Virtude da sombra
É na sombra que crescem raízes.
Humildes,
Como larvas felizes,
Cavam alicerces,
Prendem amarras,
Na crosta das rochas.
Vivem do húmus, se o houver,
Sem reclamar.
Tecem as malhas,
Que vestem,
Como musgo da terra.
Bebem da água
Que a chuva lhes deixa
Ou brota do chão.
Na hora certa,
Com tudo exacto,
Abre seus olhos,
Põe-se a espreitar.
Olha para o céu,
Fazendo as contas.
Se houver lugar,
Põe-se a crescer,
Com a força do sol.
Foge das nuvens,
Foge das sombras,
Para não morrer.
Crescem-lhe os ramos,
Como um andor.
Pintado de verde.
Brotam botões,
Como anéis a brilhar,
Na ponta dos dedos.
Expostos ao sol,
Rebentam folhinhas,
Envolvem um ventre,
E ficam às cores.
Soltam perfumes,
Que vão pelos ares
Fornalhas de seres
Fruto abundante...
Dão para comer e guardar
No chão das raízes...
Berlim, 24 de Julho de 2013,
7h48m
Joaquim Luís Mendes Gomes
Sem comentários:
Enviar um comentário