sexta-feira, 5 de abril de 2013


O saquinho de nozes…

 

Como de costume, fui com minha mulher tomar o pequeno almoço ao café “Castelão” aqui no centro de Mafra.

Um café amplo, airoso, familiar. Uma clientela simples. A habitual. As caras já são todas familiares. Tem mesas de quatro e de duas pessoas. Boas para se estenderem os computadores, os jornais e passar uma boa manhã. Fica sobreelevado, à face da rua. Das suas janelas largas e ovais, divisa-se o corropio do trânsito e o cortejo incessante de gente apressada nos passeios. 

Levo o meu companheiro computador com a pen da internet. Fico em ligação com o mundo inteiro. Leio os jornais. Faço os meus comentários sobre as notícias tenebrosas da triste hora que passa.

Depois ponho-me a rabiscar versos..linhas…por onde fujo desalmado…

Eis senão quando, uma velhinha mulher do campo, de vestes antigas, compridas, lenço a envolver sua cabeça inteira e o pescoço. Onde refulgiam dois olhos negros, fundos, muito doces…num rosto bonito…de linda avó.

 

Trazia uns sacos de pano, tecidos de trapos. Uma lavradeira saloia de almanaque.

Abeirou-se suave da nossa mesa. Sacou um dos vários sacos cheio de nozes.  Da sua lavra. Precisava de arranjar dinheiro para o azeite do caldo verde, lá em casa.

 

- Não me quer comprar este saquinho de nozes tão boas?…

Perguntou a medo com um sorriso encantador.

- Quanto custa? -. Perguntei.

Imediatamente o pôs diante de mim. Negócio certo..- pensou…leu-me nos olhos.

- cinco euros.

 

Fui ao bolso da camisa, que me serve de porta moedas. Tirei a nota…

Agradeceu. Desejou-me sorte a mim e a todos os meus.

E saíu feliz…

 

Que bem nos souberam depois do jantar, esmagá-las com um martelito sobre o tampo da mesa…( apesar da reprovação justa e pronta da dona de casa…) e ficar a debicar os pedacitos secos que iam saindo das cascas duras!...

 

Um saquinho de nozes abençoadas pelo suor da camponesa que bem podia ser minha avó…

 

 

Mafra, 4 de Março de 2013

22h34m

Joaquim Luís M. Mendes Gomes

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