domingo, 13 de abril de 2014

não fui soldado raso...



Não fui soldado raso....


Podia tê-lo sido.
Não seria desonra.
Por sorte, mero destino, não.

Fui um dos muitos
Que lá andou.
De arma em punho...

Pertenço ao grupo
Dos que voltaram.
Sorte. Destino.
Salvo e são...

Muitos, iguais a mim,
Lá deixaram a vida,
Na mocidade...

Como um rio a correr,
A vida marcha.
Vertiginosa.
Parece lenta.

Inexoravelmente,
Corre, dia a dia,
Gota a gota.

E, nela marcho,
Agora,
Soldado raso,
Sem qualquer espingarda.
Ando na luta.
Com a minha força.

Inimigos não faltam.
Não vêm de fora.
Por todo o lado.
Estão cá dentro.

Andam ocultos.
Não vestem farda.
Não usam arma.
Mandam atacar.

São dos perigosos.
Muito ardilosos.
Andam opacos.
Vestem jaquetas.
Põem gravata,
Uns caras de anjo.

Gozam palácios.
Não vivem na tenda...

São generais.
De quatro estrelas.
Vivem à farta.
Ao pé do sol!...
À custa de quem?...
Dum grande exército,
Cada vez maior
De soldados rasos!...
Desarmados....o que é pior.

Ouvindo Hélène Grimaud

Mafra, 14 de Abril de 2014
6h22m
Joaquim Luís Mendes Gomes


Sem comentários: