segunda-feira, 30 de junho de 2014

Atracção do alto…

Atracção do alto…

Reacção à gravidade.

Daquela força constante

Que nos puxa para baixo,

Com força duma lei

E nos prende ao chão,

Outra igual, senão maior,

Dela mesma se desprende

E nos projecta para o Alto.

É bom descer, pausadamente,

A encosta verde e florida de um monte.

Mas, primeiro, há que subi-lo

Com toda a garra.

Arrostar o perigo e o cansaço.

Vencer o medo e a falta de ânimo

Que sempre ameaça.

Nos esconde o brilho.

Disfarça a cor.

Desfeia o belo.

Nos faz crer que nada vale.

Chegar ao topo,

Respirar fundo.

Divisar o infinito,

Ouvir os timbres

Ofuscantes do silêncio,

Que só voam nas altitudes.

Como um condor,

Planar nas nuvens.

Sentir a dimensão real

Do que nós somos.

Perante a imensidão da terra

E dos oceanos.

Que tudo existia sem mim,

Desde os confins dos tempos.

Mas o seu valor final

Está no brilho dos meus olhos…

Ouvindo " O condor passa…"

Berlim, 1 de Julho de 2014

O dia nasceu de azul…

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

domingo, 29 de junho de 2014

revolta dos peixes...

Revolta dos peixes…

"Pisces foderunt conas…in trapis…

in mare profundo"

Para quem não sabe latim:

Os peixes rasgaram as redes em farrapos…no mar profundo

Pudera!

Reis e donos do mar profundo.

Suas leis são só as deles.

Se governam bem.

Sem os disparates

Da democracia.

Não rezam aos deuses.

Nem pregam sermões.

Vivem na paz da consciência.

Não vão à escola.

De espécie alguma.

Sabem nadar

Em qualquer estilo.

São camaradas.

Socialistas.

Sempre em cardumes.

Fazem corridas.

De trás para a frente.

Ouvem sereias

No alto mar.

Que não chateiam.

Só não admitem piratas

E suas redes.

Atiram-se a elas,

Com veemência.

Reduzem-nas a trapos,

Sem terem conserto.

Não uzam flechas

Nem metralhadoras.

Ai de quem pesque

E lá caia dentro!…

Nem um só osso escapa.

Berlim, 30 de Junho de 2014

7h - 58m

Joaquim Luís Mendes Gomes

minhas portadas brancas...

Minhas portadas …
Abro de par em par,
Minhas portadas largas,
Ao sol e ao sal
Do mar profundo.
Deixo entrar no vento
Os acordes ternos
Das ondas salsas.
Me banho, dos pés à cabeça,
Na sua espuma ardente,
Em chama branca.
Regalo meus olhos sedentos,
Na infinita vastidão azul.
Me lanço correndo,
A toda a força,
Por este mar aberto.
Para lá do mundo.
Minha alma sobe leve
Até às nuvens.
E voa, liberta  à solta,
Mirando a terra.
Como uma estrela de prata,
A vê serena e azul.
Só ela sabe
O que, de bem e mal,
Se vive nela.
Implora aos céus
Lhe chova intensa a paz
E, com pétalas de amor,
A faça feliz…
Berlim, 30 de Junho de 2014
5h22m
dia a nascer cinzento
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 28 de junho de 2014

até amanhã...

Dizer adeus…até amanhã!…

Uma chegada que se esperou em chama,

Vem iluminada de muita alegria.

Até parece que vai ser eterna.

Há abraços. Muitos festejos.

Se trocam prendas.

Se dão beijos.

Muitos desejos.

Há mil promessas.

Muitas certezas.

Uma onda enorme,

Cheia de espuma,

Tudo abraçou,

Se espraiou na praia.

Não foi o fim.

Foi o começo.

A vida é assim.

Um mar de ondas,

Que vão e vêm.

Que é bom surfar.

Ao sabor do tempo.

Braços abertos,

Um peito a arder,

Uma alma cheia,

Um receber e dar.

Um saber esperar,

Quando a noite vier.

Depois da serra um vale,

Onde é bom ficar.

Berlim, 29 de Junho de 2014

6h20m

Joaquim Luís Mendes Gomes

ferrugem...

Ferrugem…

Como o bicho da fruta,

Não escolhe idade.

Gosta do ferro.

Velho ou novo.

Quanto mais, melhor.

Primeiro, na capa.

Depois, no miolo.

Sem fazer barulho.

Como em nevoeiro,

Vai roendo tudo.

Nem o osso escapa.

Um paquete gigante.

Uma torre eifel.

Se não os pintam de tinta,

Nem para sucata dão.

São como o papel…

"Bar dos motocas", 28 de Junho de 2014

o sol anda por aí…

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

sexta-feira, 27 de junho de 2014

sem regatear...

Sem regatear…

 

A semente cai.

Na terra-mãe.

Apenas, se expõe.

Ao sol e á chuva.

O vento a cobre.

A terra a abraça.

Vem o calor

Desperta-lhe a vida

Em tons de verde.

Se espraia e se estende.

Em pèzinhos de lã.

A seiva a rega.

Recebe e dá.

Algo de cima a chama,

Atracção fatal.

E ela, mui lenta, vai.

Um fio de seda,

Tacteando o chão.

Até ver a luz.

Cora de verde.

Se expondo ao sol.

A vida circula

E a faz crescer.

Abre seus olhos.

Estende seus bracitos.

Como se fossem asas.

O vento meigo as beija

Se põem a bailar.

E num crescendo suave,

Que só o tempo tece,

Ela se vai expondo,

Com tanta arte o faz.

Faz o seu desenho,

Vai ganhando cor,

Vai riscando a forma,

Como ela quer ficar.

Quer ser igual à mãe

Que lhe deu o ser.

Se quer vestir de verde.

Até chegar a hora,

De dar flor e fruto.

Quer largar semente,

 

Quer voltar ao chão

Para não mais morrer.

Berlim, 28 de Junho de 2014

6h23m

dia cinzento, sem chuva…

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 

 

 

minha claque...

segredos do mar...
quem quer saber os segredos do mar?...
só os búzios ao sol,
sabem contar.
...
venham ouvi-los,
ao pé dos rochedos.
chegam nas ondas,
dos fundos do mar.
quero saber o que se passa em segredo.
no seio das ondas,
nas profundezas sem fim.
cavernas tão fundas,
com estrelas de mar.
folguedos e bailes,
à luz do luar.
com sereias ocultas,
fugidas da terra.
cumprem as penas
de tanto amarem...
príncipes encantados,
as viram fugir...
Bar dos motocas, em Berlim, 27 e junho de 2014
10h dia com sol
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 26 de junho de 2014

faminto...

Faminto…

Regalo meu corpo

E minha alma,

Com fome.

O alimento é escasso.

Estão secas as searas.

As ramadas sem vinho.

O estio impenitente

Derrama calor

E me cobre de sede.

Entro no chão das cavernas.

No reino da sombra

E do silêncio.

E pego nas redes.

Vou no barquinho.

Buscando a sorte

No meio do mar.

No regresso,

Só preciso de lenha

E de fogo ardendo.

Me rego de iodo

E perfume do sal.

Assim, me sacio

E derreto a fome.

Imploro do céu

Uma hora de chuva…

Confio na força do bem

Que tudo criou

Com fome e sede de vida,

Num mundo com sol

E sem chuva,

Haja o que houver.

Porque a esperança e a fé

Não secam nem morrem.

O dia nasceu…um pouco cinzento

Berlim, 27 de Junho de 2014

5h20m

Joaquim Luís Mendes Gomes

bezerro de oiro...

Bezerro de oiro…
No cimo do monte,
Ergui um bezerro de oiro.
...
Ao raiar da aurora,
O sol nasce
E ele chora…
Lágrimas de luz.
Correm pelo monte.
Abençoando as gentes
Ao nascer do dia.
Fico com ele
E medito…
Como pobre seria o mundo.
Só com bezerros.
Carregados de oiro!
Seria frio e seco.
Porque o calor a sério,
Vem doutra fonte.
Que nunca mais seca.
Princípio e fim.
ouvindo Luís Armstrong. Admirável mundo...
“Bar dos motocas” , 26 de Juno, dia de sol, tímido
9h46m
joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 25 de junho de 2014

esfera armilar...

A esfera armilar…

Rolo enrolado
Numa esfera concêntrica
E armilar.
Equidistante das estrelas.
E dos seus pólos.
Num universo extenso e paralelo.
De muitas, rondas e brilhantes,
Como a minha....

Não preciso sair dela.
Tantos raios iluminam minha mente.
Mergulhada num mar azul.

O tempo sopra favorável
Dentro e fora dela.

Sou caravela de asas brancas
Sempre abertas.
Carregada de oiro e sal.
Muitos frutos perfumados do oriente.

Faço escala em cada porto
Que eu encontre
E me abasteço.

Uma pedrinha…
Uma areia de cada chão.

Uma flor.
Um sorriso.
Um abraço.
De cada rosto
Como o meu.
Seja qual for
A sua cor.

Me refresco com a brisa
Celular que vem do céu.

Me entranho no rio doce
Que correm em mim.

Vou de portas e janelas
Bem abertas a todo o ar.

Páro, de hora a hora,
Numa sombrinha fresca
Para descansar.

À noitinha,
Vou à varanda saborear o luar da vida
Que Deus me deu…

Berlim, 26 de Junho de 2014
6h54m
joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 24 de junho de 2014

à pressa...À pressa…

À pressa…

Tudo vem justo,

No seu tempo certo.

Na sua marcha,

Vai inquieto o rio.

Ora se espraia.

Em sinuosa praia.

Até parece mar.

Ora se esboroa,

Em catadupa extrema.

Um gato assanhado.

De garras tão hirtas.

Esparzindo espuma.

Ora sereno,

Uma serpente arguta.

Esperando a presa.

Segue incessante.

Suas águas em cima,

Parecem paradas.

No fundo, a torrente avança.

E aquele cortejo rico,

De tantas vidas de prata.

São os seus cardumes.

Suas margens verdes

Vêm à janela,

Estendem suas rendas,

Como se fossem colchas.

As almas penadas,

Que vagueiam perdidas,

Vêm lavar-se nele,

Pelo luar de branco,

Nas horas a fio,

Das madrugadas.

E o nevoeiro dormente

Nas manhãs de estio,

Cobre-o alvinitente,

Como se fosse lã.

As aldeias jazentes,

Pela encosta abaixo,

Cosem-no de pontes,

Como se fossem um fio.

E ao cair do dia,

Quando o sol se deita,

Qual comboio lento,

Entra tão sedento,

Como um filho esperado,

Que não se via há tanto,

Vai abraçar-se ao mar…


Ouvindo Lang Lang

Berlim, 25 de Junho de 2014

5h46m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 23 de junho de 2014

sesta na "Giraboa"...

A sesta na "Giraboa"…

Nos fins de Junho.

Perto do São Pedro.

Fazia calor.

Uma canícula.

A escola em turma,

Com as professoras,

Saíam em bando,

Eirado ao fundo…

Havia uma mata.

Um carvalhal.

Com tojo e urzes.

Muitas bolotas.

E uma sombra densa.

Havia uma fonte

A botar em bica.

Havia uma poça,

Com musgo e rãs.

Em garraiada,

Ali ficávamos,

A tarde inteira,

Na brincadeira.

Oh que alegria!

Tanta riqueza!

Apesar do nada.

Eram os fins da guerra.

Anos cinquenta.

Tantos os sonhos.

Tantas as crenças.

Que lindo mundo!

Nós tínhamos,

Ali à mão…

Ouvindo " admirável mundo" com Luís Armstrong

Berlim, 24 de Junho de 2014

5h41 m

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 22 de junho de 2014

de falsidades...

De falsidades…
Que desgraça o trânsito,
Se estivessem errados,
Todos os sinais,...
Por essas estradas?…

Seria um caos.
Se for de troça
Aquele sorriso
De quem passa,
Porque o nosso também o é…
Ó que mundo!
Se um cheque em branco
Pagar a conta da farmácia,
Que será da gente,
Se a doença volta?
Se já for vinagre,
Apesar da soma enorme
Que se pagou pelo vinho,
Para alegrar a nossa alma,
Quem consegue manter a calma?
Se por cartão,
Trocar a sola o sapateiro,
E por fraco fioco,
O fato novo o alfaiate,
O que vai ser do corpo,
Quando a chuva cair?
E se as pautas da música,
Ao abrir da festa,
Estiverem cheias de notas falsas,
Que será da orquestra?
E do rebate falso,
Por maldade ou brincadeira,
Quando outro fogo, a sério,
Acontecer,
O que vai ser?
Oh que desgraça!
Do avesso, o mundo…
Mais valia nunca nascer.
Berlim, 23 de Junho de 2014
6h58m
dia com sol
Joaquim Luís Mendes Gomes

espaços vazios...

Espaços vazios…
Não são buracos
os espaços de tempo
Em que estamos parados.
...
Podemos enchê-los com sol,
Com vento.
Pintá-los de luz.
Carregá-los de sombras,
De alguns passos errados
Que demos.
Varrê-los com vassouras de aço,
Até ficarem sem pé.
Tecê-los em laços,
Com cordas garridas,
Fazendo figuras no chão.
Carregá-los de versos,
Com letras bonitas,
Desenhadas à mão.
Enfeitá-los com vasos
Cheios de flores,
Tecendo um jardim.
Expô-los em tela acrílica.
Pinceladas de mestre,
Em tons divinais.
Esperar que o tempo e a chuva
Os cubra de musgo,
Os faça uma cama,
Onde apeteça deitar
E dormir…
Berlim, 22 de Junhode 2014
16h39m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 21 de junho de 2014

túneis da vida...

Túneis da vida…

De precipício em precipício,

Só uma maneira de os vencer.

Uma ponte, pelo ar.

Ou furando a terra a fundo,

Sem dó nem piedade.

É custoso. Demora tempo.

Custa vidas.

Mas é um preço

Que torna perto

E mais barato

O que parecia inalcançável

Ou impossível.

Não há montanhas íngremes,

Não há rochedos.

Não há mais margens longínquas,

Separadas pelas águas.

Geram longas pausas nas estradas já cansadas.

Trazem a paz e o silêncio atónito

Das vertigens.

Nos apagam e fortalecem

Nas pusilâmines tentações do retrocesso.

Nos animam a seguir em frente,

Prosseguir viagem,

Com toda a esperança.

E são a prova evidente,

De que a fé em nós,

Se o quisermos,

É capaz de chegar à lua

E arrasar montanhas.



Ouvindo Lang Lang

Berlim 22 de Junho de 2014

6h35m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 

sexta-feira, 20 de junho de 2014

viajar sózinho....

Viajar sózinho…

Quem gosta de ir sózino,

Numa carruagem.

O comboio sobe.

Corre as encostas.

Os povoados,

Atravessa túneis.

Rebanhos de cabras.

Vai aos cumes

E nos abre as portas.

Põe-nos a ver a terra ao longe.

Como se fosse perto.

Em paz total.

Encher o peito.

A ver o mar.

Tudo isto só?…

Se fica mais pobre.

A não ser que

A alma esteja ligada ao Criador…

Aí, tudo resplandece e brilha,

Encanta e enche.

Com Deus em si,

Ninguém está mais só!…


Ouvindo Lang Lang emRachmaninov, conc. Nº 2

Berlim, 21 de Junho de 2014

6h1m

Joaquim Luís Mendes Gomes

pássaros....

Pássaros…

Não são vitais no mundo.

Pois não.

Mas, seria muito mais pobre e triste,

Se os não houvesse.

Companhias, aparentemente alheias,

Só estão bem e alegres,

Onde estiver o homem.

E cercam-no. O rodeiam.

Poisam-lhe aos pés.

Nos seus quintais.

Fazem os ninhos

Nos seus beirais.

Têm os filhos,

Nos sobrados.

São os seres primeiros,

A acordar nas madrugadas.

Louvando, em nosso nome,

O Criador.

Fazem rezas tão intensas.

Tão entoadas.

Deus as ouve

E, dos céus,

Chovem bênçãos

Em abundância.

A terra germina verde.

Se engalaneia de cores.

Onde dá gosto viver.

Cheira a feno,

A vinho mosto.

E a trigo loiro.

E a passarada baila…baila…

Em constante festa.

Fazem excursões.

Atravessam os mares.

Levam e trazem as novas

Que nos dão sabor.

Que grandes ninhos

Os das cegonhas.

Em cima das torres.

Ao pé dos sinos.

Desafiando o fogo,

Poisam nas linhas

De alta tensão.

Dali serenas,

Vão para os arrozais.

Em planados voos.

Constante labor

E não fazem greve.


Ouvindo Lang Lang, concerto nº2 Tchaikowsky piano

Berlim, 21 de Junho de 2014

5h20m

clareia o dia de cinza

Joaquim LuísMendes Gomes

união das distâncias...

A união da distância…

Não é a ausência,

Nem a distância

Que afastam.

Elas estreitam

E apertam.

Dão o nó mais forte

Que ninguém desfaz.

Solda e fica.

Resiste ao rigor do gelo.

Ou ao calor da amazónia.

Outra corrente o faz vibrar.

Olhos da alma,

Que nunca cegam.

Vêm no escuro,

Como se fosse dia.

E tão velozes

Como o pensamento.

Não há montanhas.

Não fronteiras.

Tudo desvendam.

E chegam fundo.

Não têm noite.

Não têm dia.

Sempre alerta.

Dão fé de tudo.

E, se algo está a correr mal,

Bradam aos céus…

Nunca mais se calam.

Clamam aos santos.

Chamam por Deus…

É seu amor que corre perigo.

Berlim, 20 de Junho de 2014

21h30m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 19 de junho de 2014

carapaças da vida...

As carapaças da vida…

Carrocel em movimento,

Umas vezes oito,

Outras, montanha russa,

Em rodopio louco.

Vai pelo caminho.

Em alvoroço,

Garras ao fundo,

É pedregoso,

Quase vertical,

Cheio de abismos,

Coração nas mãos

E braços estendidos,

O peito a arfar.

Descendo e subindo.

E logo, deslizando,

Em paz,

Pelo vale extenso,

Local de encontro.

Das águas cadentes

Que vão num rio,

Dos campos verdes,

Com flores e trigo.

Da passarada garrida

Que não pára quieta,

Sempre a cantar.

Das ermidas brancas,

Em presépios de luz.

Das casinhas caiadas

E telhados rubros.

Das festas alegres,

Com moçoilas dançando

E rapaziada em fúria,

Querendo viver a vida

Num dia apenas.

E das ramadas de verde,

A escorrerem vinho.

Os poços redondos,

Onde se enleiam vacas

Para extraírem regas.

Dos abades de preto,

Olhos luzindo,

Pastoreando aldeias.

Dos bazares de música,

Onde reluzem as fardas

E , alegres, no palco,

Tocam os músicos.

Aqui e além, desalmados,

Sobem foguetes,

Rebentando estrondos.

E, de festa,

Os sinos repicam.

E, assim, vai correndo a vida…

Ouvindo piano romântico, no youtube

Berlim, 20 de Junho de 2014

5h14m ( há muito, já nasceu o dia…)

Joaquim Luís Mendes Gomes


desafio de viver...

O desafio de viver…

Do mar da vida,

Tocou-nos um pedacinho.

Umas vezes, amargo,

Outras vezes, doce.

Nos arrebata.

E puxa até fazer doer.

Tem horas boas.

Outras de fazer esquecer.

Ora sabe a mel

E tantas, com muito fel.

Gota a gota,

Ela lá vai pingando.

Tem tantas sombras.

E zonas de luz.

Tem escarpas vivas.

Soalheiros vales.

Horas de sonho.

Em torrentes de amor.

Desertos de areia.

Onde não apetece ir.

Vagas de fundo,

Proceloso mar.

Um lago de cisnes,

Com luar de Agosto.

Seara de brisa.

Plumas ao vento.

Chegam às nuvens.

Pétalas de cores.

Aves voando,

Num céu sem fim.

Um natal de prendas.

Em lares de amor.

Sorrisos e lágrimas

De fazer chorar.

Que rica pérola

Nos enfeita o peito.

Cercada de oiro,

Um jantar perfeito…

De não mais esquecer.

Berlim, 19 de Junho de 2014

20h10m

joaquim Luís Mendes Gomes

 

terça-feira, 17 de junho de 2014

pensamentos alados...

Pensamentos alados…



Vêm-me do mar os meus pensamentos.

Vêm molhados,

Com espuma. Sabem a sal.

Dá-lhes o vento,

Abre-se as asas

E eles, ladinos,

Se escapam, me fogem,

Como passarinhos

Do ninho.



Fico a vê-los, rodopiando ao sol.

Em bandos.

Cachos de prendas,

Rosas de Abril.

Poisam nos ramos.

Braços abertos.

Entram nos lares,

Com fome de mimo.

Riem, conversam.

Choram com lágrimas de fogo.

Rezam e oram

A todos os santos.

Cantam quadras,

Baladas de amor.

Dormem e sonham

Com o dia que volta.

Se deitam na praia,

Virados para o sol.

Mergulham nas ondas.

E vão pelo fundo.

Procurando seu ninho…

Berlim, 18 de Junho de 2014

8h32m

Joaquim Luís Mendes Gomes


gravitação dos seres...

Gravitação dos seres…

Vivemos no universo,

Como astros, muitos tamanhos.

Todos diferentes.

Cada um seu brilho

E história.

Arde em nós a mesma chama.

Do mesmo fogo sideral.

Cada um tem sua órbita.

Seu começo

E o seu término.

Se cruzam e se entrelaçam,

Como feixes de harmonia.

Se repelem, quando há oposição.

Se atraem e se misturam.

Como a água e como o vinho.

Interagem. Se miram.

Aglutinam.

Proliferam.

Tão diferentes,

Tão iguais.

Não são bolas de sabão.

Têm fogo

E chama própria.

O eterno

É seu destino…

Berlim, 18 de Junho de 2014

6h30m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 16 de junho de 2014

arte de ser feliz...

Arte de ser feliz…

 

Há tantas linhas que cosem

O vestido da felicidade.

Com que gostamos de andar na rua.

Que toda a gente veja

E goste de nós.

Das suas cores.

Bem combinafas,

Da cabeça aos pés.

Por vezes, cai-lhe uma nódoa.

Quando e onde

Nunca se espera.

Fica-se triste.

Tem remédio.

Limpeza a seco.

Mo cinque à sèque…

Barato e bom…

Como novo.

Pegaos nele outra vez

E lá vamos nós.

Raiando ao sol.

Como brilham estas linhas

Coloridas.

Cheias de azul e verde,

Em fundo preto.

No colarinho,

Um cachecol de lã.

Ou algidão branco.

Protejendo o col…

Conforme o frio ou o sol.

A camisa é furta-cores.

Vai mudando,

Conforme a estação.

É escura, no inverno.

Capta melhor a luz e calor.

É verde e rosa,

Primaveril.

Amarela e rubra,

Nos dias de estio.

Lilás e azul,

Como as flores de lis.

De setembro a novembro,

Pelo colher das uvas.

Que lindo lenço,

Vai no bolso ao peito.

É bom sinal.

Que lá dentro há fogo.

Ardendo e é para se ver…

As calças são paralelas

Rectas.

Nossa base de sustento.

Querem-se de cinza ou pretas.

Com permanente vinco.

A roçar os pés…

E os sapatos,

Reluzem verniz.

Servem de espelho,

Ao nosso nariz…

Por eles sei

E sabem

Se vou feliz…

Ouvindo Gershwin- Rha psody in blue

Berlim, 17 de Junho de 2014

6h36m

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 15 de junho de 2014

Encontro de ex-combatentes da Guiné...

Em honra do grande encontro

Dos heróis de Monte Real

Grande largada…

Vieram de todos lados.

Festivos. Saudosos.

Com suas mulheres.

Seus amigos.

De cores garridas.

Joviais,

Como se ainda fossem praças.

Servindo naquela guerra.

Que brotou

Da honra.

Vitimou vidas,

Semeou a morte.

Por uma causa justa.

Assim o sentiam,

Bem no fundo,

Todos,

Senão fugiam.

Uns dois anos das sua vida

De jovem,

Ao raiar.

Correndo bolanhas,

Saltando minas,

Ouvindo a etralha

Ao perto e de longe.

Arrostaram a morte,

Tantas vezes.

Não zarparam…

E voltavam sempre.

Bons compnheiros,

Irmãos para sempre.

E depois, no fim,

Todos felizes,

Subiram para o barco

Da livração total.

Desceram o Geba.

Entraram no mar.

Se estava bravo ou manso,

Nada importava.

Podia até ir ao fundo.

Suas almas vibravam tanto

O barco dançava com eles.

Em cinco dias,

Cruzaram a distância,

E, milagre!

Pela manhã dum dia,

Ali estava o Ttejo largo e doce,

De braços abertos,

Para os receber.

Vieram subindo.

Cascais. Carcavelos.

Trafaria ao lado.

A Sintra lá longe.

E, no fim a Ponte

Que era Salazar…

Homem potente

E vertical, impoluto,

Embora imperfeito…

Veio à janela,

Cheia de gente,

Batendo as pamas,

Esvoaando lenços.

Seus corações bailavam no peito,

Tanta alegria…

Heróis reais!.

E veio o Cais da Rocha.

Tão lentamente,

Como o fora à partida.

Uma explosão sem fim,

Ao atracar as amarras.

As escadas subiram.

Fizeram caminho

Para a recepção final…

Foram tantos abraços,

Beijos às cores.

De filhos com pais.

Mulheres e seus filhos.

Correram lágrimas.

O Tejo cantou,

Com tantas!…

E, sem se dar conta,

Era o regresso à base,

Donde tinham partido!

Depois, a debandada geral.

A dispersão.

A chegada às famílias…

Outro momento

De alegria sem fim.

O cheiro da casa.

O abraço das gentes

Que nos viram crescer…

Rezaram por nós…

Óh Meu Deus!

E vós ouvistes!

Daí para a frente,

Outra guerra começou.

Muito pior.

Cheia de incertezas.

Uma luta tremenda.

Cada um por si,

Subiu,

Subiu, a pulso,

Uma escada sem fim.

Até um lugar ao sol.

E vieram as noivas

E vieram os filhos.

Uma luta feroz

A jorrar de amor.

E os tempos correram.

Tão velozes.

Foram somando…

Somando…

Até que, um dia,

O grande encontro,

Para muitos o primeiro,

Depois de meio século.

 

A sensação real,

Era de que o que os reunia ali,

Acontecera ontem…

Cada um conte, de si,

O que lhe foi na alma.

Bendita a hora

Em que tão feliz ideia nasceu.

Ouvindo Rimski-Korsakov: Scheherazade

Berlim, 16 de Junho de 2014,

6h25m

Joaquim Luís Mendes Gomes

Embora ausente, estive presente, de alma e coração, com todos vós, em Monte Real…

Aquele abraço, até ao próximo.


quarta-feira, 11 de junho de 2014

nau catrineta...

Cá vem a nau catrineta…

Quisera dar a volta ao mundo,

Na minha pequena caravela

De velas brancas,

Aportar sereno,

Na praia ao pé

Da tua porta.

Ir de casa em casa,

Levar a prenda, à certa,

Uma para cada amigo,

Que ma abrisse.

Encher de alegria

E esperança,

Cada lar,

Onde faltassem.

Dizer precisas,

A cada ouvido,

Aquela palavra

Que cala fundo.

Fosse a chave de oiro

Para um mundo novo.

Levar sementes sãs

De novas árvores,

Com novos frutos.

Secar lágrimas de choro,

Por tanta dor aguda

Que dói oculta…

Trazer a paz benéfica

Das searas verdes,

Que as amadurece ao sol

E, de pão,

Enchem as arcas.

Queria ver a terra

Sem fome e guerra.

E todo o mundo,

A viver feliz…

Berlim, 12 de Junho de 2014

5h46m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

terça-feira, 10 de junho de 2014

as escadas...

As escadas…
São fracções de passos,
Que encurtam caminho,
Por onde se sobe
Ou por onde se desce.
Se inclinadas e prostradas
Sobre uma encosta,
São escadórios,
Mais ou menos engalanados,
Estátuas de santos,
Muitas capelas,
Que nos levam,
Ao alto,
Suavemente,
Aos santuários.
Duas traves de pau,
Compridas,
Leves escadotes,
Nos levam do chão,
Lá acima, às uvas,
Pela colheita das vindimas.
Pedra a pedra,
Em caracol,
Vão por fora,
Vão por dentro,
Mui bem cravadas,
Levam o sineiro alegre,
Ao campanário.
E, se rolantes,
Sobre um tapete,
Em circuito,
Aí vamos à vez,
Dito e feito,
Sem qualquer passada.
Ó maravilha!…
É só poisar
E deixar-se ir.
E nos palácios nobres,
Paquetes gigantes
Tão imponentes,
Fazem escadórios,
Onde tão elegantes,
Muito adonaire,
Deslizam fraques,
E grandes vestidos…
Com muito charme.
E, nos futebóis,
Aos socalcos,
Parecem vinhedos,
Dão tantas voltas,
Sentam a turba,
Em multidão,
Com tanta cadeira
Que nem tem conta!…
Berlim, 11 de Junho de 2014
5h54m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 9 de junho de 2014

decote ao sol...

Decote ao sol…

Salto para o meu cavalo
E corro a trote,
Pelas escarpas,
Pelas fragas,
Desço a encosta,
Até ao rio.

Tomo banho....
Dois mergulhos,
Duas braçadas,
Quase afogo.
Venho ao de cima.
Sacudo a água.
Vou mais além.

Sigo em frente,
Contra a corrente.
Nunca desisto.
Mudo de estilo.
Ora de bruços,
Ora de rã.
Quando cansado,
Fico boiando,

Limpo meus olhos
Olhando o espaço,
Saboreando a brisa,
Contando as folhas.

Fico sonhando,
Escrevo um verso,
Com linda letra,
Um lindo mote,
Fecho a carta,
Mesmo sem selo,
Entrego à mão
E fico à espera,
Até de manhã…

Berlim, 10 de Junho de 2014
Joaquim Luís Mendes Gomes

tabernáculo do templo...

Tabernáculo do templo…

Algures no universo de mim,
Reside um templo de alabastro
E num altar exposto,
Uma arca de marfim.

A guardá-la, permanentes,
Quatro elefantes da Índia,
Elegantes e poderosos....

Sobre ela impende,
Suspensa por umas correntes,
Um candelabro aceso,
Em madrepérola,

Sua chama arde,
Umas vezes viva
Outras tremeluzente.
Com um sopro brando
Duma fonte oculta,
Incessante e permanente.

À sua volta, gravitam estrelas brancas
Cintilantes,
E no seu seio,
Corre um rio extenso
E caudaloso.

Suas águas límpidas,
Nascem no hiperurânio.

Atravessam fragas pedregosas
E areias.

Correm-lhe cardumes
De ideias, abundantes,
De espécies várias.

Todas etéreas.
Quase divinas.

Têm asas lindas
De borboletas.
Suas folhas,
Onde em versos,
Escritos à mão,
Se cantam cantos,
Se entoam hinos.
Quase divinos.

Que eu escuto,
Religioso, no meu silêncio,
E transmito ao mar do mundo…

Ouvindo “ Ave Maria” por Olga Szyrowa

Essen, 9 de Junho de 2014
5h37m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 5 de junho de 2014

terror do sexo...

Terror do sexo...

O sexo domina o mundo.
Tudo gira à força dele.
Se brota do coração,
É o amor que reina.

Se não, é o terror do mal.
Egoísta. Dominador.
Tudo devora.

Gera só ódio.
É o pai da guerra.
Tudo avassala.
Erva daninha.
Se sobe ao poder,
Espalha o terror
Sem qualquer escala.

O mundo é pequeno.
Para tamanha avidez.
Nada respeita.
Tudo conquista
Para sua mesa.

Desfaz a presa.
Goza com ela.
E joga fora.
Pior que a selva.

Joga a dinheiro.
Vai para o casino.
Desbarata tudo.
Fica feroz.

E volta de novo.
Se  veste de santo.
Como um senhor.
Assalta inocentes.
Despe-os ao frio.

Joga-os fora
Volta ao governo.
Como um malvado.
Tudo lhe serve
Para seu reinado.

Como seria o mundo,
Se o amor brotasse
Do coração do rei!...

Berlim, 5 de Junho de 2014
14h29m
Joaquim Luís Mendes Gomes


terror do sexo...

Terror do sexo...

O sexo domina o mundo.
Tudo gira à força dele.
Se brota do coração,
É o amor que reina.

Se não, é o terror do mal.
Egoísta. Dominador.
Tudo devora.

Gera só ódio.
É o pai da guerra.
Tudo avassala.
Erva daninha.
Se sobe ao poder,
Espalha o terror
Sem qualquer escala.

O mundo é pequeno.
Para tamanha avidez.
Nada respeita.
Tudo conquista
Para sua mesa.

Desfaz a presa.
Goza com ela.
E joga fora.
Pior que a selva.

Joga a dinheiro.
Vai para o casino.
Desbarata tudo.
Fica feroz.

E volta de novo.
Se  veste de santo.
Como um senhor.
Assalta inocentes.
Despe-os ao frio.

Joga-os fora
Volta ao governo.
Como um malvado.
Tudo lhe serve
Para seu reinado.

Como seria o mundo,
Se o amor brotasse
Do coração do rei!...

Berlim, 5 de Junho de 2014
14h29m
Joaquim Luís Mendes Gomes