As minhas cartas devolvidas...
Tenho na minha estante um volume grosso,
Com todas as cartas que escrevi
E vieram de volta,
Com falta de selo...
Percorrem toda a minha vida...
São dezenas de anos ali descritas.
Pus-me a lê-las, uma a uma.
E revivi todo o meu passado.
No fundo, semelhante
Ao de cada um de nós.
A primeira, a mais velhinha,
Foi endereçada a todos os
Que me viram nascer.
A senhora Maria “milagra”...
Era assim conhecida.
Com uns sessenta anos,
Rosto enrugado,
Pelos doze filhos que tinha criado,
A pão e caldo,
E se entregava,
De alma e coração,
A assistir
Todos os nascimentos,
Que aconteciam pela freguesia...
Foi ela,
A quem, depois, eu chamava avó,
Primeiro,
Me desligou da Mãe...
Para viver por mim...
E ,cuidadosamente,
Me lavou todinho,
Na água morninha,
Dum alguidar de barro,
Enquanto eu lagia...lagia...
De cansaço e susto.
Me depositou nos braços ternos
Da minha Mãe...
Só me calei com a primeira mamada!...
e fiquei a dormir...como um anjinho.
Ouvindo Smetana
Berlim, 24 de Janeiro de 2014
6h58m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário