O CACHO DE UVAS
Diz a lenda que,
Na criação do mundo,
O Criador criou a uva,
No mesmo dia,
Em que criou a melancia.
Criou-a,
Branca e roxa
Carnuda e gorda,
Do tamanho
Da pera ou da maçã
E a uva ficou contente.
Ao almoço,
A uva viu um anjo,
A suar em bica,
Do cansaço
Daquele dia,
Agarrado a uma
Fatia,
Grossa e grande,
Rubra e fresca.
Atrevida, a uva
Perguntou ao anjo
Que seria
Aquela fruta,
Tão vivaça
E tão garrida.
- É melancia.
– respondeu-lhe o anjo,
Já calmo e regalado.
A uva sentiu-se
Pequena e triste,
Ao pé da melancia,
Tão carnuda,
Tão forte e atraente,
Capaz de matar a sede
Aos anjos…
Pegou em si.
Soltou-se da videira
E foi ao Criador,
Com ar,
Refilão e doce.
- Porque não me fez
Grande e rubra,
Como a melancia?…
O Senhor,
Feliz,
Com a obra daquele dia,
Dispôs-se a responder:
- Não sintas pena
Nem inveja.
A cada qual ,
Sua forma
E sua missão.
- Confia.
- Depois verás,
Que deliciosa e boa
Vai ser a tua…
A uva, desconsolada
E triste,
Caíu num pranto tal
Que,
Comoveu o Criador.
-
Pois bem.
Não retiro a missão
P’ra que te criei.
Vou dar-te outra feição.
Ficarás
De maior tamanho.
Assim:
Um formoso cacho,
De bagos, redondos,
Brancos ou rubros.
Com eles,
Um a um,
Em vida,
Matarás a sede,
De quem quiser.
Esmagada e morta,
Darás só vinho
E, com ele,
Encherás, de alegria,
Os céus
E todo o mundo…
A uva ouviu,
Atenta.
Olhou p’ra si.
… … ….
E, para sempre,
Ficou feliz!…
Perpignan, 15 de Setembro de
2001
22h e 57m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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