Os escaparates daquela praça redonda...
Passei anos a fio a contornar aquela praça redonda,
Ao meio, um craveiro de flores,
Por baixo, passa o canal,
Enquanto carros e pessoas,
Giram à volta...
Lá iam e ‘inda vão,
Nas suas vidas.
Havia vitrinas.
Havia esplanadas com cadeiras.
Havia esquinas de bancos,
Sempre à fartura,
Havia montras cheias
De sapatos e carteiras de senhora.
E uma ladeira que subia,
Onde cheirava a ovos moles.
Nas paredes, bem coladas,
Havia janelas, falsas,
Que não davam para dentro.
Só para fora...
Mesmo ao nível dos olhos
De quem passava.
Quem quisesse evitá-las,
Podia.
Bastava não descer o carreiro estreito,
Que voltava a subir,
Ao pé doutra montra de revistas...
Era conforme a disposição.
Mais alegre e optimista.
Mais soturna ou enevoada.
Ou saudosista...
Era a vitrina onde apareciam
Rostos de caras tão bem conhecidas,
Que a lei da vida dissipara...
- Olha o doutor!...Era tão novo!...
Um pouco vaidoso e convencido...
Lá bem no fundo... boa pessoa...
Deus o tenha em bom lugar!...
- Olha aquela! Passava a vida a cirandar,
Avenida abaixo...avenida acima...
Tão bem arranjada!...Era fidalga!...
Era dona duma grande salina!...
Descanse em paz!...
-
-olha este! O governador civil!...
Como governava tão bem!...
Não fazia mal a uma mosca...
Desde que não picasse...
Muita paz à sua alma...
Se ele a tinha!...
E, eu, cá ia indo na minha rotina.
Dia a dia, até ao fim.
Qualquer dia, está ali a minha!...
- Só vos peço:
Rezem por mim.
Ao menos, uma Avé-Maria!...
Ouvindo Gounod
Berlim, 27 de Janeiro de 2014
8h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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