quinta-feira, 31 de julho de 2014

descansar dormindo...

Descansar dormindo…

Metade da vida,

Desde o nascer ao morrer,

É passada a dormir.

Como lei natural,

Este movimento ondulatório,

Que é geral.

Tudo condiciona.

Seria inferior a viagem na nossa vida,

Se não houvesse estas paragens.

Uma viagem longa na autoestrada,

Requer pausas de hora a hora.

As faculdades do corpo se cansam

Tão depressa,

Como a gazolina no depósito.

Com uma diferença.

Sem ela o carro não anda.

Sem descanso,

É o colapso certo

E a desgraça na estrada.

Até o sol o sabe,

Ao provocar a noite.

Para haver descanso

E o dia volte.

Mafra, 1 de Agosto de 2014

5h39m

Joaquim Luís Mendes

uma tigela de sopa...

Uma tigela de sopa…
  • Pelas alminhas de quem lá tem!…



Exclamava o velho andrajoso.

Que vivia sózinho no mundo.

Tivera dez filhos.

Todos casados.

Espalhados no mundo.

Nunca mais se interessaram.

Vivendo das esmolas.

E das migalhas de pão.

Uma malga de caldo

Daqui e d’além.

Só tinha um saco.

Com o retrato da Mãe.

Que estava no céu.

Com ela falava.

A todas horas.

Sentia-se menino.

Como quando nasceu.

Vivia rezando.

Olhando para o céu.

Esperando a hora

De subir para lá.

Sorria para as crianças

Que iam para a escola.

Contava-lhes histórias

Que os prendiam a ele.

Num dia de frio,

Sem ter onde dormir,

Foi um mais atento

Que lhe valeu.

Levou-o para casa.

Falou dele a seus pais.

Arranjaram-lhe uma cama,

Junto à corte de gado.

Estava quentinho.

Aí ficou a dormir.

Durante o inverno.

Sentiu-se no céu.

Ao almoço e jantar,

Uma tigela de sopa.

Um naco de pão.

Lhe levava o menino.

Enquanto viveu.

Aquele menino até podia ser eu…

Mafra, 31 de Julho de 2014

2027m

Joaquim Luís Mendes Gomes


quarta-feira, 30 de julho de 2014

relíquia...

Relíquia…

É de mim.

Fez-me assim a natureza.

Não sou arrumado.

Tenho de fazer um esforço.

Como quem puxa um arado.

Ou um arrastão no rio,

Contra a corrente.

O que por mim passa,

Passou. Na hora se foi.

E eu fiquei.

Mas, à medida que tudo passa,

Nesta velocidade de vertigem,

Meus olhos se prendem ao longe.

Naturamente. Em busca de suas raízes.

Preciso delas para respirar.

É lá que estão as minhas chaves para tantas portas.

Cada vez estou mais à nora.

É tanta a ventania.

Sopram ventos de confusão.

Em todos os planos.

Se escaqueiraram as plataformas.

Pareciam d’aço.

Para durar até à morte.

Foi outra a sorte.

O homem complica tudo.

Na voragem de dominar.

Cria teias.

Dá laços e cegos nós.

Para apertar e avassalar.

Afinal, o segredo está na simplicidade

E na verdade

Do que é natural.

Somos iguais e companheiros

Da mesma romagem.

São aparentes as distâncias

Que emergem da arquitectura.

É mesma a massa.

Mesmos sonhos e anseios

Ardem cá dentro.

Precisamos uns dos outros

Para não irmos sózinhos.

Amar não seja nunca só

Uma relíquia…

Mafra, 31 de Julho de 2014

7h3m

Joaquim Luís

terça-feira, 29 de julho de 2014

Passagem de nível…

Passagem de nível…

Onde um comboio atravessa uma estrada ou caminho,

Diz-se.

Há uma passagem de nível.

Uma campainha que toca.

Uma cancela que fecha.

Uma bandeirinha a voar.

E o comboio apitando,

Lançando fumo para o ar,

Lá segue,

Atravessando campos e bosques.

Rasga-se escarpas nos montes.

Faz-se furos na serra.

Lança-se pontes nos rios.

Para sua excelência passar.

Mas, onde está o desnível,

Se está tudo no mesmo plano,

Nem sequer deixa pégadas?…

 

Mafra, 30 de Julho de 2014

6h28m

Joaquim Luís Mendes Gomes

copo de água...

Um copo de água…

Tão simples…como um copo de água.

  • Ó Quinzinho. Dava-me um copo de água?

Vinham dos campos,

Bem lá do fundo.

Rosto vermelho.

Suor correndo.

Açafate à cabeça,

Com as verduras verdes

Da sua faina.

Eram os grelos.

O feijão verde.

Cebolas. Alhos.

Por vezes pintos

E mesmo galinhas.

A caminho da feira da vila.

Arranjar dinheiro era preciso.

Para o azeite e o petróleo.

Não era preciso muito,

Se não havia doença.

  • O Senhor lhe pague!
  • Pelas alminhas de quem lá tem!...

Como tudo era simples.

Tudo tão puro.

E verdadeiro.

Brotava da alma.

  • Vá com Deus! .- era a resposta do Quinzinho do padre.

Era alfaiate.

Já foi há tanto!…

Tudo tão simples e puro,

Como o tempo e o sol.

Havia perfumes com cor

Por todos os lados.

Saíam da terra

Que o arado arava.

As flores cresciam à solta,

Pelas bordas dos caminhos.

Tudo sorria.

Havia festa.

Por cima, o céu…

Por baixo a terra.

Ó que harmonia!

Que água tão fresca!…

Mafra, 29 de Julho de 2014

6h53m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

segunda-feira, 28 de julho de 2014

lufadas de música...

Lufadas de música…

Nesta tarde de alvoroço,

Uma enxurrada de música,

Rasgada em farrapos,

De tons variados,

Tolda minha alma.

Anestesia-me a dor.

Gela-me o rio

Que corre no fundo.

Lava-me a lava.

Vulcão apagado.

Quase cadáver.

Esquecido,

Na berma da estrada.

Mendigo pedinte faminto.

Morrendo de frio

E de fome.

Nem migalhas sobram

Desta mesa deserta de pão.

Apagou-se a lareira.

A lenha que havia

Acabou no inverno.

Agora, só caruma em rama

Que arde, carregada de fumo.

Ardem os olhos.

O peito sufoca.

Regelham as pernas.

E a manta molhada nas costas.

Mesmo com chuva de música…

Mafra, 28 de Julho de 2014

15h33m

Joaquim Luís Mendes Gomes

pedras e cacos...

Pedras e cacos…

Com pedras e cacos,

Se fazem castelos.

Muros de quintas.

Se tapam buracos.

Saem lavados

Do leito dos rios.

Fazem-se rimas.

Pirâmides ao sol.

Tapetes na estrada.

Com lava de pês.

Muitos quilómetros,

Descendo e subindo.

Com forma de ovos,

Pedaços de telhas.

Barro vermelho,

Seco ao sol.

Cascalho em bocados,

Cobrem rotundas

E praças vermelhas.

Devoram a chuva.

Que se infiltra na terra.

Com os passos

Do tempo e dos anos,

Se ficam areia seca

Da praia

E molhada no leito dos rios.

Mafra, 28 de Julho de 2014

14h29m

Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 27 de julho de 2014

vidraças partidas....

Vidraças partidas…

Desfizeram-se em cacos os vidros
Das minhas janelas.

Entra-lhes o vento e o frio.
Fico gelado.
Entram-lhes as moscas.
Fico aflito.
...
Chove cá dentro.

Se cerro as portadas,
Fico sem luz-
Apenas da telha de vidro
Que pus no telhado.
Não vejo o céu.
Só há uma gata que espreita.

Fiquei eremita forçado.
Penso e medito.
Revejo o passado.

Futuro, só abrindo a porta,
De mala aviada.
Ficou impossível viver.
Prefiro uma toca na serra,
À solta.

Mafra, 28 de Julho de 2014
6h40m
Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 26 de julho de 2014

baile de máscaras...

Baile de máscaras…

Ninguém se contenta com o que tem.

Donde vem esta queda para esconder.

Será medo? Que outros olhos vejam

A verdade toda sobre a gente?

Com fumaradas coloridas,

Muito traço sobre o rosto,

E muita máscara,

Vai a rua cheia,

Em cortejo.

Tanto sorriso aberto

Disfarçando tantas tristezas.

Tantos passos de elegância,

Simulando serenidade.

Tanta pressa e vontade de alcançar.

Fumos fátuos.

Chamas frias e sem calor.

Não há abraços.

Há só passes.

Salamaleques

Muitas vénias impertigadas.

Muito charme encomendado.

Uma praça triste de nudistas

Engalanados.

Uma orquestra deslumbrante,

Com as cordas todas partidas.

É a feira das vaidades num salão em reboliço.

O avesso da paz e da verdade,

Onde brota a transparência…

Mafra, 27 de Julho de 2014

7h55m

Joaquim Luís Mendes Gomes


manchas e nódoas...

Manchas e nódoas…

Não deixam de ser glaciares

Aquelas montanhas de neve

Que cobrem os polos da Terra,

Com algumas refegas negras.

Não deixa de ser azul

O céu,

Com algumas nuvens voando.

Nem o mar sereno

Com alguns arrufos

De tempestade.

 

Não se perde um concerto ao piano,

Tocado por mãos divinas,

Se houver uma nota em falso.

E a felicidade que nos banha alma,

Com uma névoa de dor no corpo.

E um copo de vinho bom,

Mesmo que lhe caia dentro

um cisco…

O bem é bem, porque o mal existe…

Senão, tudo seria igual.

 

Que seria das montanhas belas

Se tudo fosse uma planície verde?

E do arroz de forno

Que não deixa esturro?

A harmonia total

Nunca existiu

Nem existirá…

Calor sem frio…

O que seria?

Não á alegria perene

Sem uma mancha de tristeza.

Quão enssonsa seria a vida

Se não tivesse dias de alguma angústia…

Como é bom chegar a casa

Depois duma longa ausência!…

Mafra, 26 de Julho e 2014

7h51m

Joaquim Luís Mendes Gomes

sexta-feira, 25 de julho de 2014

outra forma de caminhar...

Outra forma de caminhar…

Vou caminhar para o Oriente.

Para o ponto da Terra extrema.

Onde a Terra quase chega ao céu.

Onde o ar é leve e imponderável.

Como o pensamento que nem Deus teme.

Onde os homens se encontraram consigo.

Explorando forças humanas que adormeciam.

Vou ver o sol a sair do berço,

Esfregando os olhos para mais um périplo.

Onde os rios fluem silenciosos,

E chegam ao mar com muitos braços.

Vou sentir as monções dos ventos

Despejando chuva e trovoada.

Vou à Malásia e a Singapura.

Vestir as cores gritantes do arco-íris.

Ouvir chinês com mariscada.

Perder-me só nas multidões.

Vou suspirar pelo regresso breve

A este cantinho de sol

E molhar os pés,

À beira-mar…

Onde tudo vai bem,
Apesar de tudo!...


 

Mafra, 25 de Julho de 2014,

20h17m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 24 de julho de 2014

algodão em rama...

Algodão em rama…

De vez em quando,

Tropeço nas pedras rugosas do caminho,

Coberto de lama

E caio.

Os joelhos recolhidos

Que me servem obedientes,

É que pagam…coitados.

E as calças.

Recorro à água fresca

Na primeira bica de água corrente.

O sangue se vai.

E pégo numa bolinha branca

De algodão em rama,

E, ao de leve,

Com muito respeito,

Compungido.

Faço uma jura e prometo

Nunca mais tropeçar…

Ter mais cuidado.

As calças, essas,

É só ir ao armário,

Nem merecem o conserto

Do alfaiate.

E o certo é que, dias depois,

Quando menos espero,

Uma distracção ligeira,

Um olhar à banda,

Outra vez no chão…

Só peço ao Criador

Que da próxima vez,

Me dê asas,

Em vez destes tacanhos membros,

Tão rasteirinhos,

Sujeitos à lama barrenta

E ao cascalho,

Inclemente e traiçoeiro

Que ela tapa.

E quem paga?

Aquela bolinha inocente

E branca do algodão …

Mafra, 25 de Julho de 2014

6h55m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 23 de julho de 2014

ressurreição...

Ressurreição…

Ressurgi das profundezas do passado.

Cheguei ao topo da montanha.

Límpido dia de sol.

Escassas núvens brancas

Salpicam o céu azul.

Olhei ao longe e a toda a volta

E vi claro.

Como nunca.

Senti-me solto de amarras.

Só um fio ténue

Vinha do Alto

E se prendia,

Brando e firme

Ao coração.

Muito seguro.

Vi rasgarem-se todas as cortinas fumarentas.

De incenso ensonsso, umas.

Outras, do pês da terra,

Pestilento.

Tantas teias bassas,

Com tintas sem cor.

Se enlearam em mim,

Quando saí para o mundo.

De aristóteles ao tomás de aquino

E agostinho deserto.

Libertei meu peso bruto,

Duma carga estúpida,

Cheia de cascalho estéril

Com vestes graves,

Como se fora a trave mestra.

Lancei ao vento todos os cadernos

De preceitos escritos por mãos tiranas,

Sedentas de império,

Nas consciências.

Atirei ao mar todas as fábulas,

De rãs e sapos do culto,

Escritas por falsos esopos.



Senti-me só eu e os meus olhos abertos.

Vejo claro, só com estes

Que Deus me deu…

Mafra, 24 de Julho de 2014

7h10m

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 22 de julho de 2014

argamassa de linho...Argamassa de linho…

Argamassa de linho…

É de linho a argamassa

Que tece esta manta de nevoeiro.

Não tem traça,

Mas só poalha de cinza etérea.

Vem do alto, como cortina.

Esconde o sol

Enquanto se banha no mar.

Um mar imenso de tinta branca,

Sem ondas,

Onde só o silêncio sopra

Ao desafio.

Oiço as ninfas que voam escondidas.

Espreitando as braçadas de luz

Que o sol vai dando.

São aos milhares delas,

Bem apinhadas.

Querem secar todas as lágrimas de amor

Que já verteram.

Benditas horas estas

Em que o dia nasce.

Tão leve e calmo.

Convidando à vida.

Vou abraçá-lo a mim,

Com toda a força,

Como este fosse o último da caminhada.

Bendita a vida plena

Que eu já vivi…

E as migalhas dela

Que ainda vão cair…

Mafra, 23 de Julho de 2014

6h30m

………………….

nasceu com nevoeiro

………………..

Joaquim Luís Mendes Gomes

mar do passado...

Mar do passado…

Lanço ao mar profundo

Minha linha de pesca longa.

Ao acaso.

Pode ser que vá passando

Um cardume de memórias

Do meu passado.

Quero rever-me,

nem que seja só uma.

A trago à tona.

Fico a olhá-la.

Com estes olhos

Que os anos cansaram.

Era Domingo.

Ao cair da tarde.

Fazia calor.

De Agosto a sério.

A sirene, ao longe,

Começou uivando.

Ininterrupta.

Era um fogo!

Onde seria?

Um pouco mais,

O tilintar insistente das campainhas,

Começou descendo,

De norte para sul.

Estrada da vila.

Foi-se chegando.

Chegou à Forca.

A Pedra Maria.

Virou para cima,

A moto-bomba!

Com seis bombeiros.

Capacetes luzindo.

Perto de mim.

Meu coração batia.

Onde seria?

Passou-me à frente.

E foi para a Bouça da Pia.

Onde moravam os meus avós.



Fui a correr,

Até onde pude.

Uma nuvem negra

Enchia de fumo,

Os montes da Laje.

Que bem conhecia.

O caminho estreito,

Em barroca funda,

Fê-los descer.

Pegar na bomba

E seguir a pé.

Que grande incêndio

Na casa da eira,

A abarrotar de palha.

Não havia mangueiras.

Só a baldes de água.

Havia pânico.

Havia gritos!…

Havia um menino

No meio do fogo.

E vi um homem,

Com uma manta molhada,

A avançar as escadas

E entrar no inferno.

E, mais um pouco,

Com um menino ao colo…

Já era morto.

Nunca mais esqueci!


Mafra, 22 de Julho de 2014

16h47m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 21 de julho de 2014

seara de vento...

Seara de vento…

Sigo na estrada,

Através duma seara de vento.

Oiço as cigarras, adejando,

Desasossegadas,

E as libelinhas negras.

Poisadas sobre as papoilas.

Esvoaçam baixinho as toutinegras.

Sobre as espigas baloiçantes.

Das nuvens albas, lá no alto,

Jorram rios de luz de prata.

Sobre a terra.

Caem bênçãos infinitas

De energias paralelas.

É o calor, nem mais nem menos.

E a força da gravidade

Que à terra-mãe nos amarra e prende.

É a suavidade da planície,

Um altar de vida,

Exposto ao sol.

É a serra ao fundo,

Muralha imensa,

Que nos doseia o vento

Que em mar de ondas,

Sacode o pólen,

Disseminando as cores.

É o mar ao lado,

Espelhando o céu

Que nos liga ao mundo.

E o tempo na sua voragem

Num comboio apressado,

Nos transporta à força,

Para o fim do mundo…

Mafra, 22 de Julho de 2014

6h49m

Joaquim Luís Mendes Gomes

cacos...

Cacos partidos…

Vivo num mundo de cacos partidos,

Cheios de lama.

Me banho ao sol,

Junto do mar.

Voo nas nuvens,

Sonhos de sonho,

Jornadas sem par.

Carrego em mim,

Todo o peso do mundo.

Conto meus passos.

São mais os que dei

Que os que tenho para dar.

Agora, são as folhas de Outono

Que cobrem meu chão…

"setemomentos" em Mafra, 21 de Julho de 2014

9h46m

Joaquim Luís Mendes Gomes

volta ao mundo...

Volta ao mundo…

Quero dar a volta ao mundo.
Sempre por terra.
Vendo o mar ao perto.

Parto aqui do extremo
Da Hispânia ocidental.
Que o Atlântico banha,
Onde mora Portugal....

Um país com história,
Cheia de glória…
E um presente muito tristonho.
Oxalá no regresso,
O reencontre feliz e alegre.
Liberto desta negra tempestade.

Atravesso Espanha real.
Dos reis católicos.
Muitos castelos.
E catedrais.
À borda o Mediterrâneo azul.
Ligando-a ao longe,
À África deserta.

E uma muralha medonha,
De altos cumes,
Desfiladeiros e precipicios,
Me esconde a França,
Filha da Gália.
Terra das luzes.
E dos monges da terra.
Desde a idade média.

Tantos palácios e campos verdes,
Cheios de vinho.
Um mar ao norte, frio
E um quente ao sul.

Espreito a Itália,
Com Roma e o Vaticano.
A Sicília ao fundo.
Cara e coroa da mesma medalha.

Olho a Grécia azul e branca,
Terra de Ulisses
E do pensamento profundo,
Com Aristóteles.
Deitada ao mar.
Em letargia.

Vem a Turquia
E a Macedónia,
Ásia menor,
Com Istambul,
Flâmula de sonho
A arder de cor.

Vem o Egipto dos faraós
E o Monte Sinai
Onde Deus falou…
Ditando a Lei.

E chego à Índia,
Terra sem fim.
Com tantas castas de sangue,
Tantos matizes…
Em combustão perene.

Ao longe, o oriente pleno.
Vai do norte ao sul,
Que grande massa.
Alto Everest.
E os Himalaias.
Terras de neve.
Onde fumos não há.
O corpo não conta…
Só o pensamento.
Como ensinaram
Todos os Budas.
Que lá viveram.

Mafra, 21 de Julho de 2014
6h30m

ouvindo as cordas de André Rieu

Joaquim Luís Mendes Gomes
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segunda-feira, 14 de julho de 2014

nevoeiro no mar...

Nevoeiro no mar…
As sirenes à beira-mar,
Deseperadas, não páram de apitar.
Uma carapaça bassa e densa,
Como armadura,
Se armou.
Não há setas nem flechas agudas
Que lhe entrem.
Que é feito daquele gigante irado,
Tão impante nas suas vagas,
Para onde fugiu
Que ninguém o vê?
Só se ouve estertores,
Dum moribundo,
Arfando a morte,
Arrependido e humilhado.
Um lençol em pano,
O envolve à volta,
Como se fosse
A sepultar.
As gaivotas, aos bandos,
Carpideiras,
Fazem arcos sobre a areia.
Estonteadas com seu destino.
Grasnam…grasnam…
Sem parar,.
Tão aflitas
Que hão-de dar aos seus filhinhos,
Há tantas horas as esperam,
Biquinho seco tão aberto,
Se foi para isto
Que vieram ao mundo…
Mais valia não terem nascido.
E as mulheres dos pescadores,
Nas suas casas,
Embrulhadas em mantos negros,
Velas a arder,
Ajoelhadas frente à Senhora
Que também foi esposa
E também é Mãe,
Fazem promessas…
Rezam Ave-Marias,
Clamando em sofrido pranto,
Faça um milagre
E lhes acuda a seus maridos…

Berlim, 15 de Julho de 2014
5h39m
Joaquim Luís Mendes Gomes

domingo, 13 de julho de 2014

quem põe e dispõe...

Quem põe e dispõe…

Quem indica o caminho.

Põe e dispõe,

É o Pastor

Que criou a montanha,

Sabe o que fez,

De varinha na mão.

Tem o poder

De dar e tirar.

Na hora que escolhe,

Sabendo bem o que faz.

E porquê.

Ninguém fica a perder.

Porque nos criou por Amor…

Berlim, 14 de Julho de 2014

6h20m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

da minha janela...

Da minha janela…

À beira da rua,

Fico horas sem fim,

A ver quem passa.

Ali vem um cigano.

Cabelos desgrenhados,

Casaco às avessas,

Fumando uma passa.

Olha para o chão.

Que lhe vai na cabeça.

De bom não será.

Se cuidem as malas,

Tem fome de rato.

Ali vem o carteiro.

Repimpado na mota.

Em vez dum sacão,

Uma maleta de pele.

Não usa jaqueta.

Não usa boné.

Toca a buzina,

Á frente da porta.

Arranja o cabelo.

Se mira ao espelho,

Todo janota.

De carro e vassoura,

O cantoneiro da câmara.

Vai limpando os papéis

E as cascas de fruta.

Só passa uma vez.

Sauda quem passa.

Trabalho humilde

Nos torna felizes.

Depois o padeiro.

Canasta de vime.

Tapada da chuva.

Quando abre o tampão,

O cheirinho de pão

Me vem pelo ar.

Só falta a manteiga.

Que suave manjar!…

Na dobra da esquina,

Se ouve um cantar.

É a vendeira do peixe,

Fresquinho da lota.

Que ricas sardinhas,

Farão meu almoço.

Um cavalheiro de óculos,

Chapéu na cabeça.

Me dirige uma vénia.

Com um sorriso fingido.

Que chegue lá abaixo.

Que será que ele vende?…

Coisa boa não é.

Abre o casaco.

Uma mão cheia de oiro.

Onde foi que o roubou.

Depois veio um padre

De capa e batina.

Em passadas tão brandas.

Me lança um sorriso.

Olhando para o céu.

Dá-me a bênção

Que vai a rezar.

Me recolho cá dentro

E fico a pensar.

É a festa da vida

Que é preciso amar.

Berlim, 13 de Julho de 2014

20h10m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

sábado, 12 de julho de 2014

clareiras...

Clareiras…

Espaços perdidos,
No tempo,
Expostos ao sol
E ao vento.

Campos de verde,
Com salpicos de cores
Das flores que das sementes...
Nasceram.

Sulcos à sorte
De ribeiros e rios.
Parecem serpentes.

Esvoaçam pardais.
Há borboletas,
Como papoilas,
E lírios silvestres
Que batem as asas.

Serenas em bandos,
Pastam as vacas,
De orelhas e caudas,
Pendentes,
Sacudindo as moscas.

Há gamos argutos
De hastes ao alto
E de olhos picantes.
Saltitam aos pulos,
Com susto,
Como escaravelhos.

Há campos lavrados
À força dos pulsos suados
E da força dos bois.
Se tornam searas.
Sem fim.

E, nas bordas, a esmo,
Crescem videiras,
Cheias de uvas,
Brancas e tintas.

Plátanos, salgueiros,
Expostos ao alto,
Gargalham ao sol
E batem as palmas,
Com os ramos ao vento.

Nas poças da chuva
Que a terra não quis,
De dia e de noite,
À vez,
Coaxam as rãs,
Com medo das cobras.

Nas encostas dos montes,
Fervem as casas
De telhados calados.
Algumas são escolas.
Onde brincam miúdos.

Ouve-se os galos,
Ladram os cães
Miam as gatas de cio

Nas torres com cruzes,
Tocam os sinos.
Nas horas da missa.

Berlim, 13 de Julho de 2014
5h51m
Joaquim Luís Mendes Gomes

perfume do entardecer...

Perfume do anoitecer…




 
Vou para a minha varanda,

Ao entardecer.

Com todos os meus novelos.

Enchem um cesto.

Estão tão emaranhados.

Vou ver-me grego

Para os desenlaçar.

Fui-o enchendo,

Ao correr da vida.

Quando me sentia preso,

Ali os ia pondo.

Caminho mais fácil.

Foram somando…somando…

Que grande rima!

Não sei onde lhe está a ponta.

São de várias cores.

Secaram os que eram verdes.

Murcharam os que eram roxos.

Há salpicos rubros

Que parecem de sangue.

Há-os de cinza.

Há-os castanhos,

E os de casca de ovo.

Me debruço

E os rememoro.

Há-os com laços.

Tão emaranhados,

Parecem morcegos.

Há-os vendados.

Com cadeados.

Esqueci o segredo

Que os conseguiam abrir.

Chego-lhes fogo.

De tão apagados,

Se consomem de fumo.

Tresandam a fel.

Revolta e dor.

Águas passadas.

Dum rio sem fundo.

Há-os doirados

Reluzindo ao sol.

Guardam segredos.

Espaços de luz.

Se evolam quimeras.

De esperanças perdidas.

Forjadas de sonho

Que o tempo matou.

Me abraço aos meus laços.

Foram só meus.

Deixo que a hora da morte

Os liberte de vez…

Berlim, 12 de Julho de 2014

21h11m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 


 

 




Perfume do anoitecer…




 
Vou para a minha varanda,

Ao entardecer.

Com todos os meus novelos.

Enchem um cesto.

Estão tão emaranhados.

Vou ver-me grego

Para os desenlaçar.

Fui-o enchendo,

Ao correr da vida.

Quando me sentia preso,

Ali os ia pondo.

Caminho mais fácil.

Foram somando…somando…

Que grande rima!

Não sei onde lhe está a ponta.

São de várias cores.

Secaram os que eram verdes.

Murcharam os que eram roxos.

Há salpicos rubros

Que parecem de sangue.

Há-os de cinza.

Há-os castanhos,

E os de casca de ovo.

Me debruço

E os rememoro.

Há-os com laços.

Tão emaranhados,

Parecem morcegos.

Há-os vendados.

Com cadeados.

Esqueci o segredo

Que os conseguiam abrir.

Chego-lhes fogo.

De tão apagados,

Se consomem de fumo.

Tresandam a fel.

Revolta e dor.

Águas passadas.

Dum rio sem fundo.

Há-os doirados

Reluzindo ao sol.

Guardam segredos.

Espaços de luz.

Se evolam quimeras.

De esperanças perdidas.

Forjadas de sonho

Que o tempo matou.

Me abraço aos meus laços.

Foram só meus.

Deixo que a hora da morte

Os liberte de vez…

Berlim, 12 de Julho de 2014

21h11m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 


 

 

 
 

 



 
 

 



sexta-feira, 11 de julho de 2014

minha mente...

Minha mente…

Olho minha mente,
De olhos vidrados,
Como olho a lua cheia.

Um redondo quadro branco,
Com algumas sombras tremeluzentes.

Tento ir ao fundo....
Perceber-lhes os traços.
Os seus segredos,
Vêm ao de cima,
Em ebulição constante.

Me chegam em ondas brandas,
Dum mar pacífico.
Sem contornos.
Vai de mim
Ao fim do mundo.

Se esvaem em espuma,
Ao chegar à areia.
Arrastam conchinhas,
Com vidas latentes.

Trazem mensagens.
Escritas em renda.
Brilham de luz.
Estrelas brilhantes.
Sorriem.
Com faces serenas.

Lhes abro meus braços.
Fico encantado,
Tentando escrevê-los,
em versos poemas.
Vou-os contando,
Conforme se revelam.

Vêm às nuvens.
Vários tamanhos,
Pintadas de luz,
Em tons variados.

Clareiras azuis.
Reflexos do mar.

Oiço sonidos.
Vêm do fundo.
Orquestra sonora
De búzios escondidos.
Que me fazem sonhar.
De olhos fechados.

Berlim, 12 de Julho de 2014
5h56m

o dia nasceu com sol

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 8 de julho de 2014

contra o vento...

Contra o vento…


Tudo fica pior
Se temos vento pela frente.
E se há lama
E há negrume.

Cada passo que se dá
É um ferro que se crava.
Uma amarra que se parte.

O peito arfa.
O corpo aquece,
Corre o suor.
A alma sofre.
Em vez do sonho belo
Que queria ter.

Juntam-se as silvas
Que vêm dos lados.
A pele sangra.

Perdi-lhe as horas.
Já não tenho pressa.
O desafio É o essencial.
É nele que eu acredito.

Minha força que vem do fundo.

Sei que o sol há-de voltar
Cada passada uma vitória.
Por aqui, é o caminho.
Vai daqui ao fim do mundo.

Sei que o sol há-de voltar.
E hei-de chegar ao mar…
Berlim, 8 de Julho de 2014 6h7m Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 5 de julho de 2014

versatilidade das mãos contentes...

Versatilidade das

Mãos contentes…

Tanto apertam

Tanto soltam.

Ora prendem

Ora desatam.

Batem palmas,

Batem nas costas.

Se satisfeitas

E estão pacatas.

Se zangam,

São de fugir.

Piores que cães,

Suas murraças.

Servem de arma,

Defesa e ataque,

Mas batem no peito,

Arrependidas…

Na vanguarda,

Apontam caminhos,

E vão à frente,

Destemidas…

Servem de garra,

Têm unhas,

Parecem dentes,

Fazem carinhos

E tocam guitarra.

Berlim, 6 de Julho de 2014

8h51m

Joaquim Luís Mendes Gomes

riqueza e força da união...

Riqueza da união…

Das vozes e todos os timbres

Se fazem os coros de sonho.

Das cordas nos violinos e no piano,

E toda a gama rica de instrumentos,

Se fazem orquestras portentosas…

Que maravilha!

E o matizado colorido das boninas,

Vestindo as encostas e os vales

De flores…

Ó que regalo!

E das miríades de estrelas brancas

Que enfeitam o firmamento,

Fazendo-o mais branco do que preto

E mais perto que profundo…

Ó que encanto!

E dos enxames das abelhas,

Em portentosa assembleia,

Gerando mel,

Com tanta fartura,

Sob a batuta da abelha-mestra…

Ó que delícia!

E da algazarra estridente,

Nos recreios,

Em alvoroço, acri-doce da pequenada,

Que nos enche o futuro de promessas…

Ó que esperança!

E, quando um povo inteiro

Se une e dá as mãos

E vem para a rua,

Exigindo a igualdade e a justiça…

Ó que força!

E a riqueza que o trabalho dá,

Cada um fazendo o que sabe,

Quer na aula

Ou na oficina,

Sem lugar para os parasitas,

Nem a tirania da política…

Um paraiso!

Berlim, 6 de Julho de 2014

5h50m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

sexta-feira, 4 de julho de 2014

purificação das mentes...

Purificação das mentes…

O pensamento corre-nos dentro

Como a lava dum vulcão

A arder.

Se derrama em nós

Aos borbotões.

Tudo reveste e pinta

Das cores que tem.

Vem da alma,

Seu mar profundo.

E dos rios do tempo

Que lá foram morrer.

Trazem minérios puros.

Bolas de fogo,

Em combustão.

Caldeirão-cratera.

Ficam rochedos,

Parecem castelos.

Sulcam de rios

Alagam os vales.

Mal arrefecem,

Se cobrem de cinza.

Cai-lhes a chuva,

Leva-as o vento,

Levedam os campos.

Se vestem de verde.

Com toda a pujança.

Faz fumarolas,

Vão pelos ares.

Brilham ao sol,

Correm o mundo.

São arcos-íris,

Cheios de cores.

Regalam os olhos.

Quadros de sonho.

Iluminam as mentes.

Fazem viver.

Berlim, 5 de Julho de 2014

6h11m

Joaquim Luís Mendes Gomes

minha fábrica...

Minha fábrica…

Tenho uma fábrica.
Fabrico velas,
Todas em linho,
Para as caravelas.
No alto mar.
Parecem asas de anacondas.

Se inflamam ao vento.
Ficam em fúria
Com o mar revolto.

São brilhantes,
Se lhes bate o sol.
Ficam impantes
Parecem gigantes,
Ao entardecer.

Arrastam as naus,
Como se fossem arados.
Rasgam as ondas.
Ficam sorrindo.

Quando lhe fecho as portas,
Para me ir embora,
Ficam cantando…
Parecem chorar.

Berlim, 4 de Julho de 2014
21h56m
Joaquim Luís Mendes Gomes



recriação do mundo...

Recriação do mundo…
E um dia, disse Deus:
Vou recriar o mundo.
Um grande lago sideral.
Sem estrelas nem astros reis.
Sem castelos de rocha
Nem aviões.
Sem minérios nem gazodutos.
Sem mistérios de religiões.
Nem ministérios de poderes.
Sem as selvas de avenidas.
Encharcadas de arranha-céus.
Sem casas-brancas,
Nem praças vermelhas.
Nem basílicas de oiro
E vaticanos.
Nem um só urânio de ameaças.
Nem os dubais de plástico,
Em lego ou dominó.
Sem bandeiras.
Sem ONUS ou CEEs.
Sem as seitas negras
Do capital.
Sem moeda. Bancos centrais.
Nem os enxames
Dos computadores.
Sem diabos,
E sem arcanjos.
Nem infernos ou caldeirões.
Sem epidemia de seitas.
Nem os pesadelos tele-jornais.
Sem mais cadernos
Nem alcorões.
Livros de missa
Ou ladainhas.
Desaparecem de vez as assembleias.
E todas as fabricas de gravatas.
Não há opas.
Não há fatos,
Não há vestes.
Um mundo de paz e sem fronteiras…
Berlim, 4 de Julho e 2014
8h57m
Joaquim Luís Mendes Gomes

quarta-feira, 2 de julho de 2014

hora das gaivotas...

Hora das gaivotas…

Levanto-me de madrugada,

Para chegar ao abrir da praça.

Logo à hora dos pescadores.

Ver encher os cabazes

Do peixinho fresco,

Que ainda cheira a mar.

Naquela hora de encher as bancas

E de ver as vendedeiras

Escreverem o preço,

Cada um na sua loisa.

Ouvir o saudar gritante

Das mulheres dos pescadores.

Saias compridas,

Todas ufanas,

E olhos vivos,

Por já terem os seus maridos,

Logo à hora do sol-pôr.

E dos freguezes,

Vieram de longe,

Carregarem as camionetas

E vê-los partir para as suas terras,

A tempo e horas do almoçar.

E aquela frenética vozearia,

Em regateio,

Com interesses antagónicos,

Quase se matam,

Dos que compram

E dos que vendem.

A fecharem em paz

O seu negócio.

Muito obrigado,

Um bom dia…

E até amanhã,

Se Deus quiser!...

E ver os gatos felizardos

Que ali acodem,

Das redondezas,

Vêm famintos

E tão nervosos,

Farejando as presas

Que sobram.

E das peixeiras frescalhonas,

Ancas largas,

Seios trementes,

De açafates à cabeça

De aventais tão luzidios,

Lá se irem, passo a passo,

Rua a rua,

A apregoarem as suas vendas…

Como vão felizes!

E o tilintar das chávenas

E copos de vidro

E das máquinas de café,

-Ó que cheirinho!

Dois bares, em cada lado,

A servirem pequenos almoços,

Sem mais mãos para medir.

É aquela festa brava,

Sempre alegre e matinal

Que nos vicia

E faz viver…

É a hora das gaivotas!

Berlim, 3 deJulho de 2014

6h39m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

 

 

 

 

 

 

claridades da madrugada...

Claridades da madrugada…

Adoro ver no mar

A refulgência das madrugadas.

Cintilações de sonho,

Espraiadas até ao horizonte.

Quando a lua brilha elegante

Sob um céu de estrelas.

Adoro sentir-me entrar,

Janelas dentro,

As brisas das ondas.

Que fervem ao fundo.

Num caldeirão de paz.

E de ouvir o marulhar do mar

Num bailar constante.

Soltar meus olhos,

Como cavalos em fúria,

Saltando as fragas

Da serra ao longe.

Adormecer espaldado,

Na minha varanda de sonho,

Como príncipe feliz.

"Bar dos motocas", arredores de Berlim,

2 de Julho de 2014

10h1m

ouvindo Wolgalied, com André Rieu

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 1 de julho de 2014

badaladas...

Badaladas…
Em badaladas sonoras,
Uma a uma,
Retine o tempo.
Alegres,
Lânguidas.
Da cor de cada dia.
São sessenta
De hora em hora.
Latejam no peito,
Em relógio certo.
Sua corda inerte
São dois pesos
De pedra morta.
Um que sobe
Outro que desce.
Um que dá,
Outro recebe.
Num acende e apaga.

Ressoam a paz
As suas ondas,
O vento as leva e espalha,
Com sombra e sol.
Vibram nas almas,
Em compassos de espera.
Fonte nascente,
Água corrente
De vida e luz…
Berlim, 2 de Julho de 2014
6h18m
nasceu frio e de sol o dia