domingo, 13 de julho de 2014

da minha janela...

Da minha janela…

À beira da rua,

Fico horas sem fim,

A ver quem passa.

Ali vem um cigano.

Cabelos desgrenhados,

Casaco às avessas,

Fumando uma passa.

Olha para o chão.

Que lhe vai na cabeça.

De bom não será.

Se cuidem as malas,

Tem fome de rato.

Ali vem o carteiro.

Repimpado na mota.

Em vez dum sacão,

Uma maleta de pele.

Não usa jaqueta.

Não usa boné.

Toca a buzina,

Á frente da porta.

Arranja o cabelo.

Se mira ao espelho,

Todo janota.

De carro e vassoura,

O cantoneiro da câmara.

Vai limpando os papéis

E as cascas de fruta.

Só passa uma vez.

Sauda quem passa.

Trabalho humilde

Nos torna felizes.

Depois o padeiro.

Canasta de vime.

Tapada da chuva.

Quando abre o tampão,

O cheirinho de pão

Me vem pelo ar.

Só falta a manteiga.

Que suave manjar!…

Na dobra da esquina,

Se ouve um cantar.

É a vendeira do peixe,

Fresquinho da lota.

Que ricas sardinhas,

Farão meu almoço.

Um cavalheiro de óculos,

Chapéu na cabeça.

Me dirige uma vénia.

Com um sorriso fingido.

Que chegue lá abaixo.

Que será que ele vende?…

Coisa boa não é.

Abre o casaco.

Uma mão cheia de oiro.

Onde foi que o roubou.

Depois veio um padre

De capa e batina.

Em passadas tão brandas.

Me lança um sorriso.

Olhando para o céu.

Dá-me a bênção

Que vai a rezar.

Me recolho cá dentro

E fico a pensar.

É a festa da vida

Que é preciso amar.

Berlim, 13 de Julho de 2014

20h10m

Joaquim Luís Mendes Gomes

 

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