sábado, 20 de abril de 2013


Livro da vida

 

Abri um livro.

Biografia.

 Comecei a lê-lo a partir do fim.

As primeiras folhas rasguei-as

E pu-las no lixo.

E vieram mais…e mais…

Densas…escuras.

Saltei sobre elas.

 

Vieram as luzes.

Uma carreira chegara ao fim.

Vi-me de novo livre

E entregue a mim.

 

Passava horas, contemplando o mar,

Cada manhã, dum paredão.

Escrevia os versos que me ditavam as ondas…

Teci as lendas do que eu vivi…

Fui feliz, enquanto sonhei.

 

Depois, entrei na gare-mor

Do meu comboio.

Para seguir viagem em marcha atrás.

Fria e megalítica.

 

Não tinha alma.

Um labirinto.

Descomunal, inútil.

Cheirava a morte …

Em troca de pão.

 

Veio outro antro,

Sem alicerces sólidos,

Sobranceiro ao Tejo.

 

Uma cozinha augusta

Dos homens das leis

Para fazer cumprir.

Tanta mixórdia!

A jorrar para o rio.

 

Entrei num túnel.

Não tinha fim.

Num submarino…

Só, de tempos a tempos,

Eu via o céu.

 

Depois a guerra,

Na flor da vida.

Saí ileso…

Graças a Deus.

 

Entrei num charco,

Um pantanal.

Uma gaiola aberta,

Com passarões.

 

Depois o oásis,

A rebentar de verde,

Cheio de cor…

Era o começo,

Tão promissor.

Veio o prefácio,

Enigma

Que Deus escreveu…

E pus-me a lê-lo

Sem perceber

O que vim fazer.

 

Ovar, 20 de Abril de 2013

15h22m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

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