domingo, 10 de agosto de 2014

debaixo duma pedra...

debaixo duma pedra...

havia uma pedra angulosa,
cerca de minha casa.

sempre a vi ali.
inerte e morta.

passava sobre ela.
e até me sentava.

era só pedra.

um dia, levantei-a.

encontrei uma toca.
com meia dúzia de ovos.

fiquei intrigado.
de que seriam?

voltei a baixá-la
e fiquei à coca.

dias depois, ao nascer do dia,
o sol abria.

ali à volta,
uma meia dúzia de chascos,
muito novinhos,
se bamboleava,
cantarolando,
debicando o chão.

em grande festa.
alheio ao perigo.

um a um, peguei em todos.
fui guardá-los numa gaiola.
cuidei deles.

foram crescendo,
pareciam felizes,
batiam as asitas
queriam voar.

abri-lhes a porta.
levantaram voo.
sempre por perto.

a noite veio.
eles não.

no dia seguinte,
ao amanhecer,
fiquei à espera.

eis que da toca,
um a um, sairam
e ficaram voando,
por ali às voltas.
ao pé da gaiola.

abri-lhes a porta.

um a um, entraram.
comeram o que havia
e depois sairam...

nunca mais voltaram.

Mafra, 10 de Agosto de 2014
Tarde de sol
Joaquim Luís Mendes Gomes




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