sexta-feira, 30 de agosto de 2013

peregrinos...


Peregrinos...

 

A quem me hei-de queixar, se não a ti,

Meu peregrino companheiro de viagem.

Aqui ao lado.

Com destino igual.

De alegria e dor.

 

Só a hora de partida foi diferente.

 

Em caravana universal,

Oriunda lá das brumas, indefinidas,

Não sabemos se como pioneiros seres humanos, originários,

Ou como elos de evolução

Na forma e fundo,

Por um augusto toque

De sabedoria divinal.

 

Não somos máquinas.

Nem simples seres com vida.

 

Temos olhos de alma

Que medita e que reflecte.

 

Se desdobra em perscrutar, tudo em redor.

À procura dos porquês,

D’agora e sempre.

E que transforma...

 

Temos uma chama a arder, dentro de nós,

Sabendo bem no fundo

Que não fomos quem a acendeu.

 

Que inflama e se inflama

Com a chama que arde ao pé.

Que se alegra e que chora,

Como seus,

Com o bem e mal

Do companheiro de romagem.

 

Ouvindo Hélène Grimaud

 

Berlim, 31 de Agosto de 2013

8h23m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

horas serenas...


Serenas horas...

 

Tenho fome e sede

De horas serenas

Nos rochedos,

Debruçadas sobre o mar.

 

Meus olhos,

Duas gaivotas,

Barco à vela,

Livres,

Sem limites,

Sobre as ondas,

Sobre as nuvens,

Me embalando a sonhar.

 

Serenar os meus ouvidos,

Aturdidos do ruido louco

Que, dia e noite,

Sem sentido,

Brame na terra,

Em todo o lado.

 

Encher meu peito

De ar puro,

Em vez do fumo pestilento,

Que o progresso,

Ávido de lucro,

Impunemente,

Me impõe a toda a hora.

 

Inebriar minha alma,

Tão cansada,

De perdida,

No emaranhado desta vida,

Sem sentido,

Rasteira ao chão,

Com a candura infinita

Do altar da natureza,

Como a vestiu o Criador...

 

Ouvindo André Rieu

Berlim, 30 de Agosto de 2013

8h29m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ventos negros da História presente...


Ventos negros da História presente

 

Estão a desabar em velocidade louca,

Todos os alicerce firmes

Que a História de séculos,

Fabricou com muito sangue e dor.

 

Que consagrou em códigos

De honra e argamassa sã,

Rasgando caminhos

Ao progresso e bem-estar.

 

Tantas refregas onde,

Cruel, imperou a morte.

Tantas revoluções de irmãos

Que depois deram em uniões.

 

A paz e a justiça,
À parte algumas sombras,

Cobriu a Terra, de oiro e prata.

Brilhou o sol. 

Diluiram-se quase todas as fronteiras e cortinas entre os povos.

A inteligência descortinou caminhos

Que, num instante só,

Tudo põem ao dispor e à vista.

De todos os povos.

A riqueza circulou,

Livre à solta,

Na base da troca verdadeira e real,

Dum bem por um bem.

Em que a pauta era só o valor...

 

Eis que, uma praga de insectos vorazes,

Como um exército larvar e estéril,

Oriundos, não se sabe donde,

Dum deserto de honra

E farto em miragens falsas,

Assentou arraiais na banca,

Nas bolsas perversas,

Avassalou a política porca

E fez despejar a confusão geral,

De cima a baixo,

Tudo empestando de mentira suja...

 

Só um tornado gigante ...

Poderá exterminar tanta sujeira!...

Ouvindo Rachmaninov

Berlim, 29 de Agosto de 2013

8h2m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

terça-feira, 27 de agosto de 2013

ao nascer do dia...


Ao nascer do dia...

 

 

Por entre aquele entrançado

De arvoredo verde,

De ramos e hercúleos troncos negros,

 

Entram o sol

E estes meus olhos,

Sedentos de luz e paz.

 

Nem as sombras caladas

Que o envolvem, densas,

Me desanimam de o perscrutar.

 

Baforadas de halos calmos,

Tão serenos, se desprendem,

Embriagantes,

Como duma vulcânica caldeira,

Semiapagada e livre.

 

É tal o conforto que minh’alma banha

Que, logo, humilde,

Uma prece ardente

Se exala e vai,

Faúlha acesa,

 

Para lá das tantas nuvens negras

Que me toldam o céu

E me roubam a paz.

 

Ouvindo Hélène Grimaud, em Adágio

 

Berlim, 28 de 2013

7h43m

Joaquim Luís Mendes Gomes

grande banquete...


Grande banquete...

 

Venham os pobres.

Venham os mendigos,

De todo mundo.

Hoje, será vosso o dia.

 

Tenho um banquete exposto,

Toalhas de linho,

Em mesa farta,

Ao vosso dispor.

 

 Saciai para sempre a vossa fome.

Dou-vos Justiça.

Dou-vos a Paz

Que o mundo,

É todo mendigo...

Por mais que encante,

Não é capaz de dar...

grito lancinante...


Grito lancinante...

 

Que mais hei-de eu dizer,

Se este mundo mouco,

Não me ouve a mim,

Nem a niguém.

 

O abismo, ali,

Espera-o à vista...

E ele louco segue cego,

De olhos vendados,

Pensando que vai bem...

Que hei-de eu fazer?...

Não há ninguém que o salve?...

 

Será o fim! ...Será o fim!...

 

Ó se me ouvisse ele,

Ainda havia tempo.

Tudo seria salvo e nós também.

 

Venham todas as forças universais...

Venham gigantes possantes

Que lhe deitem a mão...

Ainda há tempo!...

Ainda há tempo!...

Ouve ó mundo louco,

Ouve...o caminho é outro!

É o do bem...e não o do mal!...

 

Ouvindo Carmen Monarca em Canção à Terra...de Michael Jackson

 

Berlim, 27 de Agosto de 2013

14h41m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

serenata louca...


Serenata louca à trovoada...

 

Despi minhas vestes

E fui como um louco,

Dançar à chuva,

Ao vento e à trovoada.

 

Senti-me nobre e livre.

Com a leveza dum pássaro breve.

Duma formiguinha arguta,

Que se espraia à solta,

Num carreirinho ao sol.

 

Um fio de estopa,

Numa roca esguia,

Desfiando fio e renda

Para um bornal de pão.

 

Só me faltou o fôlego

Para alcandorar o céu

E ordenar aos anjos

Que acudam a esta terra louca,

Perdida no espaço e tempo.

Olhando ao chão, imundo,

Esquecendo o céu...

 

Ouvindo Brahms,

Berlim, 27 de Agosto de 2013

7h37m

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 25 de agosto de 2013

parto difícil...


Parto difícil...

 

Toda a madrugada,

Tive um poema a saltar

Na minha mente cansada.

 

Não entrevia clara, a forma.

Só lhe pressentia

Sua gema dourada.

Querendo romper

E nascer.

 

Se me cerravam

As janelas e portas.

Sem frestas por onde

Coubesse e passasse.

 

Fiquei à espera.

Com a esperança.

Dum parto difícil.

 

Podia ser.

Com o feitiço da lua,

A estrela da aurora,

Se decidisse e nascesse.

 

Ele aqui está...

Lindo e sadio.

 

Quero abraçá-lo e abri-lo.

Ao de leve,

Escondido,

Como quem escuta

Um segredo-surpresa.

Triste ou alegre,

Que chega

Sempre por bem.

 

Cada um,

Sua cor e perfume.

Seu brilho nos olhos.

Cheirando a novo.

Vem doutro mundo.

 

Me surpreende o calor.

E a beleza que brilha...

 

Só lhe empresto a forma,

Como lenha que arde

Porque a chama e o fogo

É d’Alguém

Que sopra e aquece

E não eu...

 

Ouvindo Rachmaninov por Hélène Grimaud

 

Berlim, 26 de Agosto de 2013

8h10

Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 24 de agosto de 2013

desafio ao homem...


Desafio ao Homem...

 

 

Venham caravelas, aeronaves, hidroaviões,

E toda a sorte de transportes

Que o génio humano engendrou,

Em grande escala.

 

Se abram escancaradas

Todas as grandes bibliotecas.

Carregadinhas de papel encharcado em teorias.

 

Se alinhem lá para o cimo,

As mais altas torres de ferro e massa.

 

Se encham de mar sem ondas

Os mais inóspitos areais desertos.

 

Se armadilhem de electrões ferozes

Todos os cantos e esquinas, do universo,

Com vontade de extermínio.

 

Se ergam mega-cidades monstras,

Que nem florestas secas de argamassa.

 

Muitas pontes colossais,

Que liguem este mundo ao outro.

 

Por mais que tudo isto.

De que vale ... sei lá que mais...

Viver num mundo assim,

Se for só o mal

A dominar o coração do homem?....

 

Ouvindo Tchaikowski

 

Berlim, 25 de Agosto de 2013

8h22m

Joaquim Luís Mendes Gomes

Festa da Vida...


Festa da Vida

 

Toda a manhã passaram estrelas

Em cortejo longo.

Em arco íris.

De todos os tamanhos e cores.

Vêm do universo infindo.

 

Convidadas pelo Rei de tudo.

Para a grande festa da vida

Que irá nascer

Na Terra

E não vai ter mais fim.

 

Trajam de tule a arder.

E carmim de linho

Corado ao sol.

 

Tão graciosas.

Parecem rainhas.

Seus brincos

Centelham raios.

Seus diademas,

Refulgem de luz.

 

Brilhar no alto,

É só o que sabem.

 

Vêm curiosas.

Que outra forma estranha

De existir, além de estrelas,

Poderá haver? 

 

E, vista de longe,

A Terra é só

Uma bolinha azul,

E tão minúscula,

Raiada de nácar.

Que pode ter...?

 

Diz o convite.

 

É só descer.

O ponto de encontro

É algures...no oriente,

Onde o sol nasce

E a lua se põe.

 

- Haverá um sinal -.

 

De repente,

Ouviu-se um estrondo.

A terra tremeu.

Se apagou a luz.

Que escuridão!

De estarrecer.

O fim do mundo...

De lés-a-lés

Se rasgou-se o céu.

 

Um clarão.

Tudo brilhou,

Como nunca alguém viu.

 

Soaram coros.

Todos os anjos.

Muito mais que as estrelas.

Que vozes lindas!...

 

Envolvendo a Terra,

Vestida de verde

E azul de mar,

Feita jardim,

O berço escolhido,

Em todo o universo,

P’rà  Vida nascer...

 

Ouvindo “ O Lago dos Cisnes” de Tschaikowski

 

Berlim, 24 de Agosto de 2013

22h13m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

que buraco negro...


Que Buraco negro...

 

 

São ásperas estas horas mortas,

Em que o sol desapareceu do céu.

Fica tudo triste. Seca a alma.

Cai a noite, às vezes de breu.

 

Vêm pesadelos. Desesperança.

Parece o fim de tudo.

Não há uma nesga de céu azul.

O chão negro de terra negra

É o único horizonte à vista.

Nem nuvens voam no ar.

Nem as corujas uivam presságios.

Tudo ruiu à volta.

Aquele mundo de paz

E certo que vi viver

Na minha terra-mãe.

 

Até as lembranças doces

-Parece, se apagaram de vez.

Meu coração dói-me...arfante

D’ainda querer viver...

 

Ouvindo Hélène Grimaud

 

Berlim, 24 de Agosto de 2013

8h21m

Joaquim Luís Mendes Gomes

verdade da praia


Praia da verdade

 

Naquele estendal de areia branca,

À luz do sol,

Assoma ao de cima,

Toda a verdade.

 

Se desfazem em nuvem,

Todos os disfarces

Fica a verdade ,

Tal como é.

 

Tantos novelos de seda

Se desfazem em chama.

Tantas quimeras douradas,

A preço de oiro,

Ficam singelas toalhas de linho.

 

A verdade oculta rebrilha ao sol.

Tantas diferenças

Eram só farsas.

Tão bem disfarçadas.

 

Tudo é igual...

Tudo é beleza

Como Deus a criou...

 

Roses, 2 de Julho de 2013

16h23m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

a morte da morte...


A morte da morte...

 

De repente, tocou a rebate.

O adro encheu.

Começou o debate.

Decretar uma lei

Sobre a morte da morte...

 

Questão crucial!...

 

Os ânimos ao rubro.

A multidão dividiu-se.

Depois de horas a fio,

Sem conclusão.

Decidiu-se à sorte,

Por cara ou coroa.

 

A cara era o sim.

E, por sorte...

Saíu.

 

Veio a festa.

Tocaram os sinos sem fim.

Ó que alegria...

Houve arraial.

A noite passou.

E novo dia também.

Sem a ameaça da morte,

- Os do sim e do não -

Ninguém queria voltar.

 

No resto tudo ficaria igual.

A fome e a sede.

O calor e o frio.

A doença e a dor.

O trabalho geral.

Se não queriam sofrer.

 

O tempo avançou.

A aldeia, feliz,

Os do sim e do não,

Voltou ao normal.

 

Pouco durou.

A discórdia surgiu e cresceu.

Entre dois grupos rivais:

Os que queriam viver sem sofrer,

E os que queriam viver sem trabalho.

 

E foi de tal ordem

Que os sinos tocaram a rebate

Outra vez.

Mas só apareceram

os que não votaram a morte da morte,

os mesmos do sim ao trabalho.

 

E assim, a aldeia,

Por mal

Ou por bem,

De novo,

Tudo acabou em guerra,

Sem morte.

Outro dilema pior!...

 

 

Berlim, 28 e Julho de 2013

9h47m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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