A fonte das “Bócas”
Dia e noite,
Sempre que por lá passava,
Vindo da escola,
Ou nas minhas andanças
De criança livre,
Ela ali estava.
Era de todos
E não de ninguém.
Saía duma encosta breve,
Por uma bica em pedra limada
E jorrava...jorrava... sempre,
Numa melopeia terna,
De trovas frescas,
Que sabia bem
E matava a sede
Sem cobrar vintém.
Havia hera em seu redor,
Crescendo à solta,
Muitas dálias e cochilos
Em luminosos fogachos
De cores e luz.
Cheirava a fresco.
. No tanque à frente,
Extenso, em lajes de pedra virgem.
Uma lagoa mansa
Espelhando o céu,
Através das ramadas verdes.
Aí se regalavam felizes
As alimárias mansas
Vindas do seu labor de servas.
E, furtivamente, nas horas mortas,
Toda a passarada bravia,
Ali vinha matar a sede
E sacudir as asas,
Para poderem voar.
E nós, também
Quando o calor apertava,
Nela mergulhávamos,
Sem preconceitos,
Inocentes,
Como, ainda há pouco,
Viéramos ao mundo...
Lavando o corpo
E saciando a alma,
Como deve ser no paraíso...
Mafra, 13 de Outubro de 2013
8h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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