quinta-feira, 13 de junho de 2013


O CACHO DE UVAS
 


Diz a lenda que,

Na criação do mundo,

O Criador criou a uva,

No mesmo dia,

Em que criou a melancia.

 

Criou-a,

Branca e roxa

Carnuda e gorda,

Do tamanho

Da pera ou da maçã

E a uva ficou contente.

 

Ao almoço,

A uva viu um anjo,

A suar em bica,

Do cansaço

Daquele dia,

Agarrado a uma

Fatia,

Grossa e grande,

Rubra e fresca.

 

Atrevida, a uva

Perguntou ao anjo

Que seria

Aquela fruta,

Tão vivaça

E tão garrida.

 

- É melancia.

– respondeu-lhe o anjo,

Já calmo e regalado.

A uva sentiu-se

Pequena e triste,

Ao pé da melancia,

Tão carnuda,

Tão forte e atraente,

Capaz de matar a sede

Aos anjos…

 

Pegou em si.

Soltou-se da videira

E foi ao Criador,

Com ar,

Refilão e doce.

 

- Porque não me fez

Grande e rubra,

Como a melancia?…

 

O Senhor,

Feliz,

Com a obra daquele dia,

Dispôs-se a responder:

 

- Não sintas pena

Nem inveja.


A cada qual ,

Sua forma

E sua missão.

 

- Confia.

- Depois verás,

Que deliciosa e boa

Vai ser a tua…

 

A uva, desconsolada

E triste,

Caíu num pranto tal

Que,

Comoveu o Criador.

 

-        Pois bem.

Não retiro a missão

P’ra que te criei.

 

Vou dar-te outra feição.

 

Ficarás

De maior tamanho.

Assim:

Um formoso cacho,

De bagos, redondos,

Brancos ou rubros.

 

Com eles,

Um a um,

Em vida,

Matarás a sede,

De quem quiser.

 

Esmagada e morta,

Darás só vinho

E, com ele,

Encherás, de alegria,

Os céus

E todo o mundo…

 

A uva ouviu,

Atenta.

Olhou p’ra si.

… …   ….

E, para sempre,

Ficou feliz!…

 

 

Perpignan, 15 de Setembro de 2001

22h e 57m

Joaquim Luís Mendes Gomes

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