Gosto de sair à noite com
o meu canito.
Corro pelas bermas das ruas todas aqui à
volta.
Estão carregadas de
folhas secas, enleadas de restos da neve eterna.
Ele dá pulos de contente, e puxa pela corrente
que nem um burro, embora os seus treze anos de existência, connosco.
Um coker muito vetusto,
mas bem conservado. Saudável. Apenas mouco.
São os próprios
veterinários que o reconhecem. Tem um coração de jovem. Todos os índices em boa
forma.
Em casa, é um come e
dorme. Muito paciente. Muito leal e fiel às suas normas.
Pois, esse passeio
obrigatório dá-me o ensejo de entrever a vida destes alemães de leste,
recolhidos nos seus palacetes, semi-iluminados, de vidraças abertas cá para o
exterior, sem qualquer limite.
Vê-se como arrumam as
suas coisas, nas salas e bibliotecas, onde as mobílias primam pela simplicidade
e feição utilitária e funcional, em contraste aos costumes da nossa terra. Têm
de tudo. Fora e dentro. Um asseio completo. No esmerado cuidado do jardim. Com ruinhas,
com grande variedade de arbustos, sempre acompanhados das papeletas com
indicação da espécie e suas origens.
Nelas vive gente
reformada mas também activa. Uma
característica ressalta eloquente: é extrema ordem que eles pôem em tudo. No
que fazem e na forma como se comportam. Afinam todos pelo mesmo diapasão. Não
se vêm rostos desmotivados em parte alguma. As moças das caixas dos
supermercados, os empregados nos estabelecimentos comerciais todos, pequenos e
grandes, os empregados de mesa, dos correios, da limpeza pública, todos se revelam
dedicados ao que fazem. Vivem à vontade
e sem stress de amargura.
Que distância vai deles
às gentes da minha terra!...
Zehlendorf, 3 de Dezembro
de 2012
20h7m
Joaquim Luís M. Mendes
Gomes