Uma história
possível…
Passou à minha
frente,
Uma menina
alourada,
De cabelo sedoso,
Apanhado ao alto
Com um laço rosa de
seda
E olhos
castanhos.
Nos pés de
menina,
Uns sapatos pretinhos,
De fivela e
verniz.
Blusa encarnada
E saia curta aos
godés.
Uns soquetes azuis,
De malha em xadrez,
Até aos joelhos.
Levava consigo,
Debaixo do braço,
Um livrinho suave
e bonito,
Como um caderno.
Onde ia apontando,
Com desenhos e
notas,
De tudo o que via
Para depois
recordar.
Tudo guardava em
segredo,
Num cantinho do
quarto.
Quando o sono faltava,
Na madrugada,
De candeeiro
aceso,
Ponha-se a ler e
escrever
Do que tinha o
caderno.
Encontrara um
menino
Um pouco mais
velho.
De sacola ao
ombro
Que vinha da
escola
E que lhe sorriu.
Usava calções.
Com suspensórios.
Eram cinzentos.
O cabelo era
preto,
Num rosto esbelto,
Um nada comprido,
Muito bem
desenhado.
Seus olhos ovais,
Em tons
esverdeados,
Olharam para ela,
Com tamanha
emoção,
Sentiu-se a
tremer,
Nunca mais
esqueceu…
E os anos
passaram,
Sem mais se
encontrarem.
Ficaram só as
notas
Que foi escrevendo
E sonhando no
livro-caderno…
As voltas da vida
Por caminhos sem
fim,
Ao cabo de anos,
Já quase no fim,
Por portas travessas,
Voltaram a encontrá-los,
Como se nunca se
vissem…
Uma luz acendeu
E puseram-se à
fala.
Do que fora
passado.
Que obra,
Que frutos havia
Para mostrar.
Ela rapou do
livrinho
E pôs-se a
contar.
Havia histórias
singelas.
Com um fim de
encantar.
Sobretudo, pinturas
de cor
E quadros de
sonho,
Com o mar e a
serra
Em porfia
constante,
Com o sol a
brilhar.
- E você… Que andou a fazer?
- Andei mundo fora,
Fazendo a guerra…
Comendo do pão amargo
Que o diabo
amassou…
Para ser amante e
amado,
Ser alguém na
vida…
- E agora, que faz?- insistiu
curiosa
- Agora, sou pai
e avô…
E entreguei-me a escrever
Minhas histórias
passadas
E versos sem
conta,
Sobre a beleza do
mundo…
Enquanto puder.
Mafra, 25 de
Março de 2013
21h e 29m
Joaquim Luís M.
Mendes Gomes
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