domingo, 27 de janeiro de 2013

Fonte misteriosa...
 
 
 
Não sei o que trago
Dentro deste armário fechado
Que me apela com voz e tons
Tão surpreendentes.
Como o dia que vai nascer.

Cada dia que o abro
Não sei o que me tem para dar
E eu trazer para fora.

... Há quem lá me deixe,
Bem vivo e em segredo,
E não conheço,
Como um sapatinho de natal,
Cada noite a sua prenda.

Eu a espero com a igual ansiedade,
Como quando era menino,
Naquela festa de alegria tanta,
Que a vida dá uma só vez…
Tão forte, misteriosa,
Com tanta fartura …
Sua chama dura a vida toda,
Sempre em chama.
Do mesmo fogo que a acendeu.

A vida é o único livro
Que se escreve abre cada dia.
Quem o escreve é quem o lê…
Quem o abre é quem o dá.
Vem todo em branco.
Nem a própria tinta é nossa.
Nem as letras e palavras que lá pomos,
Com nossas penas,
Saem de nós, mas sua fonte
E sua nascente,
Estão ocultas
Tão longínqua,
Vêm de longe,
Vem dos tempos, das penas que escreveram,
Atrás de nós…com a tinta que Deus dá...

Ouvindo Hélène Grimaud tocando Bach

Berlim, 27 de Janeiro de 2013
7h37m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes

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