domingo, 24 de agosto de 2014

a sorte do dromedário...

sorte do dromedário...

baixou-se ao chão.
alijou a carga bruta e dono.
sacudiu as bossas e as orelhas.

e partiu, como passarão,
esvoaçando livre,
sobre as areias do deserto.

maldisse as horas de escravidão.
calcorreando percursos longos,
não tinham fim.

carregando sal,
em blocos de pedra.
e qual a paga?
um balde de água
e um punhado de erva.
em cada chegada.

agora, era seu o mundo,
a toda a hora.
lhe bastava a liberdade.
não tinha norte.
sua rota leve era o destino.

suas patas eram as asas
que o levariam a todo o lado.

cabeça erguida,
olhando ao longe.
sem o chicote bravo
a bater no lombo.

suas noites longas
seriam um sossego,
a contar estrelas.
lembrando a infância,
quando era menino.

dormiria a sesta,
onde houvesse sombra.
escolheria o oásis
para suas férias.

quão bem risonho
seria o futuro.

passaram dias.
passaram meses.
e uma névoa de sombra,
num crecendo lento,
lhe toldou o céu.

era a tristeza de se ver sózinho,
e não partilhar a sorte
da liberdade...

Mafra, 25 de Agosto de 2014
6h47m

o dia está a clarear...cinzento, mas irá desabrochar em sol


Joaquim Luís Mendes Gomes






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