quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

varanda dos equívocos...

Varanda dos equívocos...

Minha varanda,
É profunda,
Tem a largura do apartamento
E é virada ao polo norte.

Nela me amesento.
Depois do almoço.
Uma cadeira acolchoada,
O meu cachimbo
E um cálice de uísque.

Cubro os joelhos com uma manta.
E o vento de gelo,
Que me serve de frigorífico,
Brinda meu rosto,
Com lufadas de ar fresco.

À minha frente,
Incessante, de manhã
À noite,
Passa um cortejo.
De carros e autocarros.

Meu pensamento voa
Como o fumo branco
Do meu cachimbo.

Através das árvores nuas,
Outro cortejo passava,
Em marcha lenta.

Era o cortejo translúcido
Dos meus equívocos.

Deus, na sua sabedoria infinita,
Criou o homem e a mulher.
Como seres diferentes.
E não clones.

Destinados a serem um só,
Em complemento.
Cada um com sua forma...

Forçá-los a serem iguais
Dá asneira certa,
Como dois mais dois
São quatro.

 Nem o homem, por mais que queira,
Pode ser mulher,
Nem a mulher pode fazer de homem.

Se o impõem...é a desgraça.
Cai o carmo e a trindade...
Não há bruxo nem curandeiro
Que do branco
Faça preto...

É preciso respeitar e aceitar a natureza,
Para que acabem de vez todos os equívocos!

Foi a lição brilhante da minha varanda...

Ouvindo Brendan Perry

Berlim, 8 de Janeiro de 2014
14h35m
Joaquim Luís Mendes Gomes




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