segunda-feira, 31 de dezembro de 2012


Ponto por ponto,

De degrau em degrau,

De lanço em lanço,

Se avança e sobe,

Para chegar ao cimo

Ir mais além,

Que nunca é o fim.

 

O que é preciso

É força e esperança.

 

Só se caminha

 Com chama acesa e quente

Em que se confie

E que vá à frente

E bem à vista.

 

Olhar para trás…

Só para descansar,

Largar o que não vale

Ou estorva

E reflectir a rota.

Como  Marco Paulo…

Ou Vasco da Gama…

 

A vida é andar

Sentindo e amando,

Com todo o tempo,

Frio ou calor,

Alegre ou triste,

Em qualquer lugar.

 

Quem manda em mim

É só o sonho

Que me acorda

E faz caminhar…

 

Ouvindo a Serenata de Schubert, por Horwitz

 

Zehlendorf, 31 de Dezembro de 2012

10h20m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

domingo, 30 de dezembro de 2012


Ninguém desespere.

Pede e ora.

Insiste sempre e espera.

Um dia será.

Se for bom para ti.

Te garanto.

Assim foi comigo e é.

O acaso não existe.

Que bom crer que tudo é… por bem,

Embora não o pareça,

Num primeiro olhar.

Custa!...

Não é só ao irmão.

Horas boas e outras menos…

Quem as não tem.

A vida, só assim, faz sentido.

Seria absurda, se assim não fosse.

Não há acaso.

Nem  quem o procura o tem.

Mas, quem manda em mim, sou eu…

Mas, sem ti e Ele, não sou ninguém…

 

Ouvindo Zimmerman Beimstein em concerto nº 3 de Bethoven

 

Zehlendorf, 30 de Dezembro de 2012

8h25m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

É no meio das sinfonias vastas,

 Quais searas maduras,

Que se encontram lindos espaços,

De beleza singela,

Pedaços escondidos,

De jardins ao vento.

 

Ninhos secretos,

Segredos de cuco,

 

Tão bem ocultos,

Só se revelam

A quem não desiste

De os procurar…

 

Gaipas de uvas,

Muito docinhas,

Parecem de mel,

Ó que regalo!...

Menino da escola.

Ficaram esquecidas,

Depois da vindima.

 

Enxames de abelhas

Favos de mel,

Amoras maduras,

Doce farnel.

Golpes de mão,

Assaltos à faca,

Pedaços de sangue,

Sempre a jorrar

Até à exaustão.

 

Seios de mãe,

Prontos a dar

Ao filho a nascer…

Oásis de verde,

No calor do deserto.

Castelos a arder,

Com o sol do luar,

Fornalhas acesas,

Cantares de sereias,

Que fazem sonhar…

 

Ouvindo Sinfonia nº 1 de Gustavo Mahler, com Bernstein,

 

Zehlendorf, 30 de Dezembro de 2012

10h 39m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

 

 

 

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012


Ó esplendorosa madrugada,

Inundada de luar!...

Nem uma só faúlha morta

Mancha tanta luz neste céu imenso,

 

Um farol de luz intensa,

Reina e banha,

Quase encandeia….

Como em pleno luar de Agosto

E é fim de ano,

Um Dezembro medonho,

De chuva e neve,

Aqui em Berlim.

 

Tanto regalo consola meus olhos,

Minha fala prende,

E deveria cantar …

De tanto encanto,

Nesta madrugada alta,

Que embala a terra cansada,

Enquanto dorme e descansa.   

 

Ouvindo Hélène Grimaud em Sonata de Behthoven,

Zehlendorf, 28 de Dezembro de 2012

6h27m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012


 
 
 
Acordei de madrugada.

De olhos fechados, pus-me a pensar.

Era o silêncio.

Meu pensamento soltou-se

E foi livre, vertiginoso,

Mil vezes deu a volta ao mundo.

À velocidade do pensamento.

 Do meu passado até ao presente

E, de novo, até ao passado…

Que cortejo sem fim,

De lembranças quentes,

Em vários tons e cores.

Umas alegres, vivas,

Outras menos.

Me passou à frente!...

Todas com sabor a amor.

……………………………………….

De quando menino,

Em bicos de pés,

Rés-vés  às mesas

Da costura de meu pai…

Ou do corte de alfaiate.

Havia moldes,

Que eu não conseguia decifrar…

Tesouras, de aço,

De vários tamanhos,

Havia cheiro a giz,

De várias cores …

 

Carrinhos de linha, a dar com um pau

( para mim, só eram bons quando vazios…)

Etantas agulhas…

Para os vários fins.

E uma fita métrica…

Que me era um sonho.

 

Pareciam fadas,

Pareciam sereias,

Naquelas mãos de mestre…

Como saiam contentes os seus fregueses

Com a roupa nova!...

- Até depois, Quinzinho!...

 

Zehlendorf, 27 de dezembro de 2012

7h38m

Joaquim luís M. Mendes Gomes

Ouvindo Lang Lang, concerto nº 2 de Rachmaninov

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Bastaria uma golfada do meu sol

Para desfazer a carapaça de cinza

Que nos tapa e esconde

Nestas ruas caladas e sombrias.

 

Nem as vidraças das casas,

Tão tristes,  reflectem os céus,

Voltadas para o chão.

 

Secou-se a neve que ontem,

Brilhava na terra.

Só frias calçadas descalças,

Com pedaços e restos à espera de mais.

 

Rostos opacos,

De vultos escuros,

Vão nos passeios sem chama.

 

Nas calhas luzentes sem fim,

Rolam eléctricos que gemem de frio.
 

Por trás das vidraças,

Há mesas redondas, caladas, sem cor,

Onde se bebe o café da manhã,

Com bolas e natas.

 

Pelos ares sem encanto,

Em vez de andorinhas, 

Grasnam os corvos zangados

Da fome maldita

Que encontraram no chão.

 

E é assim, nesta manhã,

Aqui, em Berlim,

Depois do Natal…

 

Berlim,-Mitte, 26 de Dezembro de 2012

9h46m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


Às vezes, parece que ando tão só

E  às escuras,

No mundo.

Não sei para onde vou

E caminho …

 

Mas não.

Oiço vozes em mim.

 

Chamam pelo meu nome.

Como quem sabe quem sou.

Terão vivido comigo.

Parecem vir do além…

 

 Me soam tão dentro,

Sabem tudo que eu fui e que sou.

Me conhecem como ninguém.

 

E como me querem bem. ..

Basta dispor-me a ouvi-las

E nunca me sinto sozinho.

 

Berlim, 24 de Dezembro de 2012

10h02m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Os factos na vida, hoje em dia, Sucedem-se, por acaso ou fortuna, Vão arrastando no caminho do tempo, Horas felizes e horas atrozes. A cada um sozinho e ao mundo inteiro. Dum modo fenomenal. Como nunca aconteceu no mundo e tempos. Tudo se sabe na hora, De todos, em cada canto ou esquina. Ficamos boquiabertos. Inauditas. Nunca vistas. Fazem-se acções Que a natureza humana Fica desfeita e desfigurada. À escala das pessoas sós E da multidão das gentes. Sem limites. Contemplações de ordem humana. Tudo se destrói. Sem olhar a quem e nada. Se desfaz e estraga, Na terra e mar, No alto do céu e fundos da terra. Destroem-se países, Como quem desfaz cortiços de abelhas . Se mente a toda a escala: É nas bolsas. É nas sinistras bancas. Onde entra e sai tanto dinheiro falso A que não corresponde qualquer riqueza…. Não há porta rica ou pobre Onde não bata. Tanta farsa…em altas escalas. Ao serviço de quem?… Ninguém sabe ao certo. Grandes exércitos. Grandes Religiões… Tudo perpassa. Os Vaticanos…as casas brancas…as realezas… Tudo se destroça e esgaça. À ordem de baixas crenças. Dos sionistas…das maçonarias… Dos rotchilds… Das mixórdias sexuais… Negras finanças… Só servem o mal… É a hora final desta babel-desgraça. Só o Criador pode pôr ponto final!… Zehlendorf, 21 de Dezembro de 2012 8h39m Joaquim Luís M. Mendes Gomes
Vejo milhões de traços negros, Entrelaçados, De braços nus de caules despidos, Regelados de frio. Elevados para os céus. Ficaram apáticos, Quando as folhas lhes caíram, De tristes, E se foram atapetar o chão. Veio a neve Em caldeirões de cal, Tudo tapou … E, agora, morreu.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Soam-me longe os lamentos De quem tão cedo partiu sonhando, Com nos ver crescer… E também os frutos que havíamos de ter. Seriam tão seus Como foram e são nossos. Para nosso regalo, Vossos retratos são… Sem o saberem. Neles vos revejo, de hora a hora, O mesmo sorrir, os mesmos jeitos, Até o tom da voz… Assim calo as saudades, Mas nunca os lamentos Que me choram na alma… Zehlendorf, 11 de Dezembro de 2012 23h11m Ouvindo O Sonho de Amor de F. Lizt Joaquim Luís M. Mendes Gomes

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012


 
 
 
Foi-se embora de vez

Aquele tornado branco,

Feito de neve,

Luzindo ao sol?...

 

Ficaram tão tristes

Aqueles ramos negros,

Sem sombra,

E um chão de lama.

 

Como um cemitério

De arvoredo nu.

Onde habita a morte.

Onde o silêncio chora.

É o desalento em forma.

 

Ninguém consegue imaginar

Como era lindo…

Aquele noivado louco,

Tecido de neve…

Sempre a cair.

 

E, lá mais atrás,

Aquele arvoredo frondoso,

Vestido de verde,

Coroado de oiro,

Bailando ao vento,

Um império de sol.

Um castelo encantado,

Tapada real.

Um reino de paz.

Onde sabia viver…

E que… há-de voltar.

 

Ouvindo Serenata de Schubert-

Zehlendorf, 18 de Dezembro de 2012

8h15m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Sei que para cima deste toucado

De nuvens brancas,

O sol brilha e queima.

 

O céu azul reina e inunda os olhos

De esperança e luz…

 

Aqui, tudo é sombra fria.

 O dia nasce já cansado e triste,

Com vontade de dormir.

 

Nem o aconchego de lareira

Que aqui reina, chega

Para descobrir a manta triste

Que nos envolve.

 

Por mais luzinhas e artifícios,

Com feirinhas garridas

E fumarada acesa de salsichas,

Canecadas de vinho quente,

Por essas ruas e jardins de inverno,

 

Nada chega ao meu natal de inverno,

Com formigos, rabanadas

E o bacalhau com todos de Portugal!…  

 

Oxalá fosse igual em todos os lares…

O que não é..e aí é que está tudo mal!...

 

Ouvindo Hélène Grimaud em Sonata de Beethoven

 

Zewhlendorf, 17 de Dezembro de 2012

9h23m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

domingo, 16 de dezembro de 2012


Hoje há mais neve branca lá fora.

E cá dentro, também.

Lá fora é natural.

O sol vem e ela se afasta,

Tão lenta e delicada,

Vem o calor e de novo,

Rebenta a vida em botões de flor.

No verde das folhas.

 

Chegam os cantos sonoros dos pássaros

Que fugiram do frio.

 

Vem o sol e a praia.

E o lanche no bosque.

À beira do rio.

 

Só o nevão que caíu em mim,

Não tem meio de apagar.

Estou regelado.

E não aqueço com nada.

Nunca mais irei ter sol.

Meus olhos, parece,

Vão secar … para sempre.

Nem lágrimas correm pela minha face.

 

Um deserto gelado e frio.

Não passa ninguém.

Nada vem alegrar meus dias.

Noite cerrada e fria.

Mas, bem no fundo, sei.

A Primavera irá voltar…

 

 

Ouvindo canções dos Andes

 

Zehlendorf, 13 de Dezembro de 2012

8h4m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

Neste nascer de Sábado,

Cinzento e frio, 

Nem a brancura da neve,

Que cobre o chão,

Alegra meus olhos cansados

Das  sombras sombrias 

- tudo  enegrecem-

Parecem reais.

 

Que túnel  longo ,

Abafado,  sem fim,

Carrega meus passos pesados

A caminho de quê?...

 

Só as asas do sonho,

Onde ainda reina o sol,

Me libertam desta escuridão

Que se abateu sobre mim…

 

 

Zehlendorf, 15 de Dezembro de 2012

9h49m

Terceiro Domingo de Dezembro

 

Tudo está parado na terra.

Neste amanhecer de domingo.

D’hora a hora, em silêncio,

Roda vazio um eléctrico na estrada,

Na sua ronda constante.

 

Pela trela curta e apertada,

Vadiam em cima da neve,

Os canitos aflitos,

Duma noite, de continência.

 

Numa ou noutra varanda,

Alheios ao frio,

Assomam famintos,

Os dependentes do fumo.

 

Só os corvos negros não páram.

Debicam, esgravatam na neve,

À procura de lagartas ou pão.

Para levarem no bico.

 

 

Na cozinha, cá dentro,

Ouve-se o silvo da cafeteira.

Ainda bem.

Já cheira a café.

 

 

Berlim, 16 de Dezembro de 2012

9h39m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012


Reichelt, 29 de Novembro de 2012

11h58m

Quinta- feira de chuva fria, quase neve. Viemos tomar aqui o pequeno -almoço e fazer umas compras.

 Estive a tentar escrever no computador mas não consegui entrar.

A net estava pastosa. Queria escrever um poema ao som duma música dos Vangellis que já tinha gravada.

Não consegui. Agora, não me acodem ideias para escrever poesia.

O movimento no supermercado é incessante e calmo. Predomina a gente de meia-idade para cima.

Vêm calmamente. Com seus carrinhos e sacos próprios.

Alguns trazem cestas de vime como se usava tanto na minha infância.

Lembro-me da senhora Julinha dos ovos…

Vão passando pelas prateleiras e compram comedidamente.

Gosto de sair à noite com o meu canito.

 Corro pelas bermas das ruas todas aqui à volta.

Estão carregadas de folhas secas, enleadas de restos da neve eterna.

 Ele dá pulos de contente, e puxa pela corrente que nem um burro, embora os seus treze anos de existência, connosco.

Um coker muito vetusto, mas bem conservado. Saudável. Apenas mouco.

São os próprios veterinários que o reconhecem. Tem um coração de jovem. Todos os índices em boa forma.

Em casa, é um come e dorme. Muito paciente. Muito leal e fiel às suas normas.

Pois, esse passeio obrigatório dá-me o ensejo de entrever a vida destes alemães de leste, recolhidos nos seus palacetes, semi-iluminados, de vidraças abertas cá para o exterior, sem qualquer limite.

Vê-se como arrumam as suas coisas, nas salas e bibliotecas, onde as mobílias primam pela simplicidade e feição utilitária e funcional, em contraste aos costumes da nossa terra. Têm de tudo. Fora e dentro. Um asseio completo. No esmerado cuidado do jardim. Com ruinhas, com grande variedade de arbustos, sempre acompanhados das papeletas com indicação da espécie e suas origens.

 

Nelas vive gente reformada mas também activa.  Uma característica ressalta eloquente: é extrema ordem que eles pôem em tudo. No que fazem e na forma como se comportam. Afinam todos pelo mesmo diapasão. Não se vêm rostos desmotivados em parte alguma. As moças das caixas dos supermercados, os empregados nos estabelecimentos comerciais todos, pequenos e grandes, os empregados de mesa, dos correios, da limpeza pública, todos se revelam  dedicados ao que fazem. Vivem à vontade e sem stress de amargura.

 

Que distância vai deles às gentes da minha terra!...    

 

Zehlendorf, 3 de Dezembro de 2012

20h7m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes