Vão longe os tempos...
Ainda o sol não nascera,
Tudo em redor,
Na natureza,
Cantava ao desafio,
Pelas matas ainda densas,
Só com carvalhos e pinheiros,
E urze brava;
E pela quinta fidalga,
Toda murada,
A muro e hera,
De Pedra Maria,
Onde havia muitas ramadas verdes,
Carregadas d’uvas
E bardos esgalgados
De amoras e morangos;
E, até ao longe,
Uma ténue manta
De neblina doce,
Tudo cobria,
Pelos campos e montes fora,
Desde a estrada até à Serrinha
E mais além.
Brandamente,
O dia nascia, à frente
Da minha janela.
Entre a chilreada crescente
Do passaredo bravo
Que saía aos bandos,
Em correrias loucas,
Daquele mar de folhas,
E o retinar das noras,
Aqui e além,
Nunca mais parava...
A dragarem canecos d’água
Para os milheirais sedentos;
E o repicar os sinos,
Em variados tons,
Mais grosso ou fino,
Conforme a igreja,
Convidando à missa,
Como primeiro acto...
Para quem podia;
E, à mesma hora,
Sem qualquer acordo,
Por todo o lado,
Os silvos das fábricas
Subiam nervosos,
Em altos berros,
Chamando os escravos,
Para mais uma jorna...
E, pelo meio dia,
Com o sol em brasa,
Ao mesmo sinal,
Tudo parava,
Para a merenda...
Era o descanso.
Ouvindo Grieg...
Mafra, 7 de Outubro de 2013
7h13m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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