terça-feira, 22 de julho de 2014

mar do passado...

Mar do passado…

Lanço ao mar profundo

Minha linha de pesca longa.

Ao acaso.

Pode ser que vá passando

Um cardume de memórias

Do meu passado.

Quero rever-me,

nem que seja só uma.

A trago à tona.

Fico a olhá-la.

Com estes olhos

Que os anos cansaram.

Era Domingo.

Ao cair da tarde.

Fazia calor.

De Agosto a sério.

A sirene, ao longe,

Começou uivando.

Ininterrupta.

Era um fogo!

Onde seria?

Um pouco mais,

O tilintar insistente das campainhas,

Começou descendo,

De norte para sul.

Estrada da vila.

Foi-se chegando.

Chegou à Forca.

A Pedra Maria.

Virou para cima,

A moto-bomba!

Com seis bombeiros.

Capacetes luzindo.

Perto de mim.

Meu coração batia.

Onde seria?

Passou-me à frente.

E foi para a Bouça da Pia.

Onde moravam os meus avós.



Fui a correr,

Até onde pude.

Uma nuvem negra

Enchia de fumo,

Os montes da Laje.

Que bem conhecia.

O caminho estreito,

Em barroca funda,

Fê-los descer.

Pegar na bomba

E seguir a pé.

Que grande incêndio

Na casa da eira,

A abarrotar de palha.

Não havia mangueiras.

Só a baldes de água.

Havia pânico.

Havia gritos!…

Havia um menino

No meio do fogo.

E vi um homem,

Com uma manta molhada,

A avançar as escadas

E entrar no inferno.

E, mais um pouco,

Com um menino ao colo…

Já era morto.

Nunca mais esqueci!


Mafra, 22 de Julho de 2014

16h47m

Joaquim Luís Mendes Gomes

Sem comentários: