quarta-feira, 24 de abril de 2013

Sinto saudades…
Sinto saudades
De quando era garoto,
O dia nascia,
Ouvia o assobiar de meu pai,
Na oficina.
Tesoura gigante na mão
Talhando os fatos.
Fazenda e cotim.
Minha mãe chegava da vila,
Carregadinha de pão,
Cheirava a fermento e farinha,
Era padeira.
Minha irmã, de faces rosadas,
E olhos brilhantes,
Pegava no alguidar à cabeça
E ia pró tanque lavar,
Cantando afinada,
Modinhas
E o fado de Amália,
Sob a ramada de uvas maduras.
Ouvia as poupas,
Contentes,
Escondidas nos ramos.
Esvoaçavam pardais,
No meio dos tojos das matas.
E o gato preguiça,
Se espreguiçando ao sol,
Ainda dormente,
Pensava nas gatas.
No estradão em frente,
Passavam beatas tristonhas
Que iam pra missa.
E carros de bois, trilhando a calçada,
Desciam gemendo,
A caminho da lavoura dos campos.
De longe vinham agudos
Os silvos das fábricas,
De ferro e sapatos.
Ao fundo,
Na forja do “Mói”,
Batia pesado o malho de ferro,
Sobre a bigorna, de aço,
Aguçando os guilhos,
Que furavam as pedras lavradas.
Pelo quintal, à solta,
Havia um galo e galinhas alegres
Qque ponham os ovos
E debicavam o chão.
De repente,
Fazia o silêncio no ar,
E caíam dolentes
Do sino da igreja,
As nove trindades
Para a gente rezar.
Tudo era real. Tudo era divino.
- Oh Que saudades!..
Ouvindo Lang Lang, em concerto para piano de Chopin
Mafra, 24 de Abril de 2013
7h41m
Joaquim Luís

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