quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sair para a rua

Sinto que tenho de sair de mim
Para ver mais longe e bem.
Se continuo fechado,
A escuridão virá, mais cedo ou não.

Há que sair para a rua,
Andar na praça, ao vento,
Ver as cores dos passos
De quem ao meu lado passa
E para onde caminham.
Ou vão.

Até pode calhar de seguindo ao seu lado
Chegar melhor e mais alto,
Que se fosse sozinho.

Cada um tem seu modo de ser e ver.
Cada um vê com seus olhos
Dum outro ângulo
Que não é o meu.

Faz bem espreitar
Ouvir e ver o que alguém vê
Porque melhor colocado está.

O aviso certo, na hora exacta
Adianta tempo
E faz-nos mais seguros
E seguir melhor.

Por certo,
Ficarei mais rico,
Alcançarei mais
E viverei melhor
Do que ficando sózinho
Nas minhas quatro paredes
Com um só tecto.

Quantas mais portas e janelas tem,
Mais luz lhe vem
E mais amigos entram.

É da amizade que o bem vem.

Ouvindo Hélène Grimaud em concerto nº 2 de Rachmaninov
Berlim, 7h56m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes

terça-feira, 29 de janeiro de 2013


Meu Dilema da noite…

 

Uma cortina negra desceu

Por fora da minha janela.

Carregada de escuro,

Vem batendo às portas,

Como quem vem a fugir.

Vem aflita.

Parece morrer com falta de quê?

Como quem morre de sede.

 

Não sei que lhe faça.

Se lhe abro a porta

E a deixo entrar,

Para lhe dar de beber.

Não sei mais que fazer…

Logo se esvai….

Quando abro a luz.

E ela volta a bater!...

 

Ouvindo Hélène Grimaud em Sonata nº 31 de Beethoven

 

Berlim, 29 de Janeiro de 2013

18h21m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

O Meu fado

 

Mansamente, como um rebanho saciado,

Desce a encosta da serra

E vem recolher-se no seu leito ,

Eu desço o meu dia-a- dia 

Por uma senda,

Que me levará até, não sei onde

E quando lá chegarei,

Até final…

 

Não me preocupo com esse tema.

Viver é o meu  lema,

Seguir em frente,

Pisando o melhor caminho,

Evitando as pedras mais pedregosas

Para bem dos pés…

E sentir-me bem,

Olhando em redor.

 

Parando aqui e ali…

Um amigo que há muito

Não via…

Alguém que me pergunta das horas

Ou do melhor caminho,

E fica horas perdidas a conversar…

Até se esquecer ...

Olhar ao longe ,

Para o campanário de cruz ao alto,

Lembrando Deus…

Deleitar estes meus olhos

Com as verdes promessas perfumadas

De mais uma primavera, em flor…

Entrar na tasca da Isaurinha,

Onde já ia meu Avô…

Ou no vizinho café da esquina,

Para mais dois dedos de conversa,

Enquanto se bebe um copo ,

Secome um bolinho de bacalhau,

Com o amigo de ocasião.

 

Engraxar os meus sapatos pretos…

cortar o cabelo, enquanto houver,

E parecer bonito a quem me vê…

 

Ler o jornal para saber

Onde vai a missa …

Ou do bom e mau

Que vai pelo mundo…

Sem esquecer a derradeira página …do necrotério…

 

Enfim, cumprir meu fado ou meu destino,

Enquanto o sol me bater na eira…

Tal e qual assim,

Como fazia o meu avô feliz…

Que só partiu… quando Deus quis…

E eu sei certo que está no Céu…

 

Ouvindo Hélène Grimaud em Moonlight de Beethoven

 

Berlim, 30 de Janeiro de 2013

7h39m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

domingo, 27 de janeiro de 2013


Tenho saudades do Alentejo

 

Gostava de voltar a correr

À  solta,

Pela manhã,

Pelas planuras do Alentejo

Cobertas de flores

De todas as cores que há. 

 

Inibriar - me, feliz,

Daquele ar puro

Que ali traz em força,

O vento suão.

 

Ouvir o silêncio azul

Que inunda de sombra e luz

Aqueles montados brancos

Onde tão boa gente

Se esconde e dorme.

 

Ir atrás das borboletas,

Aflitas,

De tanta de sede.

 

E, nas sestas quentes,

Regalar-me à sombra farta

Daquele mar de sobreiros esbeltos

Mas desgrenhados,

Ouvindo histórias,

De mouras e de príncipes, encantados.

 

Enamorar-me,  

De amor humano

E igual amor divino,

Pelas noites dentro, ao luar…

 

E acordar alegre,

 Ao rasgar da aurora,

Com os desgarrados

E intermináveis,

Cantares de galo.

 

Ouvindo as Quatro estações de Vivaldi

 

Berlim, 27 de Janeiro de 2013

11h40m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

Gostava de voltar a correr

À  solta,

Pela manhã,

Pelas planuras do Alentejo

Cobertas de flores

De todas as cores que há. 

 

Inibriar - me, feliz,

Daquele ar puro

Que ali traz em força,

O vento suão.

 

Ouvir o silêncio azul

Que inunda de sombra e luz

Aqueles montados brancos

Onde tão boa gente

Se esconde e dorme.

 

Ir atrás das borboletas,

Aflitas,

De tanta de sede.

 

E, nas sestas quentes,

Regalar-me à sombra farta

Daquele mar de sobreiros esbeltos

Mas desgrenhados,

Ouvindo histórias,

De mouras e de príncipes, encantados.

 

Enamorar-me, igual,

De amor humano

E igual amor divino,

Pelas noites dentro, ao luar…

 

E acordar alegre,

 Ao rasgar da aurora,

Com os desgarrados

Cantares de galo.

 

Ouvindo as Quatro estações de Vivaldi

 

Berlim, 27 de Janeiro de 2013

11h40m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes
Fonte misteriosa...
 
 
 
Não sei o que trago
Dentro deste armário fechado
Que me apela com voz e tons
Tão surpreendentes.
Como o dia que vai nascer.

Cada dia que o abro
Não sei o que me tem para dar
E eu trazer para fora.

... Há quem lá me deixe,
Bem vivo e em segredo,
E não conheço,
Como um sapatinho de natal,
Cada noite a sua prenda.

Eu a espero com a igual ansiedade,
Como quando era menino,
Naquela festa de alegria tanta,
Que a vida dá uma só vez…
Tão forte, misteriosa,
Com tanta fartura …
Sua chama dura a vida toda,
Sempre em chama.
Do mesmo fogo que a acendeu.

A vida é o único livro
Que se escreve abre cada dia.
Quem o escreve é quem o lê…
Quem o abre é quem o dá.
Vem todo em branco.
Nem a própria tinta é nossa.
Nem as letras e palavras que lá pomos,
Com nossas penas,
Saem de nós, mas sua fonte
E sua nascente,
Estão ocultas
Tão longínqua,
Vêm de longe,
Vem dos tempos, das penas que escreveram,
Atrás de nós…com a tinta que Deus dá...

Ouvindo Hélène Grimaud tocando Bach

Berlim, 27 de Janeiro de 2013
7h37m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes

sábado, 26 de janeiro de 2013


O desassossego…

 

Permanentemente,

O desassossego vem

Como uma vaga de fundo,

Em  nevoeiro denso, 

Toldando de escuro a realidade.

 

A  alma fica aturdida,

Perde a noção real

Do que está bem ou mal. 

Um crescendo de tentativas vem

De aproximação  ao chão.

 

Cada vez fica mais distante e insegura.

Se, pela razão,  que tem,

Não se acalma e prende às suas raízes ,

Vêm os desvios de toda a ordem.

Da insegurança à revolta

É um só passo.

Da revolta vem a agressão…

Como defesa. 

É o instinto.

Da física, a mais brutal,

À psicológica. A mais subtil ,

Por vezes , a mais grave.

 

Desta, sempre  ficam feridas fundas

Doem mais

E custam a sarar …

E pior, sempre  deixam marca.

 

O melhor caminho será sempre

O recolhimento em reflexão serena.

Até que a onda passe,

Como no surf

E venha o calor do sol…

 

Ouvindo Nocturnos de Chopin

 

Berlim, 26 de Janeiro de 2013

6h52m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

Atracção fatal

 

Há uma força brutal em mim

Que me atrai e vence.

Desde que senti que vivo

E sou alguém.

Não sei donde vim

E ao que venho.

 

Só sei que sou puxado

A viver para algo

Que eu não sei,

Me chama dentro.

Quero tudo sempre,

Ao máximo,

Do melhor que há.

Fico contente ao pé

Duma simples flor,

Mesmo que murche,

Como será quem a criou

E a mim?...

Queria saber.

Se calhar,

O segredo é esse.

É d’Ele que

Essa força vem.

 

 

 

Berlim, 26 de Janeiro de 2013

9h58m

Joaquim Luís M. Mendes  Gomes

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013


Fases da lua…

 

 

A lua brilhou no alto, toda a noite,

Inesperadamente,

Como uma princesa rutilante e esplendorosa.

 

Num céu infindo,

Onde pairava apenas uma neblina branca e leve ,

Descrevendo cenas e figuras, 

Tão belas e graciosas,

Que a ornavam.

 

Pareciam de encomenda

Ou da mão habilidosa dum grande amante…

Que a coroava de rainha,

No seu trono de beleza.

 

Vi-a a bailar incessante,

Com um vestido longo e bem armado, 

Em lácteo fogo,

Tecido e prateado.

Refulgente.

 

 Vi-a sorrir tão contente,

Jubilosa e graciosa,

Como a noiva que está à espera da hora

Do seu príncipe encantado;

Desde sempre.

 

Vi-a ardente,

Muito solene e confiante,

A orar ao Criador.

 

E vi-a chorar,

De olhar triste…

 

Fitando nossa terra azul,

Que ela ama e serve

Como dama de honor,

Desde sempre.

 

Tão dedicada …e tão fiel.

Nunca teve outro amante!…

 

Por ver o temporal e a tormenta atroz

Que a cobre e a devora,

Nesta hora…

 

Tanta guerra fratricida…sanguinária!…

Por ninharias…

Pelo dinheiro vil  e o petróleo negro …

Como se a Terra inteira

Fosse só deles!...

 

Não da humanidade inteira

Que nela habita…

Por vontade do Criador.

 

Ouvindo Hélène Grimaud em Concerto +ara piano nº XXI de Beethoven

 

Berlim, 25 de Janeiro de 2013

6h47m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013


Caem sementes de neve,

Como peninhas do céu,

São faúlhas de anjos

Voam tão leves, felizes…

 

Vêm ao encontro da terra,

Sarar suas feridas,

Medicina de Deus.

 

Trazem mèzinhas escondidas,

Não se vendem na terra,

São feitas de Amor,

Prendas de Deus.

 

Caem serenas poisam no chão,

Abraçam meus passos,

Quando saio de casa,

E vou a passar.

 

Aquecem minha alma,

Que treme de frio,

Regalam meus olhos,

Como o sol a brilhar.

 

Chuvinha de neve,

Caindo ao de leve,

Um manto de Amor

Cobrindo o chão.

 

Ouvindo sons do além…música de sonho

 

Berlim. 24 de Janeiro de 2013

10h33m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

 

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013


Meu palácio real

 

 

Gosto de escrever nas horas mortas,

Quando todas as portas se fecham

E o mundo descansa.

 

Pego a pena

E vou pelo ar.

Rodopiando no céu.

Como um condor nas alturas,

Banhado de sol.

Vou meditando e sonhando,

Embalado nas ondas,

Suspirando saudades  

Das vozes de além.

 

Percorro os caminhos que o tempo apagou.

Até ao palácio real.

Onde moraram meus pais.

Descerro-lhe as portas.

Invado os salões.

Rasgo as cortinas dormentes

Que escondem segredos.  

Acendo os lustres enormes,

Calados há séculos. 

Escancaro –lhe os cofres,  

Para ver o que têm.

Subo ao topo da história,

Procurando as minhas raízes.

 

Quero conhecer a cadeia

Donde tudo partiu.  

Para ver se enfim,

Desvendo este emaranhado de sombras

Que me toldam a vida

E se apoderaram de mim.

Só depois, sossegarei o meu corpo,

Prostrado no chão.

 

Ouvindo  Claire de Lune de Beethoven”

 

Berlim, 23 de Janeiro de 2913

21h13m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

Lembrei-me de Job…

 

Fiquei sem nada do que escrevi agora.

Este companheiro amigo

Pregou-me a partida.

 Apagou tudo.

Só meu pensamento  atónito ficou em memória.

Perplexo. Impotente.

Fiquei triste.

Gostei do que saíu.

Porque senti que era assim.

Esta falha mesmo é prova disso.

Como quem cai. Me levantei.

E aqui vou eu.

 

Comecei de novo.

Buscando no chão

As folhas caídas

Que o vento não levou.

Em cada passo nosso,

Sentimos amor e medo,

 A todo tempo.

São as duas faces.

Que a vida tem.

Como uma  moeda corrente,

Nem sempre forte.

Quem a emite e lhe dá o valor

Não somos nós.

A cotação final vem

Do que fica para trás.

De bem e mal.

Queremos viver.

Vamos em frente.

Sempre com a sombra do limite

De cada passo.

E do fim final.

Por certo, irá chegar. Seja bom ou mau.

 

Vamos de pé.

Podemos cair.

Quereríamos voar.

Nossos olhos olham o infinito.

Não temos asas. …

Como formiguitas.

Presos ao chão.

A gravidade nos prende.

É condição.

 

Uma riqueza temos.

Plena de força.

Cresce connosco.

Desde o começo.

Vai bem cá dentro.

Quanto mais forte

Mais segurança dá.

É a força de amar.

Começando em mim

Acabando em ti.

 

Ouvindo Hélène Grimaud em 4º concerto de Beethoven

Berlim, 23 de Janeiro de 2013

8h16m

Joaquim Luís M.Mendes Gomes