Fábula do mendigo quase
cego e pedinte...
Fiz um espantalho
de farrapos velhos
Que tinha no
sótão.
Pu-lo prantado à
entrada da porta da rua.
Veio o carteiro
de mota
E o saco bem
cheio de cartas e notas.
Olhou para ele.
Sorriu. Torceu o
nariz e andou.
Veio a padeira, vermelhusca,
De canasta à
cabeça.
– Minha nossa
senhora!
- Temos o fim do
mundo, mesmo à porta!
Veio um padre,
Vestido de preto
E sapato em
verniz a brilhar,
Pisando no chão.
Olhou o macaco.
Fez uma cruz do
tamanho do braço
E partiu orando
ao céu.
Veio um ferreiro
sardento
E carroça de
burro,
Com a forja em
brasa.
Fitou o boneco,
dos pés à cabeça.
Tirou-lhe o boné
E continuou o
caminho.
Mas o burro
malhado,
Piscando seus
olhos redondo,
Zurrou profundo
E descarregou um
montão de excremento.
Veio um
pedinte-mendigo,
Quase cego dos
olhos,
De cabeleira
comprida,
Coberto de manta
sem cor
E um saco de serapilheira
vazio.
Parou confundido
Diante da porta.
– olá, meu irmão
Que passaste a
noite
Gelado ao frio,
sozinho,
Toma um pedaço do
manto
E cobre ao menos
o peito,
Enquanto teu dono
não chega
E te abre a porta...
Mafra, 19 de
Setembro de 2013
16h12m
Joaquim Luís
Mendes Gomes
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