sábado, 31 de maio de 2014

fiz-me ao mar...



Fiz-me ao largo...

Alheio às vagas,
Fiz-me ao mar.
Fui para o largo.

Sem artes,
Sem redes.
Desarmado.
Uma vontade louca
De me ver solto.

Olhar de longe a terra,
E sua costa extrema,
No silêncio.
Pacata e submissa.

Ignorar as suas guerras.
Suas arruaças.
Como das estrelas
Eu estou alheio.

Ver nela o nascer do sol.
E se erguer para um céu azul.
Quero afastar-me,
A perder de vista.
Ficar só eu
E a vastidão do mar,
Uma parcela do infinito.

Vou começar de novo,
Do lado de lá.
Ganhar raízes,
Noutro chão puro.

Onde não haja ruas,
Mortas,
A fervilhar de carros,
Nem torres ao alto,
Só com janelas.

Colmeias vazias,
Estéreis,
Sem favos e sem abelhas.

Onde a rainha seja só
A natureza virgem,
Prenha de paz.

Quero viver na terra,
De pé e nu,
Como vim ao mundo
E começar do nada.
Ser pai Adão com nova Eva...

Berlim, 1 de Junho de 2014
6h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes


olhos da alma...

olhos da alma...

A lua e o sol
São os olhos da Terra.
Por ela vê de noite.
De dia, pelo sol.

Nossa alma tem um corpo.
Sua nave.
Ela o move.
Com ele voa por toda a vida.
Por ele, respira e vê o mundo.

Tem dois faróis.
Que ela acende
Ao nascer do dia.
E os apaga
Ao cair da noite.

Guia seus passos.
Em todo o caminho.
Sentinelas alerta
Contra o inimigo.

Lhe conta histórias
De rir e chorar.
Duas janelas abertas,
Para ver o mar.

E duas fontes santas,
Para lavar o rosto,
Quando a dor chegar.

Ouvindo Brendan Perry

Berlim, 31 de maio de 2014
22h17m
Joaquim Luís Mendes Gomes







varina da Torreira...

Varina da Torreira...


Agora, está velhinha.
Vive na mesma casa baixa,
De azulejo azul,
Desde nova,
Em frente ao mar.

Perdeu seu companheiro.
Toda a vida foi pescador.
Um dia ele foi...
E não mais voltou.

Ela chora...chora...
Passa o tempo,
Ali de pé.
Olhando ao longe.
Olhando o céu.

Pode ser que ainda volte.
Aquele amor que ela perdeu.

Tem tantas ondas aquele mar...
Uma delas o levou.
Pode ser que haja outra,
Sua vizinha,
Lho venha cá trazer.

Berlim, 31 de maio de 2014
12h00

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 29 de maio de 2014

quatro ramos cardiais



Quatro ramos cardeais...

Do meu tronco exposto ao sol,
Brotaram quatro ramos.
Me cobriram de muitos ramos,
Flores e frutos.
Fiquei à sombra.

Cada um a seu ponto cardeal.

O do norte, braços erguidos,
Muito alto,
Com pés na terra,
Olhos no céu,
Muito pujante,
Cheio de sonhos,
Não pára quieto.
Sempre a crescer.

Vive em pleno.
Tem ligações.
Para lá das nuvens.
Para além do Ártico.
Vive encantado.

Adora o polo branco
E sua aurora boreal...

O do leste
É cheio de fogo.
Ramificou-se em força.
De dois botões.
Cheios de cor.

Tão rutilantes.
Tão perfumados.
Vieram tardios.
Dão tanta esperança.
Brincam alegres.
Graças de Deus.

O do sul é esbelto
E esguio.
Raia de sol.

É verdejante.
Muito moreno.
Sempre escaldante.
Muito tenaz.

Atravessou o deserto.
O Equador.
Rumou ao Cabo.
Passou as tormentas.

Dá tantas flores
Cheias de fruto,

Ó que sabor!...
Não há tempestade,
Nem arruaça.
Que o faça parar.

O último nasceu tardio.

Muito seguro,
Bem preso ao tronco.
Muito calado.
Muito arguto.
Observador.
Tudo medita.


É metafísico.

É tão profundo.
Desvenda segredos,
Tão bem escondidos...
Do princípio do mundo.

Ninguém mais viu.
O futuro dirá
Onde irá chegar...

Berlim, 29 de Maio de 2014
20h44m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 27 de maio de 2014

perdido no vento...

Perdido no vento…

 

Ando perdido no vento,

No tempo

E no mar.

Folha seca duma árvore madura.

Barco sem velas nem remos,

Fugindo das ondas.

Ao sabor das correntes.

Alcanço meu porto,

Por portas travessas.

Um balão que encheu

E tem de poisar.

Ave canora de asas feridas.

Não canto lamentos.

Só louvo hossanas

Pela luz que me dá.

Andorinha emigrante,

Que regressa a seu ninho.

Um vaso de barro,

Onde crescem flores.

Um pedacito de mundo

Perdido no espaço.

Uma simples areia,

Das praias que há.

Escrevo meus versos

Com tintas de cor.

Faço rabiscos

Com lápis de cera.

O vento mos leva…

A chuva os apaga…

Quando e onde quiser.

Berlim, 27 de Maio de 2014

2034m

Joaquim Luís Mendes Gomes

arruaças...

Arruaças…

Há arruaças benfazejas.

Levantam o pó.

Às vezes cascalho.

Tombam as árvores.

Sempre as mais fracas.

Enxotam as moscas.

Deixam marcas,

Mesmo no chão.

Deixam saudade.

Outras que não.

Destilam o mal.

Por todos os poros.

Fazem doer.

Vêm dos fracos.

Nos tocam de perto.

Sabem a fel.

Trazem desgraças.

Nunca esperadas.

Feitas de lama.

Não há chuva,

Por mais forte e fria.

Não há vento,

Nem ciclone.

Nem o sol as seca…

Só o tempo…árido,

Com muitos séculos…

Berlim, 27 de Maio de 2014

17h9m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 26 de maio de 2014

anda música no ar...

Anda música no ar.

Neste fim da tarde.

O vento faz bailar as árvores.

O sol faz sorrir suas folhas.


Canta o passaredo.

Feliz,

Por se recolherem nos ninhos.


No meu coração,

De lusitano,

A saudade canta.


Oiço ao longe,

Cantar o fado.

"Ai mouraria"

"Ai Alfama"

e a Madragoa…


Nas ruas do Porto,

Há algazarra e há folguedo.

Gente alegre,

Mesmo sem cheta!…


O milagre da sabedoria.


A riqueza está na vida

Do dia a dia.

Com seu Douro. Bailarino.

Tão contente por chegar à Foz!…

Vem lá da Régua,

Tocado a vinho.


E o Alentejo extenso,

Pacato e soalheiro.

Seara de pão.

E tem cá um vinho…

Com tanta raça…

Sabe a mel.


E o licor beirão

A faiscar na taça,

Parece sangue…

Quase divino.


E o verde vinho,

Espumando a mar.

Videiras rainhas,

Em altas ramadas.


Ó companheiro nosso!

A sair da pipa,

Lá nas adegas…

Quem te provou,

Estremeceu de gozo.

Tanto gostou.

Jamais esqueceu.

E o salpicão em cachos,

Negros do fumo de pinho.

Os olhos ardiam.

Agora choram…


Minha vingança é a saudade.

Só quem está fora.

É quem a sente!…

Ouvindo Bill Douglas uma vez mais…

Berlim, 26 de Maio de 2014

21h41m

Joaquim Luís Mendes Gomes

anda música no ar...

Anda música no ar.

Neste fim da tarde.

O vento faz bailar as árvores.

O sol faz sorrir suas folhas.

Canta o passaredo.

Feliz,

Por se recolherem nos ninhos.

No meu coração,

De lusitano,

A saudade canta.

Oiço ao longe,

Cantar o fado.

"Ai mouraria"

"Ai Alfama"

e a Madragoa…

Nas ruas do Porto,

Há algazarra e há folguedo.

Gente alegre,

Mesmo sem cheta!…

O milagre da sabedoria.

A riqueza está na vida

Do dia a dia.

Com seu Douro. Bailarino.

Tão contente por chegar à Foz!…

Vem lá da Régua,

Tocado a vinho.

E o Alentejo extenso,

Pacato e soalheiro.

Seara de pão.

E tem cá um vinho…

Com tanta raça…

Sabe a mel.

E o licor beirão

A faiscar na taça,

Parece sangue…

Quase divino.

E verde vinho,

Espumando a mar.

Videiras rainhas,

Em altas ramadas.

Ó companheiro nosso!

A sair da pipa,

Lá nas adegas…

Quem te provou,

Estremeceu de gozo.

Tanto gostou.

Jamais esqueceu.

E o salpicão em cachos,

Negros do fumo de pinho.

Os olhos ardiam.

Agora choram…

Minha vingança é a saudade.

Só quem está for a.

É quem a sente!…

Ouvindo Bill Douglas uma vez mais…

Berlim, 26 de Maio de 2014

21h41m

Joaquim Luís Mendes Gomes

indiferença...

ndiferença…
Passar ao lado, à frente
E ficar para trás,
Dum ser amigo,...
Sem ouvir um olá,
Sequer…

Dizer adeus e nada
A quem fingiu
Na hora exacta,
Olhou para o lado
Ouviu
E virou a cara.
Bater a porta,
A quem bateu,
Para matar saudades
E dizer olá,
A quem, lado a lado,
Andou connosco,
A caminho da escola,
Na sala de aula,
Sector da fábrica
Ou da academia…
A quem a sorte
Encheu o bolso,
Com totoloto,
Roda da sorte,
Ou com sorte da bolsa,
No mesmo dia.
Ou saíu general inútil,
De tantas estrelas,
Naquela tropa,
Não servem para nada,
Mas está convencido
Que é um rei de copas
Ou pior de oiro…
Ficou doutor, com um manuscrito,
Tão bem escrito,
Tudo somado,
Não serviu
Para nada.
Se fez clérigo opaco,
Com colarinho branco,
Usou batina, preta,
E , com muita arte,
Chegou a cónego…tão infeliz!
Queria ser bispo!…
E, cheio de posses,
Dizer que não
Ao próprio irmão,
Com dificuldades na vida
De que não tem culpa,
E lhe estende a mão,
A pedir ajuda…
Mais que indiferença.
Mais que tristeza.
É maldição!…
Não tem desculpa.
Só tem perdão
de quem for capaz....
Berlim, 26 de Maio de 2014,
17h56m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 25 de maio de 2014

alegoria...

Alegoria do rio…
Bem no fundo de mim,
 Desde sempre,
 Corre um rio,
 De águas profundas.
 Nele me banho a toda a hora.
 Onde nasce. Donde vem
 E por onde passa,
 Eu não sei.
 É tão vizinho.
 Vive para mim.
 Ele me enche,
 Inteiro,
 Como minha parte.
 Me atravessa a alma
 E todos os poros
 Deste corpo opaco e nu.
 Me lava a pele
 E me inunda.
 Me refresca, vivifica
 E me acalma.
 Em cada passo.
 Nele pesco meu alimento.
 Nele vou a toda a parte.
 Seu leito
 É o meu barco.
 Suas marés cheias
 Me fertilizam
 E me alisam todos os escolhos.
 Dá-me praia,
 Sol e sombra,
 Nas suas margens.
 Me encanta
 Seu gorgolhejar constante.
 Por entre as pedras
 E os arbustos.
 Faz recortes e enseadas
 Na minha vida.
 Onde acontecem
 Meus encontros.
 E há trocas livres,
 Sem mercado.
 Tenho afluentes certos
 Que me esperam com saudades.
 Seus matizes tão variados
 São meu sustento.
 Damos as mãos
 E lá vamos de braço dado,
 Rumo ao porto
 Onde nos aguarda em festa
 O mesmo Mar…
Berlim, 26 de Maio de 2014
 5h54m ( já nasceu o sol…)
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 24 de maio de 2014

sermão da montanha...

Sermão da montanha…

Não subo à montanha,

Nem prego semões.

Não visto fardas.

Nem opas de igrejas.

Sem distintivos na minha lapela.

Não sirvo clubes

Nem nenhum partido.

Enchi o meu espírito

Com luzes nascidas

Nos alvores do Marão.

Com rocha,

Granito,

Cobertos de musgo,

Onde crescem as urzes,

Há lobos vadios

Que louvam a Deus.

Minha estrela é polar,

O cruzeiro do sul.

A lua de Agosto,

Em noite de breu.

O sol me ilumina e me aquece.

Me banho no mar.

Respiro a brisa

Em ondas de espunha.

Me visto com algas,

E durmo no chão.

Não tenho automóvel.

Nem sigo as estradas.

Sigo caminhos trilhados

Por feras ou rebanhos

Perdidos que só vivem ao ar.

Oiço as aves rapinas

Pairando nos ares,

Às voltas na vida,

Fazendo seu ninho,

Buscando seu pão.

Como carcaças silvestres.

Amoras das negras,

Que nascem maduras

No meio das silvas.

E cachos de uvas

Que nascem bravias

No meio das fragas.

Não servem para vinho.

Mas são como o mel.

Não ando descalço.

Trago sandálias de couro

E de pele.

Um manto de trapos,

Com um cinto apertado,

Me cobre e me tapa.

Não uso camisa.

Não ponho gravata,

De inverno e verão.

Meus cabelos

E barbas grisalhos,

Soltos ao vento,

Me pendem à frente

E ficam para trás.

Levo um cajado,

Por causa das feras.

Encho o cantil

Com água das rochas

Faço fogueiras,

Asso maçarocas de milho,

Sabem a pão.

Não tenho relógio

Nem conto o tempo.

Nem somo os dias e noites,

Que nascem e morrem

Sem mim,

Caídos do céu.

Minha alma sem penas,

Afastada do mundo,

Voa tão livre,

Com asas de sonho.

Meu corpo cansado,

Dormita,

Estendido no chão.

É assim que eu vivo

Não prego nem oiço sermões…

Ouvindo Bill Douglas

Bberlim, 25 de Maio de 2014

7h9m

Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado diferente...

Sábado diferente

Vim escrever para a varanda.

Na manhã deste Sábado de Maio.

Vejo os carros na rua correndo.

No rosto uma brisa fresca e suave.

Oiço as aves cantando.

Rolas, pombas e melros.

Entoam os mesmos trinados,

Em língua

Que todo o mundo entende.

Seguem aviões pelo alto,

Rasgando estas nuvens cinzentas.

Numa correria constante.

Deixa toda a gente indiferente.

Vejo cartazes espalhados.

Anunciando as eleições

Que aí vêm.

Os mesmos sorrisos de rostos.

Com promessas que nunca se cumprem.

Chegam-me toques de sinos,

Entre este ruido constante.

Me lembram que os passos que damos,

Por mais voltas que dermos,

Se passam entre a terra e o além…

Há compassos de espera,

Forçados,

Diante dos semáforos que caem.

Os carros se quedam especados.

Diante duma simples bola vermelha…

Como cavalos amestrados.

Lá dentro,

Os donos cerram os dentes…

 

Berlim, 24 de Maio de 2014

8h20m

Joaquim Luís Mendes gomes

terça-feira, 20 de maio de 2014

promessas...

Promessas…

Há promessas desgraçadas.
Mais ameaças.
Vêm do fundo dos tempos.

Nunca foram
Nem serão cumpridas.
É nossa sorte.
...
Outras são bem aventuradas.
Já são dádivas.

Vêm inscritas no coração
Desde a origem.
A nossa marca.

Das primeiras,
Não temos a chave.

Inacessíveis.
Mui bem guardada.
É nossa sorte.

Das segundas,
Estão confiadas
À nossa vontade.
É só abri-las…

Quem não almeja a felicidade?…

Ela nasce verdejante,
Em cada dia,
Quando nasce o sol.
É só esperá-lo.

Vem na brisa doce
Que vem do mar,
Ao amanhecer
E ao cair da tarde.
É só buscá-la.

Vem no desabrochar em festa,
Duma flor garrida.
É só hauri-lo.

Até no lagido aflito
Duma criança
Ao vir ao mundo.
É só esperá-lo.

E no abraço ardente
Da esposa em casa,
Há tanto ausente,
Na nossa chegada…
É só abrir-se.

Bem aventurados quantos,
Com toda a esperança,
Tudo fizerem,
Nas suas vidas
Por as merecerem…
Serão cumpridas!

Berlim, 21 de Maio de 2014
6h31m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 19 de maio de 2014

viveria outra vez...

Por mim...

Se pudesse, voltaria a nascer,
No dia seguinte,
Depois de morrer.

Escolheria o meu Pai Joaquim,
Minha Mãe Leonor.
Queria o meu berço
E a minha escola,
Em Pedra Maria,
De campos e montes,
Fontes tão puras,
E um ribeiro escondido,
Um cruzeirinho à porta,
Com uma capelinha ao pé.

Os mesmos verões e invernos
Com madrugadas acesas,
E serões de luar.

Com rezas do terço
E às almas partidas,
De sangue ou vizinhas,
Que já foram nossas.

Aquela escolinha ao sol,
O recreio
Parecia uma eira,
Brincando felizes
Como o milho a secar.

Aprendia a ler e escrever.
Até onde pudesse chegar.
Aprendia uma arte,
À medida das mãos.
Que me permitisse viver.

Escolheria os caminhos,
Por onde devia passar,
Com a bênção de Deus...
Tal como os amigos,
Na vida,
Podiam ser os mesmos
Ou outros,
Desde que me merecessem amar...

Ouvindo Plácido Domingo
Berlim, 20 de Maio de 2014
7h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes



viveria outra vez...

Por mim...

Se pudesse, voltaria a nascer,
No dia seguinte,
Depois de morrer.

Escolheria o meu Pai Joaquim,
Minha Mãe Leonor.
Queria o meu berço
E a minha escola,
Em Pedra Maria,
De campos e montes,
Fontes tão puras,
E um ribeiro escondido,
Um cruzeirinho à porta,
Com uma capelinha ao pé.

Os mesmos verões e invernos
Com madrugadas acesas,
E serões de luar.

Com rezas do terço
E às almas partidas,
De sangue ou vizinhas,
Que já foram nossas.

Aquela escolinha ao sol,
O recreio
Parecia uma eira,
Brincando felizes
Como o milho a secar.

Aprendia a ler e escrever.
Até onde pudesse chegar.
Aprendia uma arte,
À medida das mãos.
Que me permitisse viver.

Escolheria os caminhos,
Por onde devia passar,
Com a bênção de Deus...
Tal como os amigos,
Na vida,
Podiam ser os mesmos
Ou outros,
Desde que me merecessem amar...

Ouvindo Plácido Domingo
Berlim, 20 de Maio de 2014
7h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes



quarta-feira, 14 de maio de 2014

o abraço...

O abraço...

Tem tanta força
Um só abraço.
Na hora certa.

Quem não experimentou?...

Ele rompe as pedras todas
Que atravancam o caminho....

Reduz a cinzas
As asperezas e atritos
Que, num dia errado,
Geraram as distâncias.

Semeia um tal calor
Que derrete o aço frio
Que reveste os corações.

Tudo arrasta,
Mesmo penedos,
Encosta acima.

Ergue para o ar
Os ramos pendentes
Que iriam morrer de murchos.

Dá força aos fracos.
Para serem fortes.

Robustece quem teve a força
De ser o forte
E dar o passo.

Perdoar na hora,
Pode parecer um passo em falso.

Uma vez dado,
Se vem do fundo,
Gera um perdão tal
Que para sempre esmaga
Quem feriu o nosso braço.

Ouvindo Smetana, em rio Moldau

Berlim, 14de Maio de 2014
22h37m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 13 de maio de 2014

as bermas da vida...

ida...

A vida é um caminho.
Mais ou menos longo.
Se conhece o começo.

O termo, 
Só há Um que o sabe bem.

Nada vem do acaso.
Vamos nele cumprindo um fim.
Para nosso bem
E bem geral.

Por vezes, é estreito e sinuoso.
Outras, recto e tranquilo.

Um mar sereno,
Onde, parece,
Nada acontece.

Muitas, desce
E custa a subir.

Tem escolhos,
Espinhos e pedregulhos.

Claridão de sol,
Um céu azul,

Por vezes, nuvens.
Luar de noite,
E noites cerradas.

Tem horas de alma
Plena de força
E esperança.

Outras cegas,
De bruma negra.

Não são senão as bermas
Deste caminho,

Longo ou curto,

Duma viagem,
Rica e boa
Que nos faz viver...

Ouvindo Smetana, em Rio Moldau
Berlim, 14 de Maio de 2014
7h4m
Joaquim Luís Mendes Gomes

as penas...

As penas...

A vida tem penas.
As penas têm cores.
Umas são negras.
Tais como nuvens.
Carregadas de chuva.

Outras são
De todas as cores.
Tais como as dos pássaros,
Parecem flores.

São miosótis.
São cor de rosas.
São colibris.
Umas não voam.
Exalam perfumes.
Outras esvoaçam.
Como cardumes.
Todas brilham
Ao sol.

Há-as que escrevem.
Parecem roletas.
Rodas da sorte.
Tentando quem passa.
Há-as que ferem
E fazem sofrer.
Canas de pesca
Dum mau pescador.

Há-as voláteis.
Se soltam no ar.
Bailam no vento,
Não sabem parar.

E as que matam.
Sem piedade nem dó.
Fazem sangrar.
Sem quê nem para quê...

As penas dos pobres
Não as sentem os ricos.
Se engana quem pensa
Que estes não sentem
Penas mais duras
Apesar da riqueza...
As  penas sem preço,
São tão terrenas,
Bem piores que a traça,
Tudo devoram...
Não há quem as mate.
Nem o dinheiro

Berlim, 13 de Maio de 2014
15h14m

Joaquim Luís Mendes Gomes