quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Bastaria uma golfada do meu sol

Para desfazer a carapaça de cinza

Que nos tapa e esconde

Nestas ruas caladas e sombrias.

 

Nem as vidraças das casas,

Tão tristes,  reflectem os céus,

Voltadas para o chão.

 

Secou-se a neve que ontem,

Brilhava na terra.

Só frias calçadas descalças,

Com pedaços e restos à espera de mais.

 

Rostos opacos,

De vultos escuros,

Vão nos passeios sem chama.

 

Nas calhas luzentes sem fim,

Rolam eléctricos que gemem de frio.
 

Por trás das vidraças,

Há mesas redondas, caladas, sem cor,

Onde se bebe o café da manhã,

Com bolas e natas.

 

Pelos ares sem encanto,

Em vez de andorinhas, 

Grasnam os corvos zangados

Da fome maldita

Que encontraram no chão.

 

E é assim, nesta manhã,

Aqui, em Berlim,

Depois do Natal…

 

Berlim,-Mitte, 26 de Dezembro de 2012

9h46m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

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