sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

subi ao norte...

Subi ao norte...


Radiante, vim por aí acima,
Como um petiz, de braços abertos,
Correndo, ao vento,
Para os braços de sua Mãe ou Pai...

Ao reencontro daquelas terras,
Daquelas gentes
Que trago em mim,
Nuvem branca,
Radiosa,
Carregadinha
De doces lembranças.

Onde quer que vá,

Olhando ao longe,
Um mar de verde,
Com salpicos brancos,
Tela de sonho,
Dum quadro tão lindo,
Cheio de gente alegre.

Olhando ao perto,
Divagando à solta,
Por caminhos e vielas,
Ora bem largos,
Ora tão estreitos,
Parecem rios,
Entre campos,
Entre hortas,

São os cantos,
São as esquinas,
E os pátios, ao sol,
Onde se seca
Um dia, o milho,
No outro a roupa,
Feita de estopa
Feita de linho.

Ramadas de vinho,
Bardos de verde,
bailando ao alto,
Mantas de esperança.

Aqui, eu abraço
Ali, eu beijo,

- olha o filho...
- olha o neto,

A mesma pinta!...
Dum meu vizinho.

Viu-me nascer,
Viu-me a crescer,
Sabia quem sou
E o que queria ser...

Já se foi em paz,
Há muito,
Para o outro mundo...

Ouvindo Brendan Perry, em casa de meu irmão
Póvoa do Lanhoso, 1 de Março de 2014
6h21m
Joaquim Luís Mendes Gomes

cumprindo promessas...

Cumprindo promessas...

Ando matando as saudades
E cumprindo promessas
Por sendas da minha terra,
Onde, tenra arvorezinha,
Nasci, botei raízes
E cresci.

Minha alma se encheu das luzes
Que brilhavam dentro
Da minha casa,
Onde os pais eram faróis.

Andei em bando, feito ave livre,
Dando voltas,
E cambalhotas,
Ao redor da minha igreja,
Com os companheiros da escola.

Despertei para este mundo,
Feito de cores,
Com o céu azul
E a terra verde,
Um mar de montes,
Seara de ondas.

Recebendo abraços,
Tantos carinhos,
Duma família vasta,
Com o mesmo sangue,
Ou da vizinhança grata
Que me viu nascer.

Vim à terra cumprir promessas,
Rever amigos,
Espalhar abraços
E colher beijos,
Dum grande rio
Feito de amor.

Minha alma e corpo
Rejubilam em chama,
Como um balão de sonhos,
Que vagueia tão alto
e não quer descer...

Ouvindo adágio de Albinoni

Na casa donde minha irmã partiu...
Pedra Maria, 28 de Fevereiro de 2014
7h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

coisas incompletas...

Coisas incompletas...


Procuro fazer bem
Tudo o que faça.

E se acredito no que escolhi,
Logo me meto a caminho,
E tudo faço para chegar ao fim.

Se não consigo ir a direito,
Porque o caminho é a pique,
E corro risco do abismo,

Dou voltas e mais voltas,
Ora subindo,
Ora descendo,
Ladeando,
Mas para trás,
É que não volto.

E se as forças se acabarem
E não puder pedir reforço,
Nem na terra nem no céu...

Então, ali monto a minha tenda,
Ali faço o meu ninho,
O melhor que eu puder...
E dou graças e agradeço,
Por ter chegado onde cheguei.

E, se me der bem,
Por ali fico a viver...
Coisas incompletas
É que não deixo.

Pedra Maria, em Varziela, 27 de Fevereiro de 2014
7h7m

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

ao ventre da terra...

No ventre da Terra...

Cansado das agruras do sol, 
Da chuva e do vento,
Entrei na caverna
E fui á procura
Do ventre da Terra,
Sedento de amor.

Abri os meus olhos
À luz do meu sonho,

E fui caminhando encantado,
Umas vezes, voando,

Outras dançando,
Mesmo sem estrelas,
Brilhando no céu.

Só o silêncio e a paz,
Vestidos de luz e luar,
Me iluminavam o caminho.

Por escarpas, gigantes,
Ravinas, sem fim,
Refulgentes de cores,
Que nunca eu vira...
Ou sonhara.

Uma sinfonia de sons,
Em branda doçura,
Brotavam d’algures,

Não era de anjos,
Nem clarins,

Entoavam louvores
Ao Senhor das cavernas.

Foi tal a magia,
Me lembrei encantado
Das horas sem fim,
De paz e amor,
Que eu vivi embalado,
No ventre da Mãe!...

Ouvindo Avé Maria, por Roberto Carlos E Pavaroti
Mafra, 26 de Fevereiro de 2014
6h22m
Joaquim Luís Mendes Gomes

medo das cavernas...

Medo das cavernas...

Mal assomamos à dignidade de sermos homem,
Sentimos a fome,
Sentimos o frio e a sede.
Procurar um abrigo...
Onde?

Não havia nada.
Só o chão pedregoso
Ou enlameado.

Fez-nos andar...andar...
Subir...descer...
Quem nunca sai do lugar,
Fica pior.

Até que, nas encostas das montanhas,
Viram fendas negras,
Onde não entrava o sol.

Entre o medo e a curiosidade,
Foram avançando...
O mais que puderam.

Uma coisa foi certa,
Pelo menos, davam para abrigo
E serviam de poiso
Para a luta da vida.
Tudo começou das cavernas.

Pelo engenho aceso
Em contínua combustão...
Desde o nada...
Hoje a Terra é o que é.
Onde o homem parece rei.
Mas com muito medo
Dos negrumes
De cavernas...

Mafra, 25 de Fevereiro de 2014
8h4m
Joaquim Luís Mendes Gomes


sábado, 22 de fevereiro de 2014

casino da poesia...

Casino da Poesia...

Joguei toda a minha fortuna
No casino da poesia...
Como um louco....um viciado...
Tudo joguei.

Sem ela não podia viver.
Senti-me seco e árido.
Desesperado.
Fui ao meu coração
E despejei num só lanço,
Tudo na mesa...
Cerrei os olhos.
Seja o que o Destino quiser.

A roda andou.
Andou.
Cremalheiras de aço cortante,
Frio e desalmadas,
Cortaram-me a sorte em duas partes.
Ou tudo ou nada!...

Fechou-se a luz.
Fechou-se o céu...

Aterrorizado, abri meus olhos,
Mal ela parou...
Seria meu fim de tudo.

Ó meu bom Destino!...

Tudo eu ganhei...
Uma vez mais a tua presença real
Esteve comigo e me valeu!...

Ouvindo Hélène Grimaud, tocando Bach

Golfo de Roses, Costa Brava, hotel Ramblamar,
23 de Fevereiro de 2014- 4h56m
Joaquim Luís Mendes Gomes



quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

arremesso ao vento...

Arremesso ao vento...

Meus negrumes do passado
E do presente...
Eu arremesso ao vento,
Frente ao mar.

Quero fiquem sepultados,
Nas profundezas,
Para todo o sempre.

Quero renovar tudo em mim.
Mudar minha mobília.
Minha cozinha.
Minha varanda
E o meu jardim.

Vou vestir um fato novo.
Vou sair por esse mundo,
À procura da paz
Que me está a fugir.

Preciso viver cada segundo,
Em plenitude.
Bem orientado,
Virado para o sol...

Quero deixar crescer,
Em terra lavrada,
Outra semente...de alegria
Que dure sempre.

Sinto esperança em mim
E no meu destino.
Se vim ao mundo,
Foi com um bom fim.
E esse me faz correr.
Nem que seja
Contra o próprio vento.

Ouvindo Brendan Perry
Berlim, 20 de Fevereiro de 2014
5h47m

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

sargaço na praia...

Sargaço da praia...

Esta manhã,
Há palha verde na praia.
Ouve festa e arraial,
No meio do mar.
Estralejaram foguetes.
Caíram as canas.

Tombaram cabeças.
E em molhos de palha,
Se cobrem as areias da praia.

Parecem mortalha.
Bigodes defumados de verde.
Repousam aos montes,
Embrulhados de espuma.

As gaivotas vasculham famintas.
Pode ser que algum peixe
Lá esteja.

E as ondas, sem conta,
Já não lhes ligam nenhuma...

Chegam os sargaceiros do mar.
Querem adubo do mar...
Vão enterrá-las na horta.
Até de novo brotarem.
Cebolas, alfaces, feijão.
Ó que rico manjar!...
Da seara presente,
Que vem nas ondas do mar...

Bendita a Mãe-Natureza.
Que benze o mar e a terra.
Com a palha do mar.

Berlim, 18 de Fevereiro de 2014
14h11m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

tudo ficará claro..

Tudo irá ficar claro...

Andamos, parece,
Desde que acordamos,
cada manhã,
para mais um dia, sem sentido.

Tudo está fora do sítio.
Onde gostaríamos que estivesse.
Cada passo, parece um grito,
De desespero.
Cada paragem,
Uma estação,
Parada,
Sem comboios a partir.
Tudo ermo...
Afinal, que ando cá a fazer?...

Tanta promessa de futuro.
Tanta vida,
Sem claridade.
Só há sombras,
E não há sol.
Se, ao menos, viesse a chuva,
Para lavar
Tanta ferida,
E o caminho para andar.

Minhas veias estão secas.
Do sangue que se esvaíu.

Mas, cá bem no fundo
Do meu ser,
Há uma chama,
Lamparina,
muito pequena,
bruxuleia,
quase apaga,
acendeu-ma a minha Mãe...
naquela hora triste....
em que morreu.

- “Donde estou,
Para onde vou,
Eu fico a ver-te,
Neste mundo,
Pedindo ao Senhor
Que te dê sempre a Sua mão!”...

Ouvindo Hélène Grimaud , em Bach e Busoni
Berlim, 18 de Fevereiro de 2014
6h21m
Joaquim Luís Mendes Gomes


saudade das águas santas...


Saudade das águas santas...

Sinto tamanha saudade
Das águas da minha infância.

Daquelas enxurradas
Que escorriam frémitas
Pelas valetas,
Ao lado das estradas.

E a das fontes santas,
Que nunca paravam.
Dia e noite, sempre a botar.

Enchiam os cântaros
De água fresquinha,
Para o caldo das couves
Da nossa horta.
 E as chuvas de Março e abril,
Fustigando ao vento.
Batiam as janelas
Da minha casa,
Viradas a norte.

E as de Maio,
Batiam nas tendas.
Mas não conseguiam afugentar
Os que iam à feira!...

E as vergastadas da feira de gado.
As moscas fugiam,
Cheias de medo.

E as orvalhadas do mês de Agosto.
Escorriam das vides,
Sabiam a mosto.

E as trovoadas malucas
Sempre zangadas.
Despejavam granizo,
Como se fossem pedradas.

E aquelas chuvas
Do fim do mundo...
Alagavam os campos.
Pareciam um mar...

Ouvindo a gaita dos Andes

Berlim, 17 de Fevereiro de 2014
19h54m
Joaquim Luís Mendes Gomes



domingo, 16 de fevereiro de 2014

punhado de areia...

Punhado de areia morta...

Peguei num punhado de areia
E num gesto louco,
Semeei no campo extenso,
De terra lavrada.

Peguei noutro,
De grãos de semente seca,
Que parecia morta.

Lancei ao largo,
Para outro lado.
Como um semeador.

Como excêntrico,
Ou quase louco,
Sentei-me à espera.

Caíu a chuva.
Veio o vento.
Veio o sol.
Correram dias.

A terra virgem...

Só o silêncio fecundo
E a minha esperança.

Uma manhã,
Ao nascer da aurora,
Fazia uma brisa,
E , dançarinas,
Umas hastinhas tenras,
Despontavam verdinhas,
Rutilando ao sol.
Umas bailarinas...
Dançando e sorrindo.
Se elevando para o céu.

Vi-as crescer.
Cheias de braços,
Tão elegantes.
Em grande roda.

Espigaram-lhes as folhas,
Floriram de amor,
Nasceram-lhe as espigas.

Ficaram trigueiras,
Moçoilas garridas.
Bailando ao vento,
Banhadas de sol.
Umas lavradeiras
Carregadinhas de versos...
Poesia tão pura,
Que a terra escreveu.

Ouvindo Rachmaninov, concerto nº 2
Berlim, 17 de Fevereiro de 2014
6h42
Joaquim Luís Mendes Gomes


sábado, 15 de fevereiro de 2014

parti para o infinito...

Parti para o infinito...

Pequenito, sai da minha terra natal.
Eu supunha....para um infinito.
Para um mundo novo
E sem fim.
Onde tudo fosse ainda mais lindo
E mais rico,
Do que o aquele torrão verde e florido,
Muito pobre...mas muito rico...

Onde a Natureza nascia sempre em festa,
No dealbar de cada manhã.
Passarinhos em debandada,
Poisavam ledos,
Nas urzes e nas giestas,
Havia borboletas
De tantas cores,
Batendo as asas,
Como flores,
Reluzindo ao sol.

Havia trindades, três vezes ao dia.
Derramando as bênçãos
Para a freguesia inteira,
No labor dos campos
E das oficinas.
Ouvia-se rezas de Ave-Marias,
Pelas frestas luzentes dos telhados,
De telha francesa.

Havia promessas que eram cumpridas,
Pelas graças de Nossa Senhora,
Em coros de meninas,
De vestidinhos brancos,
Subindo a ladeira
Para Pedra Maria,
À minha porta.

Pensava eu
Que o mundo seria
A ampliação de tudo aquilo,
Em escala grande,
E que a escola, suposta santa,
Para onde fui,
Alfobre de padres...
Seria a garantia maior
Do que sonhava!

Tudo uma miragem!...

Ouvindo Sibellius,
Berlim, 16 de Fevereiro de 2014
6h37m

Joaquim Luís Mendes Gomes

ritmo das cores...


Ritmo das cores...

Caminhando,
À borda do mar,
Sinto as ondas,
Me beijando os pés.

Esfrego meus olhos,
Cansados de olhar.
Saltitam as cores,
Nas areias caladas.
Banhadas de espuma.
Carregadas de sal.

Cristas das ondas,
Raiadas de sol.
Arco-íris cansados do céu,
poisados no mar.

Chegam os barcos,
Arfando a arder,
De tão carregados.
Peixe na brasa,
À noite,
Ao jantar.

Varinas suadas,
De saias rodadas,
Se vêm os joelhos.
Faces rosadas,
Lenço apertado,
Apanhando os cabelos,
Brisa do mar.

Chegam os bois,
Puxando as cordas.
E o barco desliza,
Os remos parados,
Rumo à costa.

Se enchem os açafates.
Há festa na praia.
Só faltam foguetes.

Cães sem coleira,
Correm à solta.
Felizes, donos, sem dono.

Corpos deitados,
Tisnados de sol.
O peito arfando,
Contemplam as nuvens,
Caiadas de branco.

Dormitam as algas,
Cansadas de andar,
Madrugadas perdidas,
Pelos fundos do mar.

Ardem em secas,
Estendidas ao sol.
Baila o perfume,
Embalado no vento.

Meu coração imperfeito,
Bate cá dentro...
Parece um leão...

Ouvindo Hèlène Grimaud, em Sonata de Beethoven...depois do almoço
Berlim, 15 de fevereiro de 2014
14h17m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

muralha da china...


Muralhas da china...

Ó pudesse eu erguer umas muralhas
Em granito negro,
Muito bem altas,
À volta da Terra...

Cercar os povos,
De todas as cores,
De prados verdes,
E dum mar azul,

Onde novos, mais idosos,
Vivessem bem,
Alegres,
E m paz total.

Corações batento forte,
Presos ao chão,
e olhos nos céus,
conforme baterem,
a Alá, a Deus,
ou Jeová,
Aquele de cujas mãos,
Por infinito Amor,
Nascemos todos,
Filhos de Deus...
Todos irmãos...

Queria ver flores
À volta de todas as casas,
E lareiras a arder,
No rigor da neve,
Avós e netos,
Contando histórias,
Passando as lendas
E os saberes todos,
De pais para filhos...
Que uma chuva perene
De bênçãos celestes,
Cobrisse os telhados,
Num banho de paz...
E chegada a hora,
De cada um partir,
Chegasse ao Reino
Onde o tempo acaba
E começa o eterno,
Aos pés de Deus...
Princípio e Fim...


Ouvindo concerto de Schumann por Hélène Grimaud
Berlim, 15 de Fevereiro de 2014
6h37m
Joaquim Luís Mendes Gomes

oração da noite...


Oração da noite...

Depois do jantar,
Vou prá varanda orar...
Meu pensamento,
Encarcerado numa gaiola,
Vai à solta...
Como um balão.

Sobe no vento.
Vai todo contente.
Fico a mirá-lo,
Fumando cachimbo.
Bebendo uísque.

E  bate asas asas,
Ri-se para mim.

Fito as estrelas.
Fito a lua,
Banhada em luar.
 Meu pensamento
Se desprende
Em oração
e vai como balão em chama.
Pelo céu a arder.

Para onde irá ele?
Seguirá a norte?
Seguirá a oeste?

Vai-me acenando,
Todo feliz,
Com a liberdade do cair da noite.

Brilham as estrelas.
Brilha o luar.
E ele lá vai...
Em sono de sonho.
E vai subindo
Todo contente,
ao sabor do vento...
vulcão em chama.
O negrume da noite
Não consegue apagar.

Passa os Alpes
E os Pirinéus.
Passa o Atlântico.
Foi para o Brasil.

Segue Cabral
Ao Porto Seguro,
Descobre o Brasil.
Fica encantado.
Suas palmeiras.
Um lago azul.
Ninfas de sonho,
Se banhando ao sol.

Mete conversa com os nativos.
Dão-lhe guarida.
Fica encantado.
Põe-se a dormir.
Sonha em voltar.
Que pesadelo.
Prefere ficar...
À borda do mar.
Onde é feliz!...

Ouvindo Debussy..

Berlim, 14 de Fevereiro de 2014
21h46 m.
Joaquim Luís Mendes Gomes


largo da feira....


Largo da feira...

Ficou deserto o largo da feira.
Estava cheio de gado.
Vacas leiteiras.
Bois barrozãs.

Muitas galinhas
E muitos capões.

Tendas de pano.
Cordas de amarras.
Cavilhas no chão.

O vinho escorreu.
Havia sardinhas
E broa de milho.
Havia cavacas.
E até pão-de-ló.

Vestidinhos de chita.
Ainda não havia ciganos,
Nem casas de xinos...
Tudo era nosso.
Fruto do campo.
E do nosso suor.

Até balancés,
Com fantoches
Aos murros e às cabeçadas.
Tudo passou.

Ficou tão vazia...
A praça da feira,
Por onde passava a alegria,
Com vinho da pipa
E aguadeiros ao copo...
Com sol a brilhar!

Ouvindo Amélie...
Berlim, 14 de Fevereiro de 2014
Joaquim Luís Mendes Gomes



quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

valsas da madrugada....


Valsas da madrugada...

Queria rodopiar
como um pião,
À volta da lua,
Ver-lhe as fases,
Antes delas nascerem,
Como são....e como se fazem...

Ver a combustão do sol.
Onde busca ele tanta lenha,
Para acender e queimar,
Ao nascer de cada aurora...

E ver nascer um rio,
Naquele pontinho exacto,
Onde começa...

Já não é gota,
É um fio em movimento,
Entre o cume das fragas
E as areias que teve de afastar,
Para entrar,
De braços abertos,
Por vezes, com muitos ramos,
Pelo mar dentro.

Quero ver os pastores dormindo
Nas suas cabanas toscas,
Ao pé de suas ovelhas.
A abrirem os olhos,
Dum sonho com estrelas,
Que tão bem conhecem....
Suas companheiras,
Mais as nuvens brancas,
Dançarinas,
Que jogam com ele,
Ao esconde-esconde...
Sem se cansarem,
Nem se zangarem,
Uma só vez,
Amantes da vida em paz...

Quero ver onde nascem as trovoadas,
E se forjam aqueles trovões,
De ferro em brasa,
Esparzindo urros de estarrecer.

E, no fim,
Lá muito longe,
Ir à fonte das horas,
Ao santuário santo,
Onde se tece
O Amor,
o tempo
E a eternidade!...

Ouvindo Amélie...uma vez mais, manhã de cinza fria, nascendo...

Berlim, 14 de Fevereiro de 2014
7h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes


valsas da madrugada...


Valsas da madrugada...

Queria rodopiar
como um pião,
À volta da lua,
Ver-lhe as fases,
Antes delas nascerem,
Como são....e como se fazem...

Ver a combustão do sol.
Onde busca ele tanta lenha,
Para acender e queimar,
Ao nascer de cada aurora...

E ver nascer um rio,
Naquele pontinho exacto,
Onde começa...

Já não é gota,
É um fio em movimento,
Entre o cume das fragas
E as areias que teve de afastar,
Para entrar,
De braços abertos,
Por vezes, com muitos ramos,
Pelo mar dentro.

Quero ver os pastores dormindo
Nas suas cabanas toscas,
Ao pé de suas ovelhas.
A abrirem os olhos,
Dum sonho com estrelas,
Que tão bem conhecem....
Suas companheiras,
Mais as nuvens brancas,
Dançarinas,
Que jogam com ele,
Ao esconde-esconde...
Sem se cansarem,
Nem se zangarem,
Uma só vez,
Amantes da vida em paz...

Quero ver onde nascem as trovoadas,
E se forjam aqueles trovões,
De ferro em brasa,
Esparzindo urros de estarrecer.

E, no fim,
Lá muito longe,
Ir à fonte das horas,
Ao santuário santo,
Onde se tece
O Amor,
o tempo
E a eternidade!...

Ouvindo Amélie...uma vez mais, manhã de cinza fria, nascendo...

Berlim, 14 de Fevereiro de 2014
7h14m
Joaquim Luís Mendes Gomes


quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

assim emergem gigantes...


Assim nascem e crescem os gigantes...


É com pedrinhas de areia
Que se elevam os monumentos,
Na argamassa das estruturas,

São mãos de cinco dedos
Que tecem torres altas.
Embora,
Como castelos de areia
Que uma simples lufada
De mar em fúria
Põe no chão.

São formigas,
Incansáveis,
E minúsculas,
Em silêncio,
Pelos carreiros do monte,
Que erguem montanhas firmes,
De bagas-bagas,
Plenas de vida,
Em formigueiro,
Mais que a Índia...
Como arquitectas mais exímias,
Que os egípcios
Do deserto,
Suas pirâmides,
Tão estáticas,
Só de mortos...

Foi nos claustros escondidos,
Do centro oculto dos mosteiros,
Que se elevaram hinos,
De louvor ao Criador,
Pela criação da Europa,
Com o génio expansionista beneditino...
Dos Urais até extremo ocidental.

É com continhas minúsculas
Que se ligam aqueles rosários,
Que trazem a bênção celestial
A toda a Terra
Pela maternal mão
Da Mãe de Deus
Que também é nossa!...

Ouvindo Leonard Cohen

Berlim, 13 de Fevereiro de 2014
7h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

gostava de ser pastor...

Gostava de ser pastor...


Como foram os meus avós maternos.
Um casalinho novo,
Largaram das cercanias altas de Viseu
E, não sei porquê,
Com o seu criadito,
José,
Vieram instalar-se,
Nas encostas verdes,
Do monte de Santa Quitéria,
Sobranceiro às terras benditas
Que abundam em Felgueiras.

Teria o meu rebanho
De cabras e de ovelhas.
Sairia pela madrugada,
E, logo ao raiar da aurora,
Deixava-as em liberdade,
Seguir sua vida,
Entre as urzes e as giestas.

E eu, com o meu cajado,
Ficaria em contemplação.
Meditando a vida
E seus porquês...
Do começo até ao fim.
Contaria todas estrelas.
Beberia do luar.
E quando o sol nascesse,
Louvaria o Criador
Por aquela vida bela
Que me deu.

E na cadeia dos antepassados,
Um por um,
Que ma trouxeram até mim.

Bendita seja o Criador!...
Só me faltou nascer ao pé do mar.

Ouvindo Smetana

Berlim, 12 de Fevereiro de 2014
6h24m
Joaquim Luís Mendes Gomes


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

cruzamento das duas estradas...


O cruzamento das duas estradas...

Frente à minha varanda,
Passam duas estradas.
Sempre cheias,
De madrugada a madrugada.
Dois cortejos intensos.
Num vai-e-vém. Constante.
Dão-se tão bem!...
Num pára-arranca,
O semáforo manda.

Uns de fora,
Outros de dentro.
Uns do sul,
Outros do centro.
O fervilhar da vida,
Intensa,
Em movimento.

A ela vou, depois do meu jantar.
Bebo a paz das baforadas quentes
Do meu cachimbo.
E do meu uísque.

Observo e sonho.

São dois cortejos
De gente viva,
Igual a mim.
Que ri e chora.
Suspira e sonha.
Como eu choro e rio.

Conforme o vento.
Conforme o tempo.

Daqui eu vejo,
Olhando bem longe.
Nuvens que passam,
No seu destino.

Levam no ventre tantas sementes.
Num cortejo livre.
Vivem do mar
Que as sustenta.

Transformam em pão,
Por arte mágica.
A verdura dos campos.
Vestem as serras
De tule e branco.

Enquanto vivo...
E me alimento.

Ouvindo Smetana e outros


Berlim, 10 de Fevereiro de 2014
20h28m
Joaquim Luís Mendes Gomes




domingo, 9 de fevereiro de 2014

ode breve ao meu boné...


Ode breve ao meu boné...

Não podia ser mais justo e apurado
O presente que recebi,
Ontem pela tardinha.

Do meu filho mais novo.
Apareceu ao jantar de família,
Com um saco de papel branco,
Enfeitado,
Muito sóbrio com uma prenda
Para seus pais...

-Porquê?...perguntámos
- pelos livros que acabaram de publicar...

Para a Mãe, um chapéu formoso,
Muito discreto,
Harmonioso....
Que bem lhe fica!...

Meu coração deu um baque,
Delirando...

Acertou na mouche!...
O raio do petiz tão lindo!...
Estávamos mesmo a precisar.

Aqui o tempo é gelo...
E o meu estava já gasto...

Nunca tive um boné
Que me ficasse tão bem.
Falo de mim.
E da Mãe também.

Ouvindo Lang Lang ao piano, como sempre...

Berlim, 10 de Fevereiro de 2014
7h24m
Joaquim Luís Mendes Gomes


aranha azul...


Aranha azul...


Se eu pudesse ter escolhido o que quereria ser, como ser vivo, seria uma aranha. Mas teria de ser azul. Da cor do céu, quando brilha o sol. Me esconderia por detrás das nuvens. Teceria uma teia fina. Por onde só passasse o vento. Ficaria à espera de alguém passar.
Olharia primeiro seu rosto. E no rosto, os olhos. Leria neles seu pensamento.
Se fosse puro, deixava-o ir. Em paz.
Se não, lançá-lo-ia ao mar. E ficaria feliz. Por dever cumprido.
Menos um a fabricar o mal...Assim o mundo ficaria mais limpo. De quem só pensa em fazer mal...
O mundo assim, seria azul, da cor do mar...

Aeroporto de Berlim, Schonfeld, 9de Fevereiro de 2014
11h00m, enquanto esperava meu neto João a chegar de Portugal...

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

folhas soltas...


Minhas folhas...


Lancei ao vento,
Minhas folhas soltas,
Em que escrevi meus contos.
Gravei meus sonhos
Para cumprir.

Como fumo de incenso,
Fizeram uma nuvem
Que me toldou o céu.
Aturdido,
Fiquei sem ver.

Foram só momentos.
Rasgou o sol.
vi-as subindo,
por esse mundo.
Não sei onde irão cair.
Não depende de mim.

Só sei que as escreveu
Não fui só eu...
De todos os lados,
Me calaram fundo,
Notas de tantos carinhos,
E tantas pétalas de amor,
Que resvestiram
E me enchem a vida...
Como sementes,
Terei de lançar à sorte...
Oxalá cresçam e dêm bons frutos
No chão onde caírem.

Ouvindo Plácido Domingo
Berlim, 7 de Fevereiro de 2014
7h1m
Joaquim Luís Mendes Gomes





quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

salpicos...


Salpicos de notas...

Com salpicos e toques de notas,
Num piano aceso,
Se levantam labaredas
A arder
Que nos levam ao céu...

Bastam as mãos e a alma
Dum artista com fogo,
Sentado de frente,
Atacando sem dor
Cordas ocultas vibrantes,
De tamanhos
E espessura diferentes,
Em harmonia perfeita,
Que um ouvido concreto
E muita mestria,
Dispôs para nós.

Centelhas de amor
Espalhadas na vida,
Nossa razão de existir.
Não se podem perder.

Tudo que nos eleve do chão,
E nos faça vibrar,
É luz que ilumina
É força a puxar
Para que sejamos felizes.
Basta que nos deixemos levar...

Ouvindo Hélène Grimaud, tocando Bach
Berlim, 6 de Fevereiro de 2014
6h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

de surpresa...


De surpresa...

Nunca aviso quando chego.
De propósito.
Sei que corro o risco
De pensarem mal...

Mas é assim que eu fico a saber
Se sou bem-vindo ou não...

Fito-lhes os olhos.
E as rugas da testa.

A claridade brilha
Se houver saudade.
E a serena calma,
Que nasce da alma,
Tudo alisa...
Transparece no rosto.

Por isso, eu faço
O que via fazer,
Onde nasci.

Estavam abertas as portas das casas...
E à mesa, havia sempre lugar
Para mais um...

Herdei esta herança.
Dou-me bem com ela.
O saldo é bom.

Sou bem recebido,
As mais das vezes...
Às vezes, não!...

Berlim, 5 de Fevereiro de 2014
8h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes


o paraíso...


O paraíso...

Logo a seguir àquele,
Breve ou longo, tormento
Que acompanha, quase sempre,
A saga do nosso nascimento,

Começa um caminho,
Longo ou curto,
Parte de nós,
E todos queremos
Vá dar ao paraíso.

Para isso, tudo fazemos.
Nunca sós.
Temos sempre alguém,
Ao nosso lado.

Desde os primeiros passos.
Muitas quedas.
Muitos tropeços.
Esmurramos os joelhos,
Às vezes a cabeça,
Onde o nariz
É a maior vítima.
Rasgamos as calças,
Com repreenda dos nossos pais.

Vamos para escola,
Como os passarinhos,
A aprender a voar.

Entramos na arte difícil,
De bem conviver,
Aquela regra de oiro,
Para todo o caminho,
Agradando aos outros
Para que gostem de nós...

Sempre o melhor,
Sem o sabermos,
É o que queremos.
Sofrer?...
O menos possível.
E, assim, crescemos,
Cada vez maiores,
Com uma força interna,
Sempre crescente,
Não se vê,
Como aquela mesma
Que amadurece os frutos.

E chegamos a homens...
Irradiando luzes,
Por vezes sombras.
E cá vamos nós...
É nossa vez.
Não é preciso correr.
O paraíso vai dentro de nós.
Nosso caminho pior
É chegar a ele...

Ouvindo André Rieu, em Maastricht,

Berlim, 5 de Fevereiro de 2014
7h28m
Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

clareando a aurora...

Clarear da aurora...

Não quero perder
Uma pitadinha que seja,
Deste dia novo
Que está a nascer.

Quero correr pelo mundo,
Do passado ao futuro,
Deste presente ausente.

Confio no vento
E no sol,
Nos rios que correm,
Tudo vencendo,
Docemente,
Sem magoar.

O que importa
É chegar e correr,
De braços abertos,
Para abraçar
Quem espere por nós,
Contando os segundos,
Desde a hora em que fomos.

Não conto as horas.
Observo as luzes
Que se vão acendendo,
Amarelas,
No seio do escuro,
Daquele prédio em frente,
Carregado de gente.

Começo do dia.
Aurora a cantar.
Mesmo sem andorinhas,
Que hão-de chegar.

Ainda dormem os corvos.
Coitados. No topo dos prédios.
O chão ainda está negro.
E o bico não vê
O que querem levar.

Lenta e docemente,
Vai clareando
A manta cinzenta,
Que cobriu o céu,
Durante o frio da noite.

Sobressaem, em bicos dos pés,
As cristas hirsutas
E os recortes, à solta,
Dos topos das árvores.

Ainda não chegou o comboio
Carregado das cores.

Mesmo escuras e negras,
Castanhas opacas,
Brilham com os pedacitos de neve
Que olham para o céu,
Com medo do chão...

Ouvindo “O lago dos cisnes” mais uma vez...

Berlim, 4 de Fevereiro de 2014
7h3m – menos 2 graus -
Joaquim Luís Mendes Gomes

quando abri meus olhos...

Quando abri meus olhos pela manhã...

Havia dois corvos negros,
De asas refulgentes,
Poisados no beiral
Da minha varanda.

São meus vizinhos ...
Já me conhecem,
De me ver sentado olhando o céu.
Vendo a vida a nascer,
Ondas de carros,
Gente serena,
Bem agasalhada,
Pelos passeios limpos,
Ladeados de neve pura.

Sinto pena da nudez das árvores...
Eram tão lindas.
Vestidas de verde,
Com laivos doirados,
Seus braços nus,
Tremem de frio.
Nem sequer há vento
Que as faça sorrir.

Uns restos de folhas.
Não quiseram cair
E morrer no chão.

Preferem secar,
Como poeira de cinza
Que o vento deixou.

Meus vizinhos sérios
Levantaram seu voo.
Disseram adeus...
Amanhã, voltamos...

Ouvindo o adágio de Albinoni

Berlim, 3 de Fevereiro de 2014
14h57m

Joaquim Luís Mendes Gomes 

domingo, 2 de fevereiro de 2014

carta às Américas...


Carta às Américas...

Ó jovens terras americanas,
Onde o homem se fixou há tanto tempo
E onde viveu tão bem escondido,
Em paraiso celestial...
Povoado de cubatas de palha,
Muitas lendas de histórias lindas,
Cantadas pela noite dentro,
À volta das fogueiras, ao vento.

Eram felizes...
reflectindo o luar
Nos seus corpos nus.
Usavam penas.
Nos penteados,
Suas armas eram flechas.

Pontaria certa e infalível.

Iam ao rio e ao mar
Buscar o seu sustento.
Contra as feras
E contra as ondas.
Nunca lhes faltava o pão,
Como se dos céus,
Caísse...
Eisque, dos longes,
Dálém-mar ignoto,
Vieram em botes
E caravelas ...
Com vontade insana
De dominar...
A todo o custo.

Tinham aprendido a arte da pólvora
Lá no oriente...
Foi sua desgraça...
Foi o seu fim...

Outras eras se abriram...
Correu sangue.
Se dizimaram fazendas.
A torto e a direito...
Tudo em nome de Cristo!...

O progresso chegou,
Com suas garras,
Tudo abarcou...
Com as redes do poder.

Mudou-se tudo.
Uma Europa em escala enorme,
Se levantou pelos céus acima,
Rasgaram-se estradas.
E a metralha feroz
Avançou em força.
Tudo arrasou.
Menos as florestas virgens
E as pradarias imensas,
Que a natureza ali deixou...
Tão ricas.

Tanto cresceu...se fez Babel!...
Com fomee sede de dominar,
Se for possível,
O mundo inteiro...
Na América do Norte!...
O que não está certo.

Ouvindo Rui Veloso

Berlim, 2 de fevereiro de 2014
12h36m
Joaquim Luís Mendes Gomes





sábado, 1 de fevereiro de 2014

cinco cartas...


Cinco cartas aos Continentes...


Fui aos Correios pôr cinco cartas.
Uma a cada Continente.
Deste mundo.

Uma delas,
Há-de chegar às tuas mãos.
Onde quer que estejas agora.
Isso me deixa alegre
E faz feliz.

Quero que a abras,
Pela manhãzinha,
Ao nascer do sol.

É a hora a que a vida acorda.
Mais um dia para viver.

Que o da Europa,
Terra das luzes,
Já foi farol!...
Seja melhor
Que foi o de ontem,
E os dos últimos anos,
Quando tudo,
Parece,
Que voltou para trás...

Depois das guerras grandes,
Uma pequena,
Outra maior,
Ambas ferozes...
E da outra guerra fria
Que de gelo,
Reduziu a pó,
Tanta Fé e
E tanta Esperança
Num futuro medonho e negro
Que é o presente...
Diz-se União!...
Que paradoxo!...
Nunca esteve tão desunida
E desumana!...
Carcomida de mentira.

Venha de novo
Um São Bento que a lavre...
E ponha ao Sol!

Para a Ásia vasta e extensa
Das estepes,
Desde os Urais
Lá aos confins,
Pelos caminhos de Marco Paulo,
Onde há povos,
Nossos irmãos,
Filhos de Deus,
Iguais a nós,
Mas tão diferentes...
Vão no silêncio.
Só olham para trás,
De olhos no céu,
Vendo o mundo
De trás para a frente.

Para África ao sul,
Esse vasto pedaço de mundo,
Com a forma dum coração.
Onde negros e brancos,
Nem sempre deram as mãos,
Apesar de terem a mesma cor
Nos olhos
E no sangue que lhes corre nas veias...
Chegou a hora certa...
Dum grande abraço
E para sempre serem irmãos.

Ouvindo Brendan Perry
Berlim, 2 de Fevereiro de 2014
7h17m
Joaquim Luís Mendes Gomes