Livro da vida
Abri um livro.
Biografia.
Comecei a lê-lo a
partir do fim.
As primeiras folhas rasguei-as
E pu-las no lixo.
E vieram mais…e mais…
Densas…escuras.
Saltei sobre elas.
Vieram as luzes.
Uma carreira chegara ao fim.
Vi-me de novo livre
E entregue a mim.
Passava horas, contemplando o mar,
Cada manhã, dum paredão.
Escrevia os versos que me ditavam as ondas…
Teci as lendas do que eu vivi…
Fui feliz, enquanto sonhei.
Depois, entrei na gare-mor
Do meu comboio.
Para seguir viagem em marcha atrás.
Fria e megalítica.
Não tinha alma.
Um labirinto.
Descomunal, inútil.
Cheirava a morte …
Em troca de pão.
Veio outro antro,
Sem alicerces sólidos,
Sobranceiro ao Tejo.
Uma cozinha augusta
Dos homens das leis
Para fazer cumprir.
Tanta mixórdia!
A jorrar para o rio.
Entrei num túnel.
Não tinha fim.
Num submarino…
Só, de tempos a tempos,
Eu via o céu.
Depois a guerra,
Na flor da vida.
Saí ileso…
Graças a Deus.
Entrei num charco,
Um pantanal.
Uma gaiola aberta,
Com passarões.
Depois o oásis,
A rebentar de verde,
Cheio de cor…
Era o começo,
Tão promissor.
Veio o prefácio,
Enigma
Que Deus escreveu…
E pus-me a lê-lo
Sem perceber
O que vim fazer.
Ovar, 20 de Abril de 2013
15h22m
Joaquim Luís M. Mendes Gomes
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