ENVELHECER…
Dei por mim,
Calvo,
E uns restos de cabelo, branco;
Uma vontade cansada de lutar,
Por sonhos sempre a fugir,
Em suplício de Tântalo;
Um corpo,
Enfraquecido da força
Que o puxava,
Jovem e incessante;
Um amor,
Manchado de nuvens
De desilusão;
Frutos caídos,
Num chão de folhas
Engelhadas
E prontas a apodrecer;
Árvores do meu tempo,
Vão caindo, uma a uma,
Em redor,
Ramagens
Nuas e desfolhadas,
Sem chilreios,
Na mesma terra,
Donde despontaram,
Tenrinhas,
Naquela primavera,
Recente
Que nos enchia, a todos,
De esperança;
A chuva e o vento
Já não cantam
Sinfonias de natais
Ou
raiar das primaveras;
Só esta vontade de escrever
É lareira a arder,
De saudade, sonho e fuga
Por um universo, infinito,
De liberdade.
Almada, 1 de Fevereiro de 2001
14h e 53m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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