segunda-feira, 10 de junho de 2013


Até ao topo...

 

 

Calcei minhas botas

Em couro espesso

E porte leve.

Um impermeável verde.

Minha mochila.

Com o preciso.

 

E aí vou perdido,

À sorte.

Montanha acima.

 

Deixei o rio,

A correr no leito,

Cercado d’hulmos,

E vidoeiros.

Vai entretido,

Com seus cardumes,

Transporta paz.

 

Pelas barrocas frias,

Sob ramadas altas,

Entre quinteiros,

Escorrem valetas

Parecem rios,

Águas da serra,

Que a chuva deixou.

 

Pelas encostas negras,

De terra-húmus,

Crescem à solta,

Ao deus-dará,

Lírios silvestres,

Cochilos prenhes,

De várias cores,

Brilham as amoras,

Filhas das silvas,

Cantam os grilos.

 

De vez em quando,

Lá vem um cão,

Ladrando,

Parece zangado,

Cheio de medo,

Estranha quem passa

E não é da casa.

 

E passo a passo,

De pedra em pedra,

Aí vou subindo,

Caminhos de cabra

Ou carros de bois,

Cada vez mais alto.

Cada vez mais leve,

Encosta fora.

 

Depois das casas da aldeia,

E suas cortes de gado,

Das oficinas toscas

E algumas tascas,

Cheirando a vinho,

 

Vêm os montes agrestes,

Onde só moram urzes

E os tojos de mato,

Um reino de paz,

As abelhas zumbem

E cantam os grilos.

 

Há serradela tenra,

Ninhos de cuco.

E o sol é brasa,

Quando não chove.

 

Cada vez mais leve...

Aí vou subindo,

Até ao topo.

Escorrendo suor,

Escutando o silêncio,

Olhando ao longe,

Como sabe bem...

 

Ovar, 10 de Junho de 2013

9h15m

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes

 

 

 

 

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