O saquinho de
nozes…
Como de costume,
fui com minha mulher tomar o pequeno almoço ao café “Castelão” aqui no centro
de Mafra.
Um café amplo,
airoso, familiar. Uma clientela simples. A habitual. As caras já são todas
familiares. Tem mesas de quatro e de duas pessoas. Boas para se estenderem os
computadores, os jornais e passar uma boa manhã. Fica sobreelevado, à face da
rua. Das suas janelas largas e ovais, divisa-se o corropio do trânsito e o
cortejo incessante de gente apressada nos passeios.
Levo o meu
companheiro computador com a pen da internet. Fico em ligação com o mundo
inteiro. Leio os jornais. Faço os meus comentários sobre as notícias tenebrosas
da triste hora que passa.
Depois ponho-me a
rabiscar versos..linhas…por onde fujo desalmado…
Eis senão quando,
uma velhinha mulher do campo, de vestes antigas, compridas, lenço a envolver
sua cabeça inteira e o pescoço. Onde refulgiam dois olhos negros, fundos, muito
doces…num rosto bonito…de linda avó.
Trazia uns sacos
de pano, tecidos de trapos. Uma lavradeira saloia de almanaque.
Abeirou-se suave
da nossa mesa. Sacou um dos vários sacos cheio de nozes. Da sua lavra. Precisava de arranjar dinheiro
para o azeite do caldo verde, lá em casa.
- Não me quer
comprar este saquinho de nozes tão boas?…
Perguntou a medo
com um sorriso encantador.
- Quanto custa?
-. Perguntei.
Imediatamente o
pôs diante de mim. Negócio certo..- pensou…leu-me nos olhos.
- cinco euros.
Fui ao bolso da
camisa, que me serve de porta moedas. Tirei a nota…
Agradeceu.
Desejou-me sorte a mim e a todos os meus.
E saíu feliz…
Que bem nos
souberam depois do jantar, esmagá-las com um martelito sobre o tampo da mesa…(
apesar da reprovação justa e pronta da dona de casa…) e ficar a debicar os
pedacitos secos que iam saindo das cascas duras!...
Um saquinho de
nozes abençoadas pelo suor da camponesa que bem podia ser minha avó…
Mafra, 4 de Março
de 2013
22h34m
Joaquim Luís M.
Mendes Gomes
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