segunda-feira, 25 de agosto de 2014

os estreitos...

os estreitos...

depois duma subida sinuosa,
numa via extraída à escarpa,
com o medonho fundo do abismo
sempre em ameaça,

é um alívio e um fulgor
passar um estreito,
onde, parece,
só caber um à vez

e lançar os olhos
na imensidão dum vale,
florido e remansoso,
onde reina a calma
e o nascer do sol.

tudo ficou para trás.
esquecido.
valeu a pena o que se sofreu.

a vida é assim.
tem escarpas e tem ravinas.
bem abundantes e inesperados
são os abismos.

por isso, temos braços,
fortes e abertos
e temos os pés,
a rasar o chão,
um sózinho,
por sua vez
e dois olhos bem abertos
a mostrarem sempre
o melhor carreiro.

aquele que leva seguro
até ao cimo,
onde um estreito,
se abrirá, de par em par,
e nos desvenda
a esperança do futuro
e um nascer de sol em cada dia.

ouvindo Alice Sara Ott ao piano, tocando Grieg

Mafra, 26 de Agsto de 2014
6h1m

o dia está a nascer lento e cinzento

Joaquim Luís Mendes Gomes

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