sábado, 29 de setembro de 2012


Foi assim…o fim deste dia

 

A noite chega devarinho,

O céu, luminoso há pouco ,

Vai desmaiando,

Lentamente,

Dum fogo vivo,

Faz-se lareira quente

Em cinza.

 

Umas résteas de nuvens,

Como farrapos ou restos

Que ficaram da festa,

Ainda se voam lentas.

 

As janelas fechadas

Do casario da cidade

Já luzem

Como pontos amarelos

De fósforos acesos.

 

As sombras do arvoredo negro

Começam a recolher o fumo,

Das chaminés

E os cumes do casario

Gritam pela esperança

Da luz branca

Que há-de vir,

Depois da noite.

O silêncio cresce

À medida em que a noite

Abraça os amantes

Apaixonados da madrugada…

 

 

Ovar, 27 de Agosto de 2012

8h5m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Hino à Alegria

 

Só sei viver apaixonado..

Olhos bem abertos,

Abraçado à vida

Que me faz viver.

 

Quero sonhar

Que vou à lua,

Quando me apetecer,

Para ver o brilho azul

Desta terra-mãe.

 

Quero brindar de alegria,

Com meus amigos todos,

Fitando as estrelas todas,

Sem as contar,

Nas noites de Agosto,

Regadas do vinho mosto,

Que encheu o meu lagar.

 

Quero ser maestro de sinfonias,

De baladas e lausperenes,

E guia-mor das escaladas,

Pelas escarpas agrestes

Das cordilheiras.

 

Quero pintar quadros de sonho,

Com muita luz e neblina,

Sobre lagos mansos,

As boninas extensas,

Mais silvestres,

Fumarolas quentes em borbotões,

E a lava ardente de vulcões

Que tudo apaga à sua frente.

 

E se eu pudesse,

Convidava toda a gente,

Para minha festa de louvor,

A quem, de graça,

Nos enche de alegria…

 

Mafra, 4 de Agosto de 2012

15h11m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

A vela que se apagou…

 

Inesperadamente,

Entreabriu-se a porta da minha sala

E, como em presságio,

 Deixou entrar uma luz de vela.

 

Fui à sorte…

E uma chama mortiça e moribunda

Estremecia de soluços quase morta.

 

Por mais vida

Que eu soprasse sobre ela,

não achava a forma

De a salvar da morte certa

Que a espreitava.

 

Flamejando aflita, apoplética,

Esbracejava hirta,

Como braços loucos,

Desesperados dum naufrágio …

 

E, aos poucos,

Lentamente,

Como um barquinho tenro,

Que sucumbe,

Foi desfalecendo inerte,

Como quem se entrega

À própria morte,

que lhe chegara exactamente

Na hora certa…

 

Uma nuvem ténue,

De silêncio e escuridão

Invadiu-me a sala

Que ficou triste e negra

Como breu…

 

Ovar, 24 de Agosto de 2012

5h6m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

 

Como semente

Que se oculta sob a terra,

 Sua vida ao sol

Se suspendeu e se escondeu.

 

Deixou passar

Vagas bem agrestes

Duma intempérie que o ameaçavam.

 

E , no silêncio fúnebre da escuridão,

Foi haurir força, 

Para germinar,

Para crescer

E ressurgir em liberdade,

Como planta arbórea,

Carregada de frutos saborosos.

 

Como humildes gotas de água

Que, em paulatina procissão,

Engrossam ocultos lagos,

Sob o chão,

Donde brotam fontes eternas

E rios caudalosos.

 

Como os sorrisos ternos

Eas sonoras gargalhadas das crianças

Levantam vagas

Carregadas de alegria,

A caminho da escola,

 

Assim se apagou

E prostrou num retiro,

Oculto,

Para germinar …

E, sei lá quando,

 Muito mais rico

E mais fecundo renascer…

 

Ovar, 29 de Setembro de 2012

6h36m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

É amargo

Este café da Fnac.

 

O tecto é negro.

A sala sombria,

Apesar das luzes.

Nada consola

Feridas da alma,

Que só o tempo

Não sara...

 

Tudo me lembra

Sorrisos sem conta,

Que foram contigo

E p’ra sempre...

 

Quem mos tirou,

Foi quem mos não deu…

 

Nunca mais, irei saber,

Como tudo se deu,

Se havia ou não razão de ser,

Para que tudo fosse assim,

Como agora é.

 

Sei que um novo céu

Se abriu

E cobriu de estrelas,

Como um campo florido,

Onde só bailam borboletas

E se ouvem os gorjeios

Da bravia passarada.

 

Ó maviosa fonte de água pura!...

Nunca mais senti sede.

Minha alma deixou de ter frio,

De tão quente.

 

Ovar, 7 de Setembro de 2012

4h4m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

Ouvindo Lang Lang em SchumannTaumerei