domingo, 31 de março de 2013

Páscoa das cruzes…
 
 
No alto do calvário
Se ergueram três cruzes.
A minha…a tua …e a d’Ele…
Foi assim a ressurreição.
Sem a minha e sem a tua,
De nada valeria a Sua cruz…
Foi por ti e eu
que Ele morreu
E subiu ao céu…
Como a dizer:
Aqui, na terra,
Não é o nosso fim.
Que também nós
Havemos de ressuscitar…
JÀ beira d’Ele é o nosso lugar.
Mafra, 31 de Março de 2013
17h18m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Milagre da madrugada…

 

Vim à janela de madrugada.

Fazia luar.

Fazia frio.

Não era neve que caía.

Em farrapinhos de várias cores.

Eram pétalas que desciam, leves,

Como chuvinha de lágrimas quentes,

Tão suaves, me aqueciam,

Como o bafo morno duma lareira.

 

Voltei para dentro.

Fui ao correio no computador.

Tantos mails quentes…

De gente amiga!...

A desejarem uma Páscoa Feliz!...

Um deles era o teu…

 

Mafra, 31 de Março de 2013

12h41m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Novo mundo…

 

È preciso deitar flores

Das nossas varandas,

Em vez de pedradas,

Cegas e odiosas,

A quem passa à nossa porta.

 

Estender os braços.

Mandar entrar.

Se for preciso.

Confraternizar o que temos,

Como irmãos que somos.

Especialmente, quem pede ajuda.  

 

Sem regatear,

Além de medir a aflição que o faz pedir.

Para dar na conta, sem o substituir…

 

É a união de todos

Que gera a força,

Dá cor à vida

E ajuda a viver.

Outro melhor seria o mundo,

Se em vez de pedras,

Com amor oferecêssemos flores…

 

Ouvindo Grieg, concerto para piano

 

Mafra, 31 de Março de 2013

8h52m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

 

sábado, 30 de março de 2013


Falso dilema…

 

Ninguém me venha perguntar

Se vale a pena viver…

Porque ninguém me perguntou

Se eu queria nascer

Na hora em que nasci.

 

A resposta só a darei,

Na minha hora de morrer.

 

Se minha vida tiver sido feliz,

É porque a passei a fazer bem…

 

Manda a justiça

Que tenha algo a receber

De quem me deu a vida,

Se não pedi a ninguém

Para correr o grande risco de viver.

 

A vida só tem sentido a fazer bem…

Quem só faz o mal

Nunca terá o direito de viver.

 

Ouvindo Lang Lang em concerto nº 2 de Chopin

 

Mafra, 30 de Março de 2013

20h57m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Aleluia!...

 

Temos razões de sobra

Para estar contentes!…

Hoje é dia de Sol.

Mesmo com a tempestade cruel

Que vai pelo mundo.

 

Tudo é caduco e passa.

Mesmo o mal…

Até os dias negros

Que estão correndo.

 

Não andamos à deriva pelo universo.

Há um Capitão ao leme.

Com todo o saber omnipotente.

Sabe a rota e o caminho.

Através do mundo que Ele criou.

 

Tudo domina.

Fora e dentro deste barco…

E quer o sucesso de cada um e todos,

Mesmo que às vezes não pareça.

 

Só Ele tem a riqueza, de sobra,

Para que, no fim,

Fique toda a gente igual…

 

Ouvindo Grieg

 

Mafra, 30 de Março de 2013

7h43m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

sexta-feira, 29 de março de 2013


Meu casebre de sonho…

 

Meto-me em casa

Com as portas fechadas.

As minhas visitas

Chegam-me de todos os lados.

Trazem regalos ocultos

De horas passadas.

São os tesouros guardados

Uns já esquecidos,

Outros que nunca soubemos

E ficaram registados

Nos olhos dos outros.

Trocam-se prendas.

Há gargalhadas.

Correm as lágrimas,

Pelos rostos alegres.

Minha casa fica inundada de luz,

Um oásis de verdura,

No deserto da terra,

Com lendas de fadas.

 

Caem as horas cheias de encanto.

Há fumo e wisque,

Em baforadas

E o cantar do piano

Em acordes sonoros.

Ninguém quer sair

Do meu casebre de sonho,

Com as portas cerradas.

 

Mafra, 29 de Março de 2013

22h11m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

O moralista…

 

As promessas cumpridas

Deixam certo o que faltava.

As esquecidas criam dívidas.

Fazem feridas

Não saram mais

E nunca esquecem.

 

 Nunca prometas dar o que não tens.

Faz sempre aquilo que deves.

E nunca esperes…

Para não ficares em dívida.

 

Mais vale esperar

Do que dever.

 

O que eu quero para mim

Pode interessar a alguém

Pela mesma razão de ser.

 

Se me dão a mim,

Tenho razões

Para agradecer.

 

Tem mais sabor o dar

Que o receber.

 

Todos nós na vida,

Temos horas de precisar.

 

E temos que dê

Para quem precisa.

 

Mafra, 29 de Março de 2013

18h08m
Joaquim Luís M. Mendes Gome

Fábula das pedras

 

Atirei pedras ao mar.

Como quem atiça o fogo.

Saíu-me de lá um peixe irado.

De boca aberta.

- Porque não te metes na tua vida?

- Aqui só reina a paz.

- Ninguém atira pedras.

-  Somos irmãos. - Olha as estrelas do céu. Lá no alto.

- Como se dão tão bem.

- Nunca ninguém as viu pegadas em lutas estéreis.

- Cada uma respeita a a sua vizinha,

Como se fosse sua irmã.

 Fugiram para bem alto,

Das pedras que a terra lhes atirou. –

 - Deixa-nos a nós em paz.

- Não temos céu para onde fugir.

- Somos obrigados a partilhar contigo esta terra.

- Tão exígua.  

- Ai de vós, se se abrem as comportas…

- Ficaríeis inundados com nossas ondas

E não teríeis mais para onde fugir.

- Guarda-me essas pedras

Como se fossem tuas irmãs.

 

Ouvindo concerto para piano de Grieg…

 

Mafra, 29 de Março de 2013

14h57m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes
Oração aoSol…
Ardam, comofogueiras,
Em labaredas permanentes
Preces a Deus
Para que este mundo renasça outro
Das cinzas estéreis a que,
Num século só,
O reduziram.
Por mais luas e satélites opacos
Que o a inteligência humana
Tenha sido ou seja capaz de visitar,
Armada de capacetes férreos
E de armaduras impenetráveis,
Com receio
Da incógnita adversidade ambiental.
Por mais torres gigantes
E penetrantes das alturas,
Com milhares de metros
…Sempre rentes.
- Basta um sopro leve ou trepidante,
Ou o choque aparatoso duma aeronave,
Para as derrubar em pó.
Por mais gigantescos comboios e aviões,
Montados sobre carris,
Ou voando cegos, pela estrato-esfera,
Dando voltas e mais voltas loucas
S obre a Terra,
Sem a luz de Deus e sua bênção,
Não passam de passinhos pobres
E pesarosos devaneios…ou quimeras.
Ouvindo Hélène Grimaud, em Adágio de Mozart
29 de Março de 2013
9h24m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes

quinta-feira, 28 de março de 2013


Fado arrependido…

 

Vou confessar meus pecados,

Na capelinha branca,

Junto ao rio.

Vou enchê-lo com minhas lágrimas,

De arrependido que eu me sinto…

 

Andei perdido na vida.

Voltei a mim, de madrugada,

Quando todo o o mundo já dormia.

 

Minha alma subiu ao céu

E o Senhor abriu-me as portas,

Que louco, eu Lhe fechara…

 

Ouvindo Camané, no fado” Sei dum rio…”

 

Mafra, 28 de Março de 2013

21h55m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Milagre da tarde

 

Lá longe, na praia da tarde,

Ao escurecer,
Chegavam da faina da noite e do dia,

As traineiras poveiras,

Vinham engalanadas,
Vinham risonhas.

Com os porões a abarrotar…

 

 

Traziam pão para umas semanas,

Sem preocupações….

Havia tanto, isto não acontecia….

O mar andava bravo…

Foi Virgem Maria que os guiou.

 

Tantas promessas, com velas a arder

E orações sem fim,

Diante do altar da Virgem santa.

 

Sua vizinha, desde o berço,

Dos pais e dos avós.

Ela nunca faltou com sua ajuda.

Não faltou uma vez mais.

O que Ela pede…

Seu Filho dá…

Obrigado! Senhora da Guia!

Senhora, nossa vizinha do mar!...

 

Ouvindo Mariza, no fado “ Barco Negro”

 

Mafra, 28 de Março de 2013

21h18m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Avançarei sempre,

De cabeça erguida

E peito ao vento,

Rumo ao infinito.

 

Espero na força de cada dia

Para o viver em força.

Irradiando…luz, mesmo com sombras,

Exemplo positivo

Planta com fruto, erguida,

Virada ao sol.

 

Queria arrastar, encosta acima,

Quem só teima e ficar,

Parado e inerte, no vale.

 

Sinto que só subindo,

Se cresce, vive e faz o que há que fazer,

Com a massa que a natureza nos dá. 

A cada um, como a mim.

Ninguém fica de fora. Inútil.

Não seria estrelado o universo, sem estrelas,

Por mais pequeninas que sejam. 

 

Não há uma orquestra perfeita,

Sem violinos , piano e tambores.

Não há música bela e divina,

Sem notas, breves e longas.

 

Não há poemas,

Belos, sonoros,

Sem palavras,

Pobres e ricas.

 

E o curso da vida flui como um rio,

Com noite e com dia,

Com sol e com chuva…

 

 

Ouvindo Lang Lang, em concerto nº 1 de Chopin

 

Mafra, 28 de Março de 2013

8h50m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

quarta-feira, 27 de março de 2013


Diante do mar

 

Carrego em mim,

Um peso brutal.

Um passado presente.

Um futuro oculto.

Um presente mortal.

 

Se procuro saber,

Há tanta pergunta,

Com resposta suspensa

De alguém que apareça

Capaz de a dar.

 

Do passado não vem,

Por mais que espere.

Tudo morreu.

Ficaram queixumes.

Só quero esquecer.

 

O futuro está escuro,

Tão carregado.

Com nuvens no céu.

Às vezes tão baixas.

Quase a chover.

 

Não tenho agasalho.

Que me possa valer.

Noite de breu.

 

Fico quieto.

À espera que passe.

Todo o mal se acaba,

Quando o bem aparece.

 

 

Ericeira, 27 de Março de 2013

19h22m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

  

Ser homem até ao fim…

 

Não me importo de ir descalço, a pé,

Ao fim do mundo,

Buscar a paz que falta

Nesta Terra de Deus,

Onde brilha o sol,

Mas reina a injustiça e fome

Em toda a parte.

 

Não só de pão,

Mas de fraternidade universal.

Onde a igualdade

Fosse a bandeira desfraldada ao vento,

Dia e noite, nos parlamentos e assembleias.

 

Onde o hino fosse

O da alegria permanente.

Onde estivesse ausente

A exploração das forças

Que o Criador deu diferentes,

A cada um para ser homem,

Da cabeça aos pés,

Do berço ao fim…

 

Ouvindo Hélène  Grimaud tocando Bach

 

Mafra, 27 de Março de 2013

7h42m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

terça-feira, 26 de março de 2013


Num barquinho sozinho…

 

Atirei-me ao mar de olhos fechados,

Sem saber nadar… Sou louco?

Não …Havia um barquinho ligeiro

Que ia a passar.

Subi e fui mar dentro.

Até onde pude chegar.

Ninguém me ralhou.

Ninguém me prendeu.

Ninguém se zangou,

Ninguém perguntou se eu sabia nadar.

Liberdade total.

Na terra do mar.

Sem ruas, cruzamentos fatais.

 

A força do vento

Levou-me onde quis.

 

Quando me deu,

Voltei para terra.

Só correntes …

Algemas sem ondas

E regras aos montes

Que não servem para nada.

 

 Amanhã, de manhã,

Está dito e cumpro.

Vou voltar para o mar…

Se outro barquinho sozinho passar.

 

Mafra, 26 de Março de 2013

15h52m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes