sábado, 4 de outubro de 2014

viagem de outono...

viagem de outono...
marquei minha viagem
para o final do outono,
ainda a tempo
das vindimas da minha aldeia.
quero ouvir os coros barítonos
e os brados daqueles jovens,
a meio das escadas,
por já terem as cestas cheias.
pelas moçoilas com cestos vazios.
quero ouvi-los, de hora a hora.
comer com eles as sardinhas fritas
e a broa loira.
apanhar os bagos maduros
que foram caindo.
beber um trago.
do vinho velho,
na despedida.
acompanhá-los pisando as uvas
no lagar,
depois do jantar,
pela madrugada.
e dançar o vira,
com as moças trigueiras,
faces rosadas,
mostrando as pernas,
em rodopio.
na eira ao sol.
e esperar o mosto doce,
quando, vermelho,
ele vai para a pipa.
só lá voltarei,
no outro ano,
para beijar a cruz,
com aquela gente,
pela páscoa santa...
Mafra, café caracol, 4 de Outubro de 2014
16h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Tarde amarela...


esta tarde amareleceu suave.

mais lento que nunca,
o sol desceu
e poisou terno,
no telhado da minha alma.

quis entrar e eu deixei.

servi-lhe vinho
como nunca provara.

sentou-se à mesa.
pus-me a contar-lhe a minha vida.
do passado até agora.

ouviu atento.

no fim,
de olhar doce e quente,
disse:

- a vida deu-ta Deus...
só a ti pertence
e teu é só o presente...

D'Ele é tudo.
Tu.
Teu passado, o presente e o futuro.


ouvindo Moldau de Smetana

Mafra, 24 de Setembro de 2014
17h16m
Joaquim Luís Mendes Gomes

tarde amarela...

Tarde amarela...


esta tarde amareleceu suave.

mais lento que nunca,
o sol desceu
e poisou terno,
no telhado da minha alma.

quis entrar e eu deixei.

servi-lhe vinho
como nunca provara.

sentou-se à mesa.
pus-me a contar-lhe a minha vida.
do passado até agora.

ouviu atento.

no fim,
de olhar doce e quente,
disse:

- a vida deu-ta Deus...
só a ti pertence
e teu é só o presente...

D'Ele é tudo.
Tu.
Teu passado, o presente e o futuro.


ouvindo Moldau de Smetana

Mafra, 24 de Setembro de 2014
17h16m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 16 de setembro de 2014

caminhos paralelos--

Caminhos paralelos…

Andamos neste mundo,
Como num deserto de caminhos paralelos.
Nos cruzamos.
Saudamos.

Fazemos nossas compras,
Nossas oferendas,
nos brindamos.

Nos aliamos em braço dado.
Cada par, em sua senda.

Nos amamos.
Nos embriagamos de perfumes.
Geramos os nossos frutos.
Os elos desta cadeia d’oiro.
Não tem mais fim.

Sonhamos dos mesmos sonhos
E também dos pesadelos.

Carpimos de lágrimas
Os nossos mortos.

Que cortejo longo,
A vaguear em festa,
Por este mundo.

Nos alegramos com o bem dos outros
Como eles de nós próprios.

Sempre à espera de melhores dias.

Foi assim que o Criador fez
Este relógio.
E o sustenta com a corda
Que só Ele dá…

Mafra, 15 de Setembro de 2014
14h7m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sótão das ideias e velharias

Sótão das ideias…e velharias

Cansado. Esgotado.
Deste deserto à volta.
Subi ao sótão
Das minhas ideias,
Passadas ou esquecidas.

Remexi caixotes.
Estavam por idades.
Infância.
Adolescência.
Juventude.
Maioridade.
E, ainda vago,
já lá está o da senectude.

Um a um, os vasculhei.

Lá estava o berço
Que me embalou.
Em meia lua.
Um baloiço em pau.
Azul de mar.
Já desmaiado.
Veio de trás.
e serviu para mim.

Meu cavalo de pau.
De olhos redondos,
Muito luzentes.
E tinha orelhas.

Meu ciclista alegre,
duma roda só
Que eu empurrava,
Com velocidade.

A minha fisga.
Onde afinei a pontaria ao longe.
Que me serviu para a vida.

O meu pião. Bojudo.
Tinha cá um bico!...
E o das nicas.
Todo lascado.

As minhas botas.
Leves. Feitas à mão.
Iam comigo a todo o lado.
Que bem corriam.
Coladinhas ao chão.

O triciclo de madeira
Que o joão alfaiate
Me construiu…
O patrão e mestre.
Era o meu pai.

Uma gaita de beiços.
Onde eu dobrava.
Modinhas da terra.

Até um caniço.
Que eu fabriquei à mão.
Em paus de vime.
E apanhei pardais.

Lá estava o tercinho.
Bolinhas pretas.
Cinco mistérios.
E ave marias.

Meu livro de missa,
Com orações.
Que lindas eram.
Falavam do céu,
Onde não havia estrelas
E morava Deus…

Ouvindo “serenata de Schubert” “Claire de lune”de Debussy, a partir do youtube

É madrugada…já trovejou

Mafra, 16 de Setembro de 2014
5h18m
Joaquim Luís Mendes Gomes

de regresso à minha aldeia---


de regresso à minha aldeia...

faço preces a Deus
por cada migalhinha de pão
que como na minha aldeia.


por cada passo que dou
nos caminhos que pisei
desde a casa onde nasci,
à escolinha e à catequese,
que me deram a luz
para a vida inteira.

por cada abraço,
cada sorriso,
que me dão,
com tanta alma.

em cada canto
e cada esquina,
cada monte e cada campo,
há uma história linda
que eu não esqueci.

até a chuva e a trovoada
me têm o sabor das alvoradas
e dosanos quentes
que aqui vivi.

são as mesmas
todas as rendas
das serras altas,
todos os vales,
aqui em redor,
de Santa Quitéria
ao Marão.

as mesmas cruzes
e campanários,
tantas ermidas brancas,
por aqui espalhadas,
pedindo ao Senhor
a sua bênção.

foi aqui que eu vim ao mundo.
cresceram minhas raizes.
aqui venero a mesma Senhora
de Pedra Maria
que me acompanhou por todo o lado.
Sua bênção minha Mãe!...

e casa de minha irmã

Padra Maria, 17 de Setembro de 2014
6h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 13 de setembro de 2014

sózinha na estrada

sozinha.
açafate à cabeça.
descalça na estrada,
vai pressurosa.
a caminhode casa
a fazer o almoço
para a pequenda
regalada da vida.
ente-se amada.

caregada de uvas,
vermelhas de vinho.
que regalo comer.

yodos dançando,
`volta da mesa,
yoalha de linho
corda do sol.
o´aravilha! é a vida a sorrir.