 2014
7h28m
Joaquim Luís Mendes Gomes





procissão da vertigem...

a procissão da vertigem...

começou à hora,
a passar duma para a outra margem.

tanto andor, alto, colorido.
tanta gente de opa,
de fato inteiro
e de gravata.

tanta irmandade,
cada uma sua bandeira.

tanto círio e vela acesa.
cada um e uma
a cada ídolo.

há incenso e pétalas no chão.
e muitas pinturas rupestres
de cada lado das paredes.

sobem foguetes.
com fragor.
só fumaça e cheiro a pólvora seca,
sem nenhum estrondo.

há pálios e coros lúgubres,
entoando hinos descoloridos.
até palhaços ali vão aos saltos,
trepando loucos
à procura das cadeiras.

e a fechar,
aqui vou eu,
e, garbosa e impante,
vai uma banda inteira
de pandeiretas...

ouvindo Mahler

amanhece a 6.ª feira, com ar cinzento

Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

a muralha...

a muralha...

um campo aberto,
exposto ao vento.

um monte ao alto,
cercado de céu.

um mar infinito,
caiado de cal.

uma alma imortal,
de asas quebradas.

um castelo de sonho,
de muralhas rompidas.

ser e não ter,
viver a morrer,
amar sem viver
é sofrer duas vezes
uma vida perdida...

ouvindoRachmaninoff, piano concerto nº 2, por Yuja Wang
5ªfeira  clarear
Joauim Luís Mendes Gomes



terça-feira, 26 de agosto de 2014

pequenos nadas...

pequenos nadas...

a vida é uma teia imensa
de pequenos nadas.
como aranhas a vamos tecendo.
uma volta em cada dia.

os primeiros,
arquinhos breves.
insignificantes,
muito breves,
mas  tão importantes.

num sítio certo,
ao pé da porta.
sempre presentes,
os pais à vista.

passadinhas curtas.
tudo mirando
de como faziam.
como falavam.
como sorriam.
como sonhavam.
na faina da teia
tão bem teciam.

suas alegrias.
suas tristezas.
seus bons exemplos.
tudo gravado,
me serviu para a vida.

esta manta longa
que ainda estou tecendo,
com as meadas de fio,
linda roca d´oiro,
que eu fui fiando.
da minha velha arca,
onde guardei o linho...

Mafra, 27 de Agoto de 2014
6h34m

está escuro o dia

Joaquim Luís Mendes Gomes

floresta dos desencontros...

floresta dos desencontros...

perdi-me na floresta dos desencontros.
foram tantos os desenganos
que a vida me ofertou.

tantas sendas e tantos escolhos.
tantos ventos me sopraram.
tanta falta de orientação.
informação errada.
tanto travão supérfluo.
falsos ditames
de gente enganada.

morreram de olhos vendados,
sem dar conta
da carga inútil
que carregaram sobre seus ombros.
para nada foi...

É outra e bem diferente
a Lei de Deus...

Mafra, 26 de Agosto de 2014
17h39m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

os estreitos...

os estreitos...

depois duma subida sinuosa,
numa via extraída à escarpa,
com o medonho fundo do abismo
sempre em ameaça,

é um alívio e um fulgor
passar um estreito,
onde, parece,
só caber um à vez

e lançar os olhos
na imensidão dum vale,
florido e remansoso,
onde reina a calma
e o nascer do sol.

tudo ficou para trás.
esquecido.
valeu a pena o que se sofreu.

a vida é assim.
tem escarpas e tem ravinas.
bem abundantes e inesperados
são os abismos.

por isso, temos braços,
fortes e abertos
e temos os pés,
a rasar o chão,
um sózinho,
por sua vez
e dois olhos bem abertos
a mostrarem sempre
o melhor carreiro.

aquele que leva seguro
até ao cimo,
onde um estreito,
se abrirá, de par em par,
e nos desvenda
a esperança do futuro
e um nascer de sol em cada dia.

ouvindo Alice Sara Ott ao piano, tocando Grieg

Mafra, 26 de Agsto de 2014
6h1m

o dia está a nascer lento e cinzento

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 24 de agosto de 2014

a sorte do dromedário...

sorte do dromedário...

baixou-se ao chão.
alijou a carga bruta e dono.
sacudiu as bossas e as orelhas.

e partiu, como passarão,
esvoaçando livre,
sobre as areias do deserto.

maldisse as horas de escravidão.
calcorreando percursos longos,
não tinham fim.

carregando sal,
em blocos de pedra.
e qual a paga?
um balde de água
e um punhado de erva.
em cada chegada.

agora, era seu o mundo,
a toda a hora.
lhe bastava a liberdade.
não tinha norte.
sua rota leve era o destino.

suas patas eram as asas
que o levariam a todo o lado.

cabeça erguida,
olhando ao longe.
sem o chicote bravo
a bater no lombo.

suas noites longas
seriam um sossego,
a contar estrelas.
lembrando a infância,
quando era menino.

dormiria a sesta,
onde houvesse sombra.
escolheria o oásis
para suas férias.

quão bem risonho
seria o futuro.

passaram dias.
passaram meses.
e uma névoa de sombra,
num crecendo lento,
lhe toldou o céu.

era a tristeza de se ver sózinho,
e não partilhar a sorte
da liberdade...

Mafra, 25 de Agosto de 2014
6h47m

o dia está a clarear...cinzento, mas irá desabrochar em sol


Joaquim Luís Mendes Gomes






sábado, 23 de agosto de 2014

é preciso experimentar...

é preciso experimentar...

descalços os pés no chão.
sentir as pedras picando.
esmurrar os joelhos
e cair de vez em quando.

lavar e voltar a caminhar.
nunca esquecer cada lição
que a vida dá.
manter a fé e ter esperança
no amanhã.

contar só com as forças próprias.
e as de quem nos mantem de pé.
dar a mão a quem dela precise,
aqui ao lado.

pedir desculpa e perdoar
quem foi atingido
ou ofendeu contrito.
sem guardar rancor.

não há ninguém só mau...
e o que for lá terá suas razões.
só Deus as sabe.

nunca falar de cor.
a memória é a faculdade
do esquecimento.

o rio do tempo
tudo lava com suas águas.
enquanto a terra girar connosco,
no vai e vem de cada dia.

Mafra, 24 de Agosto de 2014
6h50m

o dia está clareando envolto numa bruma de cinza

Joaquim Luís Mendes Gomes







iano doirado

meu piano doirado

corri dum lado ao outro,
as teclas todas do meu piano.
procurando uma,
a mais infeliz.

todas me sorriam.
cada uma no seu próprio tom.
desci das mais agudas,
tenrinhos ramos
que enfeitam as copas,
duma árvore com porte.

fui saltitando,
um passarinho com medo
de cair ao chão.

me ajudavam atentas.
com ar contente.

fui descendo.
cada vez mais grosso.
cada vez mais forte.

passei o dó.
pulei ao si.
e fui ao lá.
que me levou ao sol.

peguei em mim,
abracei o mi.
havia tanto
que eu não via.

e vim ao ré.
estava chorando.
ao pé do dó...

perguntei porquê.
- por não ser preta
a sua cor!
era dourado...
sei lá porquê.

ouvindo Lang Lang no concerto piano nº 1 de Franz List

Mafra, 23 de Agosto de 2013
21h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes


sexta-feira, 22 de agosto de 2014

harmonias vitais

harmonias vitais


uma calçada de pedras,
tapetando o caminho,
alinhadas no chão,
conforme seu perfil
e cor,
formando desenhos,
castelos e rios,
regala os olhos,
suaviza as passadas
e fabrica desejos
na alma.

uma dama velada
que passa,
sombrinha aberta,
de seda,
vestes compridas,
tecidas com arte,
cobrindo um corpo,
com formas gentis,
seguindo o passeio,
à moda do século dezoito.

o ar da manhã
dum dia a nascer,
banhado de sol,
subindo no céu,
derramando a vida
que nos faz
correr e sonhar.

uma escola primária,
caiada de branco,
e sombras de árvores,
banhada de luz,
com recreios seguros,
que se abre certinha
e deixa entrar
os meninos da terra
é celeiro de pão,
de paz e progresso.

uma ermida com cruz,
erguida no monte,
exalando orações,
suplicando a bênção
para as gentes e
sementeiras nascentes,
vivendo felizes.

um filhinho que nasce
dum acto de amor,
realizando o sonho
duma vida feliz
e cheia de cor.

aquela árvore vizinha,
à beira da casa,
coberta de verde,
com pássaros cantando,
quado nos viu a nascer.

os abraços e risos,
dos rostos que passam,
à frente da porta,
a caminho da feira,
saudando vizinhos,
como se fossem irmãos...

que quadro de sonho
dum mundo tão lindo,
onde valia viver!..

ouvindo Chopin, o dia a nascer

Mafra, 23 de Agosto de 2014
6h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes


alfabeto muical

alfabeto musical

soletro em mim,
todas as notas musicais.
e gasto todas as letras
que tem o alfabeto.

escrevo prosas
e escrevo versos.
sou um rio de notas breves,
a correrem soltas.

oiço acordes lindos
que vêm lá das estrelas.
solfejando hinos
de louvor
ao mesmo Deus
e Criador.

me chegam trovas
dum mundo ignoto
que eu não conhecia,
até ao dia em que a porta se abriu
e eu entrei.

fez-se a luz mo meu pensamento,
e comecei a ver claro
na escuridão.
como nunca eu só
poderia ver.

subi acima.
enxerguei montanhas
e vi colinas.
onde batia o sol
o dia inteiro.

e vi o mar, ao longe,
a adormecer...

as ondas vindo de mansinho
cantando notas
em tom tão fino.

me lancei ao mar perdido
e fui para o alto,
deixando a terra,
onde eu nunca mais
queria morrer...

ouvindo o concerto nº 4 de Beethoven, ao piano, por Hélène Grimaud

Mafra, caindo a noite,
22 de Agosto e 2014
21h05m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

cruz alta

cruz alta

cruz alta, erguida,
no cimo dos montes.
olhando em redor,
no silêncio do tempo.

Duas linhas apenas.
uma sobe infinita.
outra abraça sem fim.
ambas derramam a paz.

a vida terrena é finita.
só é infinita no céu.

Mafra, 22 de Agosto de 2014
5h 15m
Joaquim Luís Mendes Gomes

oratório

oratório

há um espaço pequeno,
no cantinho da sala,
ao pé da lareira.

um pequeno altar.
uma campânula redonda, em vidro.
uma imagem escultura,
do Santo Jesus dos milagres.

à volta, os retratos falantes
da minha gente passada.
Uma vela acesa.
queimando saudade
e exalando uma prece constante,
pedindo a bênção
para a casa.


ouvindo "siêncio" de Beethoven ao piano

7momentos, Mafra, 21 de Agosto de 2014
10h25m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

farmácia

armácia

cheia de estantes,
caixinhas e frascos,
uma serpente enroscada,
de cabeça esguia e felina.
em volta dum frasco,
no cimo da porta.

uma cruz cintilante,
sempre viva e acesa,
de portas abertas,
aparece nas esquinas
das ruas
em todas as terras.

senhora dos milagres.
semeando a esperança
na morte dos males
que assolam a vida.

mundo das químicas,
que as plantas nos guardam
e dão, em segredo.

Quem delas não gosta?...

Mafra, 21 de Agosto de 2014
7h39m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 19 de agosto de 2014

traços vermelhos

traços vermelhos

com traços vermelhos
se desenham perfis,
no firmamento estrelado
e o nome das gentes da terra
que sangram inocentes
na hora que passa.

nunca se viu tanto progresso
e tanta desgraça.
sobra riqueza no bolso de poucos
e falta o pão na mesa de tantos.

a violência mortal
e a maldade feroz
ensanguenta os fracos
pela mão dos mais ricos.
vorazes avaros,
sedentos e cegos.

tanto se estuda,
investiga e se lê.
a terra já não chega,
se avança para o espaço.

a ambição do poder
impera no mundo
não olha a meios.
desafia a lei natural.

quando será que se pára?

só o juizo final
do Senhor do poder!...

noite cerrada. não dá para ver

hotel Ibis, em Santa Maria da Feira
20 de Agosto de 2014
5h24m
Joaquim Luís Mendes Gomes


tarde calma

tatarde calma

tremo gelado
neste cair de tarde calma

as forças desfalecem.
perante esta enorme chuva de felicidade.

mme agasalho com uma manta espessa de silêncio
e oiço o cantar dos passarinhos,
neste bosque delicioso.

sorvo o ar que fervilha em borbotões.

Meus olhos esplandescem.
Como estrelas de alegria

afinal, é bom estar vivo
para viver a vida em abundância.

vermelha como o pôr do sol
sobre este mar calmo
quase dormente.

Irei dormir na paz dos anjos,
porque o céu é mesmo aqui ao lado.

hotel Ibis em Santa Maria da Feira,
19 de Agosto de 2014
29h38m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

no fio da navalha

no fio da navalha...

a vida não caminha em estrada larga.
por vezes, avenida formosa e florida.
outras, viela estreita,
sinuosa e escurecida.

deslizando lenta e suave,
em planície.
alcandorando fragas íngremes,
cheias de abismos.

nossa alma caminha nela.
ora cheia. de entusiasmo.
exalando sonho e fantasia.

ora tristonha.
fingindo cara alegre.
bem lá no fundo,
sem alegria.

sem um rumo claro
e um bom plano.
uma bússola, sempre à mão,
o mais certo é extraviar-se
por atalhos atractivos,
sedutores e luzidios,
no final,
são um desastre.

nada pior que a solidão,
por companhia.
se fica fraco.
absorto e uma presa fácil.

partilhar e conviver.
ouvir e dar.
areja a mente
e alimenta a vida.

ninguém tudo.
é no todo que
mora a riqueza.
o que me sobra
faz falta a alguém.

só assim,
tem gosto a vida.
que é sempre bela
e cheia de cor...

ouvindo Mozart, piano concerto, por Valentina Lisitsa

Mafra, 19 de Agosto de 2014
5h16m
.........
ainda escuro...não sei o que vai dar
...................

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 17 de agosto de 2014

fato completo

 fato completo


com a linha do meu pensamento,
fiz um grosso novelo,
enrolado às cores.

lancei o tear,
horas a fio.
saíu fazenda tão fina
que deu
para os fatos da casa
e ainda sobrou para oferecer
aos amigos do face,
a seu gosto e medida
e pronto a vestir.

O resto vai de encomenda
para os quatro cantos do mundo.
Basta pedir.

cada um seu feitio.

aqui, um terno,
a preceito.
camisa e gravata.

além, uma túnica,
larga e comprida,
voamdo à solta.

acolá um turbante,
tapando do sol
e da areia escaldante.

Ali, um sari,
de todas as cores,
colado ao corpo,
voando ao vento.

Das sobras e trapos,
teci uma manta,
a estendo no chão
reúno os amigos,
e com vinho e pão
e mais qualquer coisa,
passamos horas alegres,
cantando e sorrindo,
tocamos viola,
há sempre um fadista,
e jogamos às cartas,
madrugadas sem fim...

Mafra, 18 de Agosto de 2014
6h28m
........
já não está negro o céu
.........
Joaquim Luís Mendes Gomes




pisadas na areia...

pisadas na praia


abeirei-me do mar.
para molhar os meus pés.
as ondas suaves
chegavam em bando.
refrescavam-me as pernas
e meu corpo ardendo.

num lume tão brando
enchiam-me o peito,
me faziam sonhar.

minhas passadas molhadas
ficavam esculpidas
na tela da areia.
brilhando ao sol.

minha alma cantava
melopeias de amor.
uma chuva salgada,
caindo do céu.

havia gaivotas em bandos,
pairando contentes,
mirando mais fundo.
procurando alimento
para levar para o ninho.

voltei para casa.
peito tão cheio.
me estendi ao comprido
e fiquei a dormir...

Mafra, 17 de Agoto de 2014
19h19m
Joaquim Luís Mendes Gomes



sábado, 16 de agosto de 2014

transfiguração

Transfiguração...

rasguei o meu corpo
aos pedaços.
como se faz a um palhaço
ou a um boneco de trapos.

ateei-lhes o fogo
ficaram em cinzas.

atirei-as ao vento.
voaram no céu.
veio a chuva.
cairam no chão.
viraram sementes
de vinho e de pão.

foi o melhor que eu fiz.
sacio a fome e a sede.

palhaço ou boneco não sou...

ouvindo Mendelsshn

Mafra, 17 de Agosto de 2014

com o sol a subir

Joaquim Luís Mendes Gomes

tigre enjaulado

tigre na jaula...

espumando de raiva,
dum lado para o outro,
corro incessante,
feito maluco,
à procura da porta.

é tudo igual.
não vejo sinal
de fresta ou cadeado.
tudo cerrado.

olho para o céu.
por onde sair,
está carregado.
estou muito pesado.
um rasto comprido,
faltam-me asas.

só cavando uma cova.
bem funda,
em busca da veia.
o chão é de brita.

não vou desarmar.
o melhor é esperar.
algo aconteça.

um raio de sol.
derreta o arame.
um anjo do céu.
a chave apareça.

não é a primeira.

outras já foram.
piores do que esta.

o vento soprou.
a chama acendeu.
uma fornalha de fogo.
inflamou todo o mundo.

um lago de sonhos.
oceano profundo.
o sinto em mim.
é meu destino.
fera amansada.
carregado de fé.
é de lá que eu venho.
é para lá que eu vou.

ouvindo Brahms

Mafra, 17 de Agosto de 2014
7h9m

amanhecendo com promessas de sol

Joaquim Luís Mendes Gomes
GostoGosto ·  · Promover · 

ondas de vento...

ondas de vento...

adormeço com as ondas do vento,
queme entram docemente,
pelas minhas janelas dentro.

fazem-me sonhar
com outros tempos
e os ventos em tempestade.

os que derrubavam os ramos tenros
e as árvores que os seguravam.

davam lenha.
um regalo caro
que saía grátis.
era só apanhá-los
em grandes braçadas.
ó que regalo vê-los arder secos,
sem deitarem fumo.

e daquelas noitadas quentes,
à volta da lareira,
em família doce.

o avô ao canto,
dormitando alegre
com tanta paz,
vinda dos céus.

aquelas histórias
contadas com tanto ânimo.
dos antepassados
que se foram embora.

tanta saudade ali ardia.
tanta paz caía em cinza
sem faúlhas de maledicência.

brilhavam os olhos.
no rosto dos pais.
e nós pequenos,
fazíamos jogos
do esconde-esconde,
naquele espaço,
um mundo inteiro.

agora o vento
é vendaval.
tudo esfarrapa.
sem escolher a quem.

leva as telhas.
destroi em cacos
os trastes dos pobres.
poupando os ricos.

algo vai mal,
neste mundo sem rosto
onde reina o mal...

Mafra, 16 de Agosto de 2014
19h19m
 ao cair da tarde com sol

Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

rampa de lançamento...

Rampa de lançamento...

Abeiro-me, erguido,
em bicos de pés,
de braços abertos,
cada manhã,
e lanço-me à vida,
com tormenta ou bonançosa.

Espero o vento
e deixo-me ir nas suas asas.
por esse mundo.
desço, subo correndo
pelas encostas, pelas fragas.
sobre os abismos.

regalo estes olhos
com as cores
que matizam um quadro,
imenso e rico,
onde peleja a humanidade.

traço rotas nos escaninhos do pensamento.
oceano inesgotável
que banha nossa alma.
onde abundam sonhos lindos
em cardume.

declamo alto os meus versos.
umas vezes ricos,
e muitas, muito pobres.
que me brotam em brasa,
cá de dentro,
com a mensagem
que na hora me ressoa.

Fico orando cheguem sempre
ao sítio certo
e, humilde e grato,
fico à espera de ouvir,
dum só que seja,
um brando eco...

Mafra, 16 de Agosto de 2014
6h31m
Joaquim Luís Mendes Gomes

minhas alegias...

minhas alegrias...

São muitas.
Arremessei ao mar minhas tristezas.
Fiquei leve.
Pesavam em mim.
Pareciam chumbo.

andava de olhar soturno,
preso ao chão.

como um devedor
que não consegue pagar
as suas dívidas.

Fui ao meu passado.
corri todos os meus caminhos,
onde, uma vez ao menos,
eu fui feliz.

desde meus tempos de menino,
até às horas soltas da brincadeira,
no regresso da minha escola.

Quando ia aos ninhos
ou saltava o muro das quintas fidalgas,
onde a fruta era de graça
e era divina.

Aqueles banhos à pai adão,
nas enseadas largas
do nosso rio.

Das guerras à pedra,
onde vencia só
o mais ladino.

Das noras da rega,
que nós enchíamos
e nos levava em voo,
por umas horas.

E as escaladas às arvores mais altas,
tudo a pulso,
até ao cimo.

E das corridas a pé,
a toda a brida...
onde quem ganhava
era um herói.

E, por aí fora,
foram tantas minhas alegrias,
me sobram saudades
do tempo delas...

Mafra, 15 de Agosto de 2014
22h3m
Joaquim Luís Mendes Gomes

espaços vazios...

espaços vazios...

há espaços na nossa alma,
tão vazios,
nenhum oceano imenso
os consegue preencher.

os que o tempo
nos foi levando,
como vento
em tempestade.

só de novo,
os perfumes da primavera,
com flores
ou as cores de outono,
em chama,
e os sabores,
acri-doces
da sua fruta.

nem um mar de ondas,
das pradarias,
alegrarão
os nossos olhos.

e suas brisas breves
suavizarão
as nossas lágrimas.

só o regaço quente e terno
da nossa Mãe
seria capaz de os saciar.

agora, só a sua bênção
lá dos céus,
será o consolo,
adequado e puro
para que esta vida
nos continue a fazer sonhar...

Mafra, 15 de Agosto de 2014
14h00

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

é preciso parar...

É preciso parar...

Se caio em mim,
de olhos fechados
e olho para trás,

ó que aridez.
ó que vazio.
ó que deserto!...

Esquadrinho o mar e suas águas,
só encontro algas,
e ondas meigas que me banham os pés.

me lanço ao rio
e vêm os cardumes,
em correria,
para me abraçarem.

me elevo ao ar,
num balão de fogo.

fico pasmado
com a terra leve
que voa lá em baixo.

se caio em mim,
de olhos fechados,
e olho para trás,

ó que aridez.
ó que vazio.
ó que deserto!...

ouvindo sonata nº 2 "moonlight" ao piano de Beethoven por Valentina Lisitsa

amanhecendo, com um ténue e brando céu de nácar

Mafra, 15 de Agosto de 2014
6h47m
Joaquim Luís Mendes Gomes

até ao fim do mundo...

Até ao fim do mundo...

Irei até ao fim do mundo
para ver reinar
a felicidade total,
num paraíso tal,
como imagino.

Onde o sol nasça
e brilhe igual
para todas as casas.

Onde o mar dê peixe de sobra
a todas as bocas.

E a terra dê pão e vinho
que cheguem para todo o ano.

Onde não haja secas
nem ciclones mortais,
nem tsunamis.


Que cada um cresça
segundo os dotes
que lhe deu a Natureza.

Se for artista em qualquer arte,
sua obra fique brilhando
e alimente a alma sedenta
de quem quer ser
sem o poder.

Se for cantor,
sua voz ressoe canções
tão lindas...
até os anjos desçam
para as escutar.

Se for actor, de palco,
ou de cinema,
simples fotógrafo
ou retratista,
seus passos e seu olhar
sejam certos
e tão reais
como a vida o é
para quem a vive.

E minha alma volte
acesa em brasa
e ateie chamas
por todo o mundo
com o amor divino
que lá reina,
em estado puro.

ouvindo concerto para piano de Grieg
 a partir do youtube, por Alice Sara Ott


 Mafra, 14 d Agosto de 2014
21h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Ave Maria...

Ave Maria...

Ave Maria das naus e caravelas
das nuvens no céu
e das estrelas.
Dos mares e continentes
que enchem esta Terra.

Sois mais bela que as estrelas
e todo o firmamento
que é tão belo.

Deste vida terrena ao Criador..,
Como mulher és Rainha
no Reino eterno do Senhor.

ouvindo Ave Maria de Schubert, por Lang Lang

madrugada a abrir em flor

Mafra, 14 de Agosto de 2014
5h54m
Joaquim Luís Mendes Gomes

grândola, vila morena...

Grândola, vila morena...
Acabamos de chegar do almoço em Grândola. Verdadeiramente, uma vila morena e terra de fraternidade. Aliás como todas as vilas alentejanas.
Têm todas o mesmo figurino. Suas casas baixinhas, de paredes brancas afitadas,ao longo das ruas esquadrinhadas, sempre com um renque de árvores de sombra e carregadas de flores, no tempo delas.
Ao centro, um lindo jardim, muito bem cuidado, cheio de bancos e estâncias, para o convívio .De novos e anciãos.
Uma casa de repouso a sério para os reformados, erecta pela solidariedade local, através duma associação de reformados, levada a sério.
E muitas casas de repasto. Primoroso no seu cozinhar alentejano.
Fomos ao do costume." A Coutada".
Íamos om a dúvida sobre se hoje estaria fechado. Mas não. Estava em pleno funcionamento.
Fomos os primeiros clientes a entrar na sala. O rapaz começou então a abrir as luzes nos candelabros.
Uma sala airosa. Fresca.
Veio a ementa. Meus olhos devem ter faiscado. Quando deram com o " cozido" na ementa.
Me lembrava do último há uns bons meses.
Chegou a travessa.
Não vos digo nada.
Começámos a debicá-lo. Religiosamente. fazendo-o render o mais possível.
Impossível encontrar-se outro melhor...Sério!
.
Em sabor. Qualidade das carnes, das hortaliças...Uma variedade rica. Um verdadeiro primor.
E o vinho tinto da casa. Em cantarinha!?......
Só indo lá...e ver...
O preço. Nem vos digo. Escandalizava-vos. Muito em conta.
Às quartas-feiras...de vez em quando, lá estaremos de novo.
Porque, só com poesia, a coisa não vai...