domingo, 15 de junho de 2014

Encontro de ex-combatentes da Guiné...

Em honra do grande encontro

Dos heróis de Monte Real

Grande largada…

Vieram de todos lados.

Festivos. Saudosos.

Com suas mulheres.

Seus amigos.

De cores garridas.

Joviais,

Como se ainda fossem praças.

Servindo naquela guerra.

Que brotou

Da honra.

Vitimou vidas,

Semeou a morte.

Por uma causa justa.

Assim o sentiam,

Bem no fundo,

Todos,

Senão fugiam.

Uns dois anos das sua vida

De jovem,

Ao raiar.

Correndo bolanhas,

Saltando minas,

Ouvindo a etralha

Ao perto e de longe.

Arrostaram a morte,

Tantas vezes.

Não zarparam…

E voltavam sempre.

Bons compnheiros,

Irmãos para sempre.

E depois, no fim,

Todos felizes,

Subiram para o barco

Da livração total.

Desceram o Geba.

Entraram no mar.

Se estava bravo ou manso,

Nada importava.

Podia até ir ao fundo.

Suas almas vibravam tanto

O barco dançava com eles.

Em cinco dias,

Cruzaram a distância,

E, milagre!

Pela manhã dum dia,

Ali estava o Ttejo largo e doce,

De braços abertos,

Para os receber.

Vieram subindo.

Cascais. Carcavelos.

Trafaria ao lado.

A Sintra lá longe.

E, no fim a Ponte

Que era Salazar…

Homem potente

E vertical, impoluto,

Embora imperfeito…

Veio à janela,

Cheia de gente,

Batendo as pamas,

Esvoaando lenços.

Seus corações bailavam no peito,

Tanta alegria…

Heróis reais!.

E veio o Cais da Rocha.

Tão lentamente,

Como o fora à partida.

Uma explosão sem fim,

Ao atracar as amarras.

As escadas subiram.

Fizeram caminho

Para a recepção final…

Foram tantos abraços,

Beijos às cores.

De filhos com pais.

Mulheres e seus filhos.

Correram lágrimas.

O Tejo cantou,

Com tantas!…

E, sem se dar conta,

Era o regresso à base,

Donde tinham partido!

Depois, a debandada geral.

A dispersão.

A chegada às famílias…

Outro momento

De alegria sem fim.

O cheiro da casa.

O abraço das gentes

Que nos viram crescer…

Rezaram por nós…

Óh Meu Deus!

E vós ouvistes!

Daí para a frente,

Outra guerra começou.

Muito pior.

Cheia de incertezas.

Uma luta tremenda.

Cada um por si,

Subiu,

Subiu, a pulso,

Uma escada sem fim.

Até um lugar ao sol.

E vieram as noivas

E vieram os filhos.

Uma luta feroz

A jorrar de amor.

E os tempos correram.

Tão velozes.

Foram somando…

Somando…

Até que, um dia,

O grande encontro,

Para muitos o primeiro,

Depois de meio século.

 

A sensação real,

Era de que o que os reunia ali,

Acontecera ontem…

Cada um conte, de si,

O que lhe foi na alma.

Bendita a hora

Em que tão feliz ideia nasceu.

Ouvindo Rimski-Korsakov: Scheherazade

Berlim, 16 de Junho de 2014,

6h25m

Joaquim Luís Mendes Gomes

Embora ausente, estive presente, de alma e coração, com todos vós, em Monte Real…

Aquele abraço, até ao próximo.


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