sábado, 13 de setembro de 2014

caixa negra...

Caixa negra…

Trago escondida no meu peito,
Mui bem guardada.
A caixinha negra do meu navio.

Tudo gravado.
Em fogo aceso.
Minhas horas boas
E também as más.

As boas eu lembro
E sei contar.
As outras, muitas,
esqueci para sempre.
Nem quero pensar.

Hão-de abri-la
Quando meus olhos baços
deixarem de abrir.

Hão-de lê-las.
E vão saber ao certo,
como sempre fui.

Tantos segredos
De bilhetinhos escritos
Que iam e vinham
De flor em flor.
No raiar da vida.

Tantos queixumes
De amores escondidos.
Tantos sonhos
que ficaram sonhos.

Uma vida toda.
Um romance lindo,
Com muitas folhas
Onde escrevi passadas
Que nunca dei.

Tantos anseios
E lágrimas vertidas.
O tempo agreste
Me murchava a vida.

Fiz-me uma árvore
Com muita ramagem.
De poucos frutos.

Mas será neles,
De sabor tão rico,
Que me vou vingar.

Deles cuidei,
Jardineiro atento.

Dei-lhes abrigo
Com muito calor.

Cresceram afoitos
Pelo ar acima.
Se fizeram gente
Que me faz feliz.

Foi assim mesmo
que eu fiz aos meus…

Mafra, 13 de Setembro de 2014
15h26m
Joaquim Luís Mendes Gomes

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