quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Tarde amarela...


esta tarde amareleceu suave.

mais lento que nunca,
o sol desceu
e poisou terno,
no telhado da minha alma.

quis entrar e eu deixei.

servi-lhe vinho
como nunca provara.

sentou-se à mesa.
pus-me a contar-lhe a minha vida.
do passado até agora.

ouviu atento.

no fim,
de olhar doce e quente,
disse:

- a vida deu-ta Deus...
só a ti pertence
e teu é só o presente...

D'Ele é tudo.
Tu.
Teu passado, o presente e o futuro.


ouvindo Moldau de Smetana

Mafra, 24 de Setembro de 2014
17h16m
Joaquim Luís Mendes Gomes

tarde amarela...

Tarde amarela...


esta tarde amareleceu suave.

mais lento que nunca,
o sol desceu
e poisou terno,
no telhado da minha alma.

quis entrar e eu deixei.

servi-lhe vinho
como nunca provara.

sentou-se à mesa.
pus-me a contar-lhe a minha vida.
do passado até agora.

ouviu atento.

no fim,
de olhar doce e quente,
disse:

- a vida deu-ta Deus...
só a ti pertence
e teu é só o presente...

D'Ele é tudo.
Tu.
Teu passado, o presente e o futuro.


ouvindo Moldau de Smetana

Mafra, 24 de Setembro de 2014
17h16m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 16 de setembro de 2014

caminhos paralelos--

Caminhos paralelos…

Andamos neste mundo,
Como num deserto de caminhos paralelos.
Nos cruzamos.
Saudamos.

Fazemos nossas compras,
Nossas oferendas,
nos brindamos.

Nos aliamos em braço dado.
Cada par, em sua senda.

Nos amamos.
Nos embriagamos de perfumes.
Geramos os nossos frutos.
Os elos desta cadeia d’oiro.
Não tem mais fim.

Sonhamos dos mesmos sonhos
E também dos pesadelos.

Carpimos de lágrimas
Os nossos mortos.

Que cortejo longo,
A vaguear em festa,
Por este mundo.

Nos alegramos com o bem dos outros
Como eles de nós próprios.

Sempre à espera de melhores dias.

Foi assim que o Criador fez
Este relógio.
E o sustenta com a corda
Que só Ele dá…

Mafra, 15 de Setembro de 2014
14h7m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sótão das ideias e velharias

Sótão das ideias…e velharias

Cansado. Esgotado.
Deste deserto à volta.
Subi ao sótão
Das minhas ideias,
Passadas ou esquecidas.

Remexi caixotes.
Estavam por idades.
Infância.
Adolescência.
Juventude.
Maioridade.
E, ainda vago,
já lá está o da senectude.

Um a um, os vasculhei.

Lá estava o berço
Que me embalou.
Em meia lua.
Um baloiço em pau.
Azul de mar.
Já desmaiado.
Veio de trás.
e serviu para mim.

Meu cavalo de pau.
De olhos redondos,
Muito luzentes.
E tinha orelhas.

Meu ciclista alegre,
duma roda só
Que eu empurrava,
Com velocidade.

A minha fisga.
Onde afinei a pontaria ao longe.
Que me serviu para a vida.

O meu pião. Bojudo.
Tinha cá um bico!...
E o das nicas.
Todo lascado.

As minhas botas.
Leves. Feitas à mão.
Iam comigo a todo o lado.
Que bem corriam.
Coladinhas ao chão.

O triciclo de madeira
Que o joão alfaiate
Me construiu…
O patrão e mestre.
Era o meu pai.

Uma gaita de beiços.
Onde eu dobrava.
Modinhas da terra.

Até um caniço.
Que eu fabriquei à mão.
Em paus de vime.
E apanhei pardais.

Lá estava o tercinho.
Bolinhas pretas.
Cinco mistérios.
E ave marias.

Meu livro de missa,
Com orações.
Que lindas eram.
Falavam do céu,
Onde não havia estrelas
E morava Deus…

Ouvindo “serenata de Schubert” “Claire de lune”de Debussy, a partir do youtube

É madrugada…já trovejou

Mafra, 16 de Setembro de 2014
5h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes

de regresso à minha aldeia---


de regresso à minha aldeia...

faço preces a Deus
por cada migalhinha de pão
que como na minha aldeia.


por cada passo que dou
nos caminhos que pisei
desde a casa onde nasci,
à escolinha e à catequese,
que me deram a luz
para a vida inteira.

por cada abraço,
cada sorriso,
que me dão,
com tanta alma.

em cada canto
e cada esquina,
cada monte e cada campo,
há uma história linda
que eu não esqueci.

até a chuva e a trovoada
me têm o sabor das alvoradas
e dosanos quentes
que aqui vivi.

são as mesmas
todas as rendas
das serras altas,
todos os vales,
aqui em redor,
de Santa Quitéria
ao Marão.

as mesmas cruzes
e campanários,
tantas ermidas brancas,
por aqui espalhadas,
pedindo ao Senhor
a sua bênção.

foi aqui que eu vim ao mundo.
cresceram minhas raizes.
aqui venero a mesma Senhora
de Pedra Maria
que me acompanhou por todo o lado.
Sua bênção minha Mãe!...

e casa de minha irmã

Padra Maria, 17 de Setembro de 2014
6h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 13 de setembro de 2014

sózinha na estrada

sozinha.
açafate à cabeça.
descalça na estrada,
vai pressurosa.
a caminhode casa
a fazer o almoço
para a pequenda
regalada da vida.
ente-se amada.

caregada de uvas,
vermelhas de vinho.
que regalo comer.

yodos dançando,
`volta da mesa,
yoalha de linho
corda do sol.
o´aravilha! é a vida a sorrir.


caixa negra...

Caixa negra…

Trago escondida no meu peito,
Mui bem guardada.
A caixinha negra do meu navio.

Tudo gravado.
Em fogo aceso.
Minhas horas boas
E também as más.

As boas eu lembro
E sei contar.
As outras, muitas,
esqueci para sempre.
Nem quero pensar.

Hão-de abri-la
Quando meus olhos baços
deixarem de abrir.

Hão-de lê-las.
E vão saber ao certo,
como sempre fui.

Tantos segredos
De bilhetinhos escritos
Que iam e vinham
De flor em flor.
No raiar da vida.

Tantos queixumes
De amores escondidos.
Tantos sonhos
que ficaram sonhos.

Uma vida toda.
Um romance lindo,
Com muitas folhas
Onde escrevi passadas
Que nunca dei.

Tantos anseios
E lágrimas vertidas.
O tempo agreste
Me murchava a vida.

Fiz-me uma árvore
Com muita ramagem.
De poucos frutos.

Mas será neles,
De sabor tão rico,
Que me vou vingar.

Deles cuidei,
Jardineiro atento.

Dei-lhes abrigo
Com muito calor.

Cresceram afoitos
Pelo ar acima.
Se fizeram gente
Que me faz feliz.

Foi assim mesmo
que eu fiz aos meus…

Mafra, 13 de Setembro de 2014
15h26m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

tudo a postos.

tudo a postos.

meu barco arfante,
de velas de pano,
está pronto a sair 
da barra do mar.

engalanado,
bailando,
vai partir sem destino.
à volta do mundo.

o sonho encantado,
de quando era menino,
sentado na praia,
olhando ao longe,
donde vinham as ondas
que fugiam do vento.

que é que haveria,
para lá do além,
da linha sem fim,
entre o mar e o céu.

a hora chegou.
na tarde da vida,
onde vivi marinheiro,
como um nauta,
sem bússola,
seguindo estrelas
que se estão a apagar...

minha chama de cá apagou.
quero acendê-la
noutra parte do mundo,
mas à beira do mar.

ouvindo Franz Liszt- Liebestraum

um dia a nascer

Mafra, 12 d Setembro de 2014
6h31m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

correndo à chuva....

sózinha. 
açafate à cabeça. 
descalça na estrada,

vai pressurosa.
a caminho de casa
a fazer o almoço
para a pequenada
regalada da vida.
sente-se amada.

carregada de uvas,
vermelhas de vinho.
que regalo comer.

todos dançando,
`à volta da mesa,
toalha de linho
corada do sol.

ó maravilha! é a vida a sorrir.

terça-feira, 9 de setembro de 2014

renascer...

o renascer...


minha janela branca devassada
dá para a escuridão da mata.
só o negrume se vislumbra
e o nada para lá daquele muro de pedra.

mas é de lá que vai nascer o sol
com a doce alegria de mais um dia.

verei o verde em chama do manta de copas
e o amarelado seco das duas encostas,
por onde cirando em paz,
os meus cavalos,
tão bons vizinhos.

verei moinhos argutos,
com as três pás brancas,
girando ao vento.

ouvirei o vento que chegou do mar.
vindo dos longes,
mais longe,
onde não havia gente.

verei a luz a chover em bátegas,
pintando às cores,
todas as aves.

e o amigo vizinho de cabelos brancos,
passeando o canito
e contando voltas
para bem das pernas.

tudo eu espero,
quando o sol nascer...

ouvindo Adagio for Strings de Samuel Barber, a partir do youtube

escuro de breu...

Mafra, 10 de Setembro de 2014
6h0m
Joaquim Luís Mendes Gomes

resgate...

o teu resgate...

vou vender tudo quanto tenho
para pagar o teu resgate.

aquele cordão de oiro maciço
que me deu o meu padrinho
pelo natal.

e as terras todas que herdei.
ao pé do rio.
onde a toda a hora
me vou banhar.

e aquela vinha de uvas doiradas
que enchem o meu lagar.

tudo eu vendo.

vou juntar o dinheiro.
que for preciso.

nem que seja uma fortuna.

vou de barco ou de avião,
ao fim do mundo
a buscar a tua mão.

para viver o resto da vida
contigo ao lado.

até à hora do sol pôr.

Mafra, 9 de Setembro de 2014
15h41m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

alfaiate sou eu...

alfaiate sou eu...

sou semente madura.
nascida da terra.
agarro-me a ela,
com unhas e dentes.

me enrosco lagarta,
com todas as patas
e loro e loro..
perdido, feito mineiro.

busco do minério mais puro,
que vive escondido,
para minhas mensagens.
busco as raizes
que medrem cá dentro.

quero dar fruto,
exposto ao sol.
busco as cores
que só no seu ventre
brilham no escuro
como estrelas do céu.

agarro-me a elas
com todas as forças
e teço fazendas
com que me visto.
eseciarias sem preço
para dar e vender,
na praça do mundo,
ao preço da chuva,
a quem as quiser.

trabalho à medida.
alfaiataria de mestre.
desenho os fatos
a giz e tesoura.
de olhos fechados.
conforme a hora
em que estiver a sonhar...

não aceito encomendas.
o traço dou eu...

Mafra, 8 de Setembro de 2014
19h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes





domingo, 7 de setembro de 2014

armado...invencível...

armado invencível...


armei-me até aos dentes.
com todas as armas
que arranjei.
umas, minhas.
outras, emprestadas.

lancei-me ao largo.
livre.
disposto a tudo.
até a matar
para não ser morto.

me desferiram um primeiro ataque.
defendi-me bem.
fiquei ufano.
convenci-me que era invencível.
como aquela armada
que foi ao fundo

nao foi preciso muito.
ao virar da esquina
um ligeiro ataque
traiçoeiro,
deitou-me ao chão
e desarmado.

vi-me perdido.
pensei no fim
ou na desgraça.
porque não a mim?...

minha fé, porém,
se acendeu em chama.
e acreditei ser mais um pesadelo.
e haveria de despertar.

clamei aos quatro ventos
como quem ora.

tive a esperança
na mão de Alguém...
me viesse acudir,
com força.

e na derradeira hora,
donde menos esperava,
a Sorte veio em força.
escorraçou o maligno...

me pôs de pé.
me pôs à porta
a chave e,
deslumbrado, eu entrei...


ouvindo the best of Chopin, a partir do youtube

Mafra, 8 de Setembro de 2014
4h53m
Joaquim Luís Mendes Gomes




tarde de domingo...

tarde de Domingo...


está azul o céu.
como há muito não.

há cavalos tranquilos a debicar o chão,
para mim,
de olhos baços,
só me restam
as nuvens a bailar festivas...

mais as copas verdes
duma mata em flor.

oiço acordes
duma música lenta
minha alma aspira.
e canta sonora.

louvores sem fim.
de louca a arder.

baladas tristes,
me chegam do fundo
dum mar profundo.
soam a eterno
dum amanhecer.

voo no ar
como se fora ave.
rumo ao infinito
do entardecer.

meu barco alado
de asas abertas.
parece uma gazela triste
a que abri a porta.

vou esbaforido.
se ninguém me alacançar,
darei a volta ao mundo.
e ficarei sonhando.

perdi tantos dias
neste porto morto.

só hoje me chegou o vento.

ouvindo Brahms piano concerto nº 2 por Baremboim
Mafra, 7 de Setembro de 2014
17h4m
Joaquim Luís Mendes Gomes







quinta-feira, 4 de setembro de 2014

ave Maria...

Ave Maria,
Senhora,
Mãe de Jesus!

Rei dos Reis,
Senhor deste mundo,
que é o nosso,
com todas as coisas,
umas, boas, belas,
outras, menos, muitas,
só na aparência,
porque Ele é justo
e todo poderoso...

criado por amor,
para seus filhos
que somos nós,
Tu e eu,
que temos um nome,
e o nosso rosto,
à Sua imagem,
por amor de Sua vontade...

Avé, Mãe de todos,
por Sua vontade.
sejas Bendita!...

ouvindo Kimy Kota, e André Rieu, Ave Maria...

6ªfeira, a nascer com sol

Mafra, 5 de Setembro de 2014
7h20m
Joaquim Luís Mendes Gomes


quarta-feira, 3 de setembro de 2014

oração da manhã...

da desgraça de cada dia...
Nos livrai hoje, meu Criador.
Pai Nosso. Ave Maria!
vossa bênção chova abundante.
esteja presente
cada hora, cada instante.
em todo o dia.
me faça ver cada passada
que eu der
seja para a frente
nunca para trás.
para fazer mal.
o que deu bem.
sinta fome de bem fazer.
abraçar o mundo
e saber viver.
segundo a ordem
do Teu querer...
ouvindo "claire de lune" e Claude Debussy em piano
amanhece piano e triste...esta 5ª feira doce...
Joaquim Luís Mendes Gomes

as minhas pestanas...

As minhas pestanas...
Minhas pestanas longas,
negras,
são como canas verdes,
na borda do rio.
baloiçando ao vento,
parecem indiferentes.
filtram o sol,
como duas cortinas...
ninguém consegue ver para dentro.
sem sua licença.
quem quiser passar o rio,
tem de atravessar a ponte...
e só conseguem mergulhar no rio
se elas o permitirem...
mafra, 3 de Setembro de 2014
21h26m
Joaquim Luís Mendes Gomes

*a solta...

à solta...

solto as asas
do meu pensamento
e vou voando livre,
sem tema algum.

ora subindo.
ora descendo.

como um condor,
nas alturas,
mirando a terra.
ou gaivota,
leve,
espreitando a presa.

tudo absorvo em mim
enquanto divago.

tantas clareiras,
sem nada à vista.

tantas sendas,
sem rumo claro.
tantas rotas
num mar sem fim.

tantos temas,
sem resposta à mão.
tantas portas,
que ainda falta abrir.

como ao condor,
arguto
e à gaivota atenta,
só cabe saber esperar...

ouvindo Leo Rojas - White Arrows

Mafra, 3 de Setembro de 2014
18h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes









terça-feira, 2 de setembro de 2014

fique om o troco...

fique com o troco...

preocupado.
coisas da vida.
sentei-me à mesa.

Uma linda sala.
bem decorada,
à moda antiga.
em fino gosto.

Lindos quadros,
pinturas de sonho.
com reis e povo.
amplas searas
montanhas de branco.
cataratas no rio.

grandes espelhos,
em mldura doirada.
candelabros acesos,
derramando luz.

vem o empregado,
de casaco branco,
muito aprumado.
como um senhor.

dá-me os bons dias.
esboça um sorriso.
seus olhos brilham.

- que vai tomar?
- um café curto, se faz favor.

abro o jornal.
fico a saber as últimas.
até que a bica chega.
com um rebuçado ao lado.

entro noutra onda,
que me alivia a carga.
por tão pequenino preço.

bendita porta aberta,
onde me senti alguém,
onde fui senhor,
onde se vê mais gente
e me fez feliz.

muito ou pouco...
porque não lhe deixar o troco
que o ajude a viver?...

Mafra, 3 de Setembro de 2014
o dia nasceu cinzento, mas vai abrir...

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

lang lang...

Lang Lang...

as palmas da assembleia soam.
como a chuva a caír do céu.

um vulto de escuro vem palco fora.
rumo a um piano negro.
faz uma vénia funda.
esboça um sorriso
e se apronta para tocar.

seus dedos começam a saltitar nas teclas,
puxando cordas que exalam sons,
em resposta exacta,
ao que sai da mente,
com um fulgor brilhante,
daquele jovem.
que nos transcende.

numa sequência harmónica,
que não é a dele,
tudo de cor,
mas a que escreveu Beethoven,
sob inspiração divina,
um diálogo infindo,
entre um piano
e uma grande orquestra...


  - como é possível,?!...
de estontear.

ouvindo Lang Lang no concerto nº1 de Beethoven
o dia ainda dorme a sono solto...

Mafra, 2 de Setembro de 2014
6h3m
Joaquim Luís Mendes Gomes