sexta-feira, 9 de maio de 2014

fábula das formigas...

Fábula das formigas...

Quando era miúdo,
Me dividia total,
Entre o chão e o ar.
Sentia a terra.
Seu cheiro.
De inverno.
Calor de verão.
Fumegando de pó.

Fazia cavernas.
Castelos de pedras.
Assava batatas, com casca.
Ó que delícia.

Apanhava cebolas,
Na hora nascente.
Era um naco.
Dava-lhe uns golpes
Punha-lhe sal...
E ficava um rei.

Correndo pelo chão,
Pequeninas, corriam velozes.
Faziam carreiros.
Aos zigue-zagues.
Parando aqui e ali,
Olhando para trás,
Esperando a parceira.
Seguiam para longe,
Pareciam sem destino.

Para elas eu era um gigante.
Não me ligavam nenhum.
Fiz-me como elas,
Pequenino,
Entrei no cortejo.
Pus-me a ouvi-las.

Pareciam caladas.
Mas nada.
Umas palradoras sem fim.
Sempre a dar à palheta.
Contavam anedotas.
Cantavam cantigas.
Faziam xaradas,
Com ditotes agudos.
Eram amigas.

Falavam da vida.
Falavam de tudo.

Meti conversa com uma.
Perguntei-lhe donde era.

- vim do estrangeiro.
Estou a passar férias,
Com minha família.
Já não a via há muito.
Fui para França,
Aprender o francês.
Mas conheci o sarkozzi,
Formigueiro e urso...
Não gostava de mim.
Matava-me à fome.
Com tanta limpeza.
Fugi do palácio
E vim a caminho...
Prefiro esta terra tão livre,
Aos altos baixos.
Por baixo e por cima.
Em festa constante.
Há trabalho para todas,
Por conta da mestra.
Ó que feliz!...
- Mas não te conheço daqui!...
Também és sarkosi?...

Ouvindo as Czardas de Monti

Berlim, 10 de Maio de 2014
7h51m

Joaquim Luís Mendes Gomes

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