segunda-feira, 30 de setembro de 2013

com fé e verdade...


Com fé e esperança...

 

Não importa o tempo que faz,

Se chove,

Se venta,

Se neva,

Fora ou dentro de nós,

Tristeza, alegria ou dor!...

 

Tudo se acaba...e passa.

 

Há sempre um sol

Que nasce e que brilha

E a doçura da noite

Que serena

E  refaz nossas forças

E nos põe, de novo a viver,

Quando o sol nos vier acordar...

 

Podem cair pedras

Do alto dos céus.

Pode a terra tremer

Ou o mar rebentar ,

Em fúria feroz.

 

Se nossa alma

Está quente de amor

E vontade de amar...

De verdade,

Com fé e a certeza

De que Aquele

Que nos trouxe ao mundo,

E foi por Amor...

Nos há-de acudir,

Como Pai que Ele é!...

 

Ouvindo Nabuco de Verdi...

 

Mafra, 1 d Outubro de 2013

6h53m

Joaquim Luís Mendes Gomes

desertos da vida...

Os desertos da vida...

Ausências lembradas
De vidas passadas.
Lembranças vazias
De casas fechadas.
Espaços sem vida
Que o tempo secou.

Esperanças perdidas
De quem partiu e não volta.

Braços caídos, sem forças,
De quem desistiu.

Desafios sem conta
Que nunca venceram.
Contas erradas
De quem sonhou e perdeu.

Gritos de dor
Que morreram sozinhos.
Feridas de amor
Que nunca sararam.
Liberdade perdida
Que nunca voltou.

Quimeras de sonho
Caladas na noite.

Amarras à solta
Dum barco perdido.

Fogueiras a arder
Se apagaram sem lenha.

Árvores crescidas
Sem folhas nem fruto.

Promessas de amor
Que a morte matou.

Aves canoras
Que perderam seu canto.
Raios de sol
Que nunca viram a terra.

Sementes de pão
Que o vento levou.

Pássaros vadios
Caídos no chão.

Mafra, 30 de Setembro de 2013
21h32m
 Joaquim Luís Mendes Gomes





subindo para o alto...


73.-

 

Subindo para o alto...

 

Lancei minha escada.

De degrau em degrau,

Subo incessante,

Enquanto o sol brilhar

E minha alma

Sentir o calor da vida

Que jorra,

Gratuita, abundante,

Com cor.

 

Não olho para o chão,

Me agarro bem preso,

Com a força que sinto

Da fornalha de fé

Que Alguém, sem fim,

Acendeu.

 

Quanto mais subo,

Mais leve e mais puro

É o ar.

Nada me atinge.

Não vou a fugir.

Só quero gritar

A quem me ouvir,

De longe e de perto:

- A vida é uma escada,

Infinita e segura.

Entre a terra e o alto.

Só se sobe com Fé...

 

Ouvindo Hélène Grimaud, em Adágio de Bach

 

Mafra, 230 de Setembro de 2013

8h8m

domingo, 29 de setembro de 2013

pescar à sorte...

Pesca sem sorte...

Lancei-me ao mar,
À pesca.
Lancei as redes,
Esperançado numa grande pesca.
Ao fim de horas, puxei as redes.

Que desolação!...
Vieram nuas.
Regressei a casa,
Desolado e triste.

Até o mar,
Me cerrou as portas.
Deixei o barco,
Pesado e triste,
Na areia morta.

Fugi para a serra,
A olhar o céu.
Contei as estrelas,
Pela noite fora.
Pensei na vida.
Fiz minhas contas.
Cheguei à conta
De mudar de vida.

Na minha horta,
Vou lançar semente.
Entreguei ao sol
Minha esperança e vida.

Ao raiar da aurora,
Do silêncio oculto,
Surgiu o verde,
Com vida ardendo.
Em pouco tempo,
Colhi o fruto.
Regalei a mesa,
Com feijões raiados
E meu caldo verde.
Bênção de Deus,
Criador da terra.
Fogueira de amor,
Com mesa posta,
Para toda a gente.
É só cavar!...

Mafra, 29 de Setembro de 2013
20h34m
Joaquim Luís Mendes Gome

tremendas frustrações...


Tremendas frustrações...

 

Emboscadas,

Nos derradeiros anos,

Quando a vida,

Que já dura há tanto,

Deveria ser de paz e amor,

Se converteu em pranto,

Tormenta e dor.

 

Quando o coração cansado

De tanto bater,

Sorria feliz,

Para se espraiar ao sol,

Sem contar o tempo,

Com contas bem feitas,

E nada faltar;

 

E, dos rebentos criados,

Com tanto carinho,

E tanto suor

Se ergueram árvores,

Robustas,

E só dão sombra...

Deveriam dar fruto;

 

Quando os céus escureceram,

De tanta nuvem de desordem

Negra

E desvalor

E a humanidade inteira

Ficou escrava do dinheiro imundo,

Para quem o homem

Nada conta...

Serão prenúncio final

Dos fins do tempo?...

 

Mafra, 29 de Setembro de 2013

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 

 

sábado, 28 de setembro de 2013

ordem nos passos...

Ordem nos passos...

Sempre ordenei os meus passos,
Pelas veredas da vida,
Os pés bem presos à terra,
Os olhos bem fixos,
Além.

Senti as pedras do chão,
Com muitas passadas em falso.
Correu-me em bica o suor.
Nunca voltei para trás.
Nunca desisti de subir.

Da chama de fogo que ardia,
Mesmo nas horas de frio,
Sózinho,
Nunca me faltaram as forças
Para prosseguir o caminho.

Com o brilho dos erros que dei,
Eu via as bermas da estrada.
Nunca caí no abismo.

Foi nas horas mais negras
Que eu mais claro aprendi.

Valeu a pena a viagem.
Pelas terras e gentes que vi.

Pelas passadas sem fim,
Por tudo quanto recebi
E que dei...
O muito que guardo em mim.
Para um dia eu deixar...
A quem começa o caminho.

Póvoa do Lanhoso, 28 de Setembro de 2013
8h29m

Joaquim Luís Mendes Gomes


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

dialogo das trovoadas...


Diálogo das trovoadas

 

Voltei ao Minho de serras altas,

Com lugarejos dispersos

E campanários.

Restos de incêndios tórridos,

Mas vergonhosos.

Onde os olhos ávidos,

Das terras baixas

Podem espraiar-se

Na imensidão terrestre,

Com nuvens altas

E céu azul.

Vales de gargantas fundas,

Onde um rio longo,

Como serpente verde,

Deambula à sorte.

 

Vi os bois castanhos,

De olhos mansos

E hastes compridas,

Pastarem sadios,

Na encosta ao sol.

 

De repente, o céu opaco

Se toldou de negro.

Chegou o vento.

Escorreu a chuva,

Em catarata.

 

Na madrugada alta,

Começou a festa rija

Da trovoada,

Ribombando grosso,

Ao desafio.

Rasgando as trevas,

Com clarões de fogo.

Um fim do mundo,

Como não via há anos...

 

Póvoa do Lanhoso, 27 de Setembro de 2013

 8h19m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 

 

 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Pedra Maria

Pedra Maria

Vim achar o paraíso na terra.
Na casa da minha irmã.
Onde só mora o marido,
Na terra onde eu nasci.

Sinto-me abraçado por ela,
No quarto onde dormi.
Oiço sua voz a falar,
Como se estivesse aqui.

Uma sensação do céu.
Tão leve e pura,
Eu sinto.
Vejo-me de novo criança.
Parece mesmo que renasci.

É o mesmo o ar que eu respirava.
Nas terras de Varziela.
Só me falta ouvir as badaladas sonoras
E as horas das ave-marias
Que todos os dias ouvia.
Nas terras de Pedra Maria.

Bendita seja a Senhora,
Mãe da terra e Mãe do céu.
Ela me viu a nascer.




domingo, 22 de setembro de 2013

baladas do mar...

BALADAS DO MAR...

Oiço baladas cinzentas
Enroladas em ondas de espuma
Que me vêm de longe,
Dos longes do mar.

Baladas poveiras,
Carregadas de pranto
Carregadas de lágrimas,
De iodo e de sal.
Das horas de inverno
Das traineiras que foram
E nunca voltaram.

Com pais e irmãos
Que lançaram as redes,
Com braços de ferro
E o mar engoliu.

Cobriram de luto
As caxinas da Póvoa
Que viviam do mar.

Oiço-as agora,
Como as ouvi em pequeno,
Quando andava na escola.
E os gritos de dor,
Lançados ao vento,
Das mães e irmãos,
Bradando ao céu...

- Senhora da Guia!...

Nem Deus lhes valeu!...

Mafra, 22 de Setembro de 2013

Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 21 de setembro de 2013

rumo ao cimo...

Rumo ao cimo...
 
 
Arregaço as mangas,
Lanço-me à estrada,
Em procura d’alguém
Que venha e suba
Comigo.
 
Indiferente à distância,
Ao tempo.
Ao relevo do chão.
Se sobe ou se desce.
Se dói ou se cansa. 
 
O que conta é seguir.
Alcançar o cume do monte,
Onde se esconde um tesouro,
A vista do mundo.
Que anda
E que olha,
Distraído,
Sem ver.
 
Preferindo o chão
E os caminhos cá em baixo.
Com sombra e sem vento.
 
Depósito de lama.
Que escorre das encostas.
 
Repasto parado
Onde crescem os vermes,
Fechados nas tocas,
Não precisam de ar
Nem de luz.
Em letargia total.
 
Tudo apagado ou morto.
Ervas sem cor.
Alheio às luzes
Que iluminam a alma
Só olhando para o corpo,
Finito e mortal,
Mas vive da luz.
 
Ouvindo Schérazade de Rimsky-Korsakov
Mafra, 22 de Setembro de 2013
7h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes

horas escaldantes...

Horas escaldantes...

Em badaladas plangentes
Martirizam as gentes
Que choram. Desesperadas.
Sem horizonte,
À frente...
Nuvens de cinza
De fogo acendido.
Por mãos criminosas.
Queimam a paz
Que herdamos dos pais.
Chove veneno
Que a todos devora.
Mas do rescaldo
Virá a semente da paz...
E um jardim de perfume
Nossas campas,
Regadas de lágrimas,
De olhos em brasa...
Se fecharam para sempre
Da nossa vida roubada
Nesta terra queimada
Por mãos criminosas...
Que os há-de ceifar
Sem ninguém que os chore.
A história o dirá!...
Mafra, 21 de Setembro de 2013
13h34m

Joaquim Luís Mendes Gomes

horas escaldantes...

Horas escaldantes...

Em badaladas plangentes
Martirizam as gentes
Que choram. Desesperadas.
Sem horizonte,
À frente...
Nuvens de cinza
De fogo acendido.
Por mãos criminosas.
Queimam a paz
Que herdamos dos pais.
Chove veneno
Que a todos devora.
Mas do rescaldo
Virá a semente da paz...
E um jardim de perfume
Nossas campas,
Regadas de lágrimas,
De olhos em brasa...
Se fecharam para sempre
Da nossa vida roubada
Nesta terra queimada
Por mãos criminosas...
Que os há-de ceifar
Sem ninguém que os chore.
A história o dirá!...
Mafra, 21 de Setembro de 2013
13h34m

Joaquim Luís Mendes Gomes

a morte...

A morte...

Se eu tivesse de pintar a morte,
Pintava-a como uma nora.

Cheia de canecos,
Em cadeia,
Que enche e despeja...
Rola...que rola...

Rega de vida,
Morre e renasce...

Pelo caminho,
Canta que canta...
E chora que chora.

Lágrimas contadas,
Que nunca se acabam.
Todas guardadas.
Nem uma se perde.

Sorriem de verde,
Na frescura dum campo.

Na seara de pão
Que consola e que enche,
De vida e de paz,
 Até à hora da morte
E da vida que nasce.

Mafra, 21 de Setembro de 2013

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes 

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

sol de Setembro...

Sol de Setembro...

Numa tarde de sol,
Luminosa e seca,
Soltei meus pensamentos,
Como pombas livres.
A voarem à solta,
Em arcos de amor.

Pus-me a vê-los,
Brincando ao vento.

Ora sorrindo,
Ora chorando,
Conforme as ondas,
De paz ou de dor
Que subiam da terra.

Fiquei à espera.
Como um dono
Estremoso.

Só os recolhi,
Noite dentro,
Cansados de amar.

E depois, fui dormir
E voltei a sonhar,
Até o sol aparecer...

Mafra, 20 de Setembro de 2013
13h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes





quinta-feira, 19 de setembro de 2013

outra vez...

Outra vez...

Sou candeeiro apagado.

Só brilha
Se lhe ligarem a luz.

Gasta velas de fogo
Que duram menos dum mês.

Precisa do ar que recebe
Para aquecer e brilhar.

Se alimenta das sombras
Que queima,
Para poder caminhar.

Precisa de tintas e cores
Para seus quadros a óleo
Que, de graça,
Quer oferecer.

Precisa dos acordes do vento 
Na guitarra que toca
Para consolar quem o ouve.

Gasta notas de conto,
À procura das pautas mais lindas,
Para escrever o seu canto.

Só espera que o fogo e a chama
Nunca lhe falte 
E o dia nasça outra vez...

Ouvindo “Le Cigne”, com André Rieu

Mafra, 20 de Setembro de 2013
6h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Mafra, 20 de Setembro de 2013
6h45m


de que se ufana tanto?...

Como somos pobres!...

Nosso corpo vivo,
Como um carro a diesel,
Se alimenta de células mortas
Que já tiveram vida.

Se agasalha do frio
Com restos de plantas
Ou pêlos de ovelha
Que ela dispensa
E não cobra nada.


Se calça com peles de vaca
Para não molhar os pés.

Se abriga da chuva
Em tendas de pedra
Ou argila da terra
Que dá e que sobra.

Se deita em lençóis de linho,
Para não sentir o chão.

Mata a sede com água da chuva
Que brota da terra.

Se regala com um copo de vinho
Que lhe dá a vinha.

Se serve do ar que queima
Para poder andar.

E do raio de sol
Para não se perder.

Nada tem de seu.
Tudo lhe vem de fora.
Grátis...

Só a vaidade estéril
Lhe cresce dentro,
Como erva daninha
E não serve para nada...

Então...porque se ufana tanto?...


Mafra, 19 de Setembro de 2013
20h51m

Joaquim Luís Mendes Gomes

bula do mendigo quase cego e pedinte...

Fiz um espantalho de farrapos velhos
Que tinha no sótão.
Pu-lo prantado à entrada da porta da rua.

Veio o carteiro de mota
E o saco bem cheio de cartas e notas.
Olhou para ele.
Sorriu. Torceu o nariz e andou.

Veio a padeira, vermelhusca,
De canasta à cabeça.
– Minha nossa senhora!
- Temos o fim do mundo, mesmo à porta!

Veio um padre,
Vestido de preto
E sapato em verniz a brilhar,
Pisando no chão.
Olhou o macaco.
Fez uma cruz do tamanho do braço
E partiu orando ao céu.

Veio um ferreiro sardento
E carroça de burro,
Com a forja em brasa.
Fitou o boneco, dos pés à cabeça.
Tirou-lhe o boné
E continuou o caminho. 
Mas o burro malhado,
Piscando seus olhos redondo,
Zurrou profundo
E descarregou um montão de excremento.

Veio um pedinte-mendigo,
Quase cego dos olhos,
De cabeleira comprida,
Coberto de manta sem cor
E um saco de serapilheira vazio.
Parou confundido
Diante da porta.

– olá, meu irmão
Que passaste a noite
Gelado ao frio, sozinho,
Toma um pedaço do manto
E cobre ao menos o peito,
Enquanto teu dono não chega
E te abre a porta...

Mafra, 19 de Setembro de 2013
16h12m

Joaquim Luís Mendes Gomes

os anos sessenta...

Anos sessenta...


Como vão longe aqueles anos...
Éramos jovens, fortes
E tínhamos a vida toda pela frente.
Uma vontade enorme de vencer e ser alguém...
Tínhamos sonhos a arder
Como nunca mais na terra,
Os houve assim...

Fomos capazes de enfrentar a guerra,
Por amor dum ideal...
Choramos os irmãos que lá deixamos.

Voltamos valentes para subir na vida.
Construímos lares de gente sã...
Com fogo de amor.

Criamos filhos com chama
Que, na sua hora,
Por nossa mão,
Tomaram nosso lugar...

Vieram ventos, ciclones de frio,
Tudo secou.
Os poucos frutos
Vieram raquíticos.
Vazios por dentro,
Sem seiva na alma.

Incapazes de amar ninguém...
Sem horizontes.
Só pensam neles...

Mas não é o fim dos tempos!...

Ouvindo o “ Êxodo”

Mafra, 19 de Setembro de 2013
98h10m

Joaquim Luís Mendes Gomes