Na barroca funda...fazia luar
Pela calada da madrugada,
Peguei nas minhas agulhas finas
Num longo carrinho de arame
E pus-me a fiar uma armadilha,
Num caminho ermo,
Na barroca funda,
Onde aparecia o diabo.
Atei uma ponta a um ramo firme,
Um de cada lado,
E pus-me em acção.
Dei tantas voltas,
Com tanta firmeza,
E uma rede enorme,
Ali ficou montada.
Pus-me num canto à espera.
Às tantas, ouvi tamancos ao longe,
Em passadas de ferro.
Era um cavador,
De enxada às costas.
Senti pena e fui-lhe ao encontro.
Que se fosse embora,
Por outro caminho.
- Então porquê?
- É para seu bem.
Ele acreditou e voltou para trás.
Continuei à espera.
De novo, vieram passos.
Desta vez o cura.
Com batina preta.
Corri para ele.
- Onde vai, ó senhor cura, a uma hora destas?
Envergonhado, sei lá porquê,
Fez-se esquecido.
E voltou embora.
A seguir, veio um moleiro.
Grande jumenta,
Carregado de sacas.
Era o Zé do moinho.
Fui ter com ele.
- Onde vai, senhor José,
Pela madrugada?
- Vou para o moinho
E mais esta besta.
Chamei-o ao lado.
- Vá por aqui,
Se não é o diabo.
Ele anda por aqui, à solta!...
Com tanto medo,
- Sempre é verdade!...
Zarpou para trás.
Até que, às tantas,
- Fazia luar-
Os dois ladrões,
Bem conhecidos,
O terror do povo,
Aí vinham eles,
Muito perigosos,
Usavam faca,
Da sua faina.
Escondi-me na sombra.
Com minha arma de fogo.
Foi tal o pavor
Quando se viram presos,
Sem saber por quê,
Caíram ao chão
E eu dei um tiro.
Para os assustar.
Remédio santo.
Puseram-se em fuga,
Chamando a mãe...
Nunca mais se viram
A passar por ali...
Na barroca funda
Que era um pavor!...
Mafra, 28 de Outubro
de 2013
20h50m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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