segunda-feira, 31 de março de 2014

carta verde...



Carta verde...

Recebi uma carta verde,
Numa manhã de Primavera.
Numa manhã de chuva e vento.
Acordara estremunhado.
Um vazio imenso.

Dum perdido
No deserto sem sol.
Tudo era escuro.
Sem horizonte.

Sem camelos
Nem dromedários.

Apetecia-me largar tudo
E fugir sem rumo.

Escrevi um poema.
Saíu negro
Como uma noite,
Envolto em bruma.

Pelas dez horas,
O correio chegou.

Trazia uma carta.
Uma carta verde.
Abri-a.

Era dum grande Amigo
Que Deus me deu.

Fora ele que me libertara
Anos atrás.

Saído da cidade,
A capital.
Onde mergulhara tenro,
Depois da guerra.

Era o avesso do que mais queria.
Um reboliço
Um mar de gente.
Tantos carros,
Um fervilhar constante.
Eléctricos cheios
A abarrotar.
Vai-e-vém constante.
Nos atropelos
De quem tem de chegar a horas.
Para seus ofícios.

Em vez da calma
Da minha aldeia.
Onde o sol nascia,
Subia no céu,
Sempre a brilhar.
Não via estrelas.
Não via o luar.
Só candeeiros,
Com horas contadas.

Uma barulheira constante
Pela madrugada.

Ali vivi, acorrentado.
Cordeiro atado,
Para poder viver.

Ali casei.
Ali estudei.
Fiz-me gente
Pronta ao labor.
À custa de remédios
Para poder dormir.
Senti-me afogado.
Num alto mar.
E pensava eu
Nunca mais me livro
De tantas algemas.

Mas a sorte sorriu.
Larguei tudo.
Peguei nas malas.
E subi para o norte.
Ali ao centro.
Ao pé da Ria.
Ao pé do mar.

Vivi no campo.
Com meus descendentes.
Ali cresceram.
Foram felizes.
Eles o dizem.

Apareceu-me um amigo.
Que me ressuscitou.
Passei a dormir,
Como um anjo no céu.

Fiquei-lhe em dívida.

Que depois paguei.
Com meu primeiro livro
De poesia...
Baladas de Berlim...
Fi-lo chegar.
Com dedicatória.

E que surpresa!...
O leu de chofre,
Pelo último Natal...

Uma bela prenda!...
Que nesta carta verde,
Me apareceu...
O sol brilhou!...

Mafra, 31 de Março de 2014
19h48m
Joaquim Luís Mendes Gomes


suspenso....



Suspenso...

Parado. Quedo.
Não desço e não avanço.
Não me mexo.
Não estremeço.
Neste mar de cinza.

Que um cometa luminoso
Atravesse vertiginoso
Este meu céu.

Me dê de novo as estrelas.
E o brilho dos meus olhos.
Quero voltar a sentir a cor
Da vida,
Em permanente movimento
E mutação.

Nada me enche este vazio.

Insatisfeito.
Com o que faço
E o que não fiz.
O que tenho
E nunca vem.
Nem sei bem do que preciso.
Nem quando acaba.

Não quero olhar para trás.
Quero seguir ...

Esta sombra persistente
Que se mete adiante,
E me tolda de escuridão.

Nasci para ter certezas.
Tudo é vago e incerto.

Quando me vejo
À beirinha de chegar,
Nunca abraço
O que desejo.

Sinto fome e sede.
Com vinho e pão
Ao meu dispor.

Estou suspenso.
É assim que agora me sinto.
Sinto-me frio com calor...

Ouvindo Chopin, Mozart e...a partir do you tube
Mafra, 31 de Março de 2014
7h45m
Joaquim Luís Mendes Gomes

suspenso


sábado, 29 de março de 2014

a hora mudou...

Mudou a hora!...


Chegou o dia,
Finalmente,
De mudar a hora!

De mandar embora,
Aos pontapés,
Às vassouradas,
Estes lacraus,
Que à traição,
Por terrível,
Boçal, mentira, perfídia,
Bateram à porta,
E nos empestaram a sala,
A mais nobre,
A do bem-estar...

Que os nossos antanhos,
Com tanto suor,
Sacrifício e luta,
Nos legaram, por morte!...

Agarrem em paus!
Encham de pedras
Todos os bornais,
Que consigam arranjar...

E como Davids ...
Destemidos,
Trepem aos montes,
Corram à pedra
Até ao abismo,
Esses golias de mermermerda!...
Que enxamearam as estradas.
Com cilindradas vidradas de audis...
Que vestem os fraques
Põem gravatas...
Como senhores,
Falsos doutores,
Se vestem de gente...
De bem...
E são uns estupores.

Se sentam nas cadeiras ,
Maiores,
De Belém,
Ao Terreiro do Paço,
Onde só os melhores o deviam...

Ó que imbecis!
Ó que desgraça!
Brutal!...
Toldou Portugal!

Não há mais quem os cale!?...

Ouvindo outra cavalgada...a das Valquírias...de Wagner

Mafra, 30 de Março de 2014
7h34m

Joaquim Luís Mendes Gomes

guitarra de mestre...

Guitarra de mestre...

Como soam tão bem
Estas cordas
De guitarra afinada.
Por dedos de mestre.

Oram à Mãe.
De quem é nosso Deus
E é nosso Pai.
Por sua vontade!...

Ele no-La deu a nós.
Como porta aberta
Por onde podemos entrar,
No seu reino
Em busca de paz e de Amor.

Bendita Senhora!
Mãe de Jesus!...
Intercede por nós...
Neste mundo de guerra.
Que deveria ser
Uma casa
De irmãos.
Mas não é!...

Amen!...
Salvé Maria!
Mãe de Jesus!

Ouvindo Avé Maria à guitarra clássica

Mafra, 29 de Março de 2014
16h4m

Joaquim Luís Mendes Gomes

quinta-feira, 27 de março de 2014

eu poema de hoje...

Meus Amigos
O tirano estúpido que governa a Coreia do Norte mandou rapar o cabelo como ele a todos os homens.
Os tiranos todos que nos governam ainda não chegaram a tanto. Mas estão a rapar as reformas dos Reformados e Pensionistas. Não param enquanto houver um tostão de reforma a receber!...
Neste País só têm direito a viver os políticos ,,,desde a a presidência ao governo, à Assembleia e aos autarcas municipais e toda a seita de gente que parasita as fundações....os ladrões do BPN....os banqueiros e grandes belmiros que proliferam à custa do que rapam aos colaboradores...e outros especuladorees comerciais!...O resto é para abater...
A minha reforma e da minha mulher estão quase em metade. Muito em breve, perderei a casa e o carro. Vou para a bicha da sopa dos pobres, comer uma vez por dia. Dormir embrulhado num cobertor na rua. Ou então largar a minha terra natal e fugir desterrado no estrangeiro, à custa dos meus quatro filhos...até fechar os olhos.
Minha mulgher é Doutorada. Eu fui Advogado bancário. Dei curso superior aos meus filhos. Ambos temos livros publicados. ...
Foi para isto que se fez o 25 de Abril?
Foi para isto que entramos para a União Europeia?
Foi para isto que nos meteram na grande burla do EURO?....
Se foi...mais valia termos continuado com os governantes da estirpe de Marcelo Caetano. Ao menos eram cultos. Tinham algum sentido de honra e valores morais!...
Os que nos governam são ignorantes, parasitas, e completamente destituidos de consciência...
A diferença entre eles e o tirano etúpido da Coreia do Norte é meramente de coordenadas geográficas.......

este País de Abril!...

Este Portugal de Abril!...

Acabo de ver no Portugal in directo
Este quadro de honra!...

Em Coimbra.
Um casal.
Seu filhinho ao meio.
Embrulhados nuns cobertores.
Deitados,
A passar a noite.
Num passeio,
Em plena rua.
 Podia ser eu.
Minha mulher
E meu filho mais novo,
O Luís Daniel.
Se tivéssemos perdido tudo,
Por causa destes aldrabões sem alma,
Que nos estão a governar...

Enquanto eles dormem
Nos seus aposentos,
Bem calafetados.
Uns figurões desavergonhados.
Que se meteram na teia sinistra dos partidos
E alcançaram o poder.
Há tanta forma de matar...
Esta é, por certo,
A mais aviltante.

E o povo assiste
A tudo isto
E volta a confiar...

Impávidos...
Até que a derrocada
Lhes venha a bater à porta!...

Por muito menos, na nossa história,
Rolaram  cabeças...

De que estão à espera?...

Choro...de vergonha.

Mas não fico assim....
Sem me calar!...

Ó forças vivas!...
Ergam os braços!...
Está na hora de os escorraçar...
Não foi para isto que combati!...
Meus dois anos
Os meus melhores,
Da minha vida,
Nas bolanhas do Ultramar!?...
Respeitem Abril!

Mafra, 27 de Março de 2014
Joaquim Luís Mendes Gomes


quarta-feira, 26 de março de 2014

meu piano velho...

Meu piano velho...

Tantas horas doces,
Passei sentado a este piano,
Velho e preto,
Vertical em ferro.
Que herdei de meu Avô.

Nesta sala larga, cheia de livros.
Móveis escuros.
E loiças finas,
Candelabros.
Damascos longos,
De cor cansada,
De tanto escorrerem.

Cadeirões em pele.
Florões aos cantos,
Jarras de prata.
Retratos antigos.
Uns conheci e muitos não.

E um oratório bendito,
Ao Senhor dos Milagres
Que tanto estimo
E tanto adoro...

Chegou a hora de arranjar
As tábuas velhas,
Carcomidas,
Deste piano cansado.
Tão afinado!...

Vacilo. Tremo de medo.
Correrá perigo?

Vou sentir-lhe a falta.
Colou-se a mim e eu a ele.

Que farei destes famintos,
Querem correr a toda a hora,
De dia e noite,
Minhas pálpebras ficarão paradas,
E estes sonhos de cor
Que brotam em mim,
Não sei donde vêm...
Onde tocá-los,
Ficarão à espera...

E se não volta ...assim...
Depois de arranjado?

Pensei melhor.
Vai alta a hora.
O fim além!...

E ele chora também,
Se o deixar sair...

Ouvindo Adágio de Albinoni, com Karajan

Mafra, 27 de Março de 2014
6h32m
Joaquim Luís Mendes Gomes


anseios de primavera...

Anseios da Primavera...

Rasguem-se as nuvens do céu
Que me tapam o sol.
Quero ver o azul das estrelas,
E  brilho branco da lua
Quando a noite descer.

Quero cantar o hino de amor
Que o coração me está a ditar.
Me ressoa tão alto
E tão puro
E não posso guardá-lo para mim.

Brilhem os raios de sol
Que enchem o mundo de cor.
Quero ver as searas dançando
Ao som das ondas de vento
Que chegam das ondas do mar.

Quero ouvir
O trinado das aves,
Que só a Primavera nos traz...
Já chega de chuva e de frio.
Venha o Verão outra vez.

Tenho uma viagem de sonho
Marcada à volta do mundo.
Com bilhete de ida e volta...
Quero dá-la este ano,

Custou-me os olhos da cara.
E, para o ano ...não sei.

Ouvindo André Rieu

Mafra, 26 de Março de 2014
20h34m
Joaquim Luís Mendes Gomes



semear o bem...

Semear o bem...

Os filhos saem aos pais.
Poucas são as excepções.
Tal pai, tal filho...
A lei natural. E geral.

Dum grão de milho ,
Brota um caule verde,
Uma vez crescido,
À força do sol,
Da água da chuva,
Se desdobra em espigas,
E nos dá o pão.

Se, no meu lar,
Houver harmonia e paz,
Carinho e amor,
A bênção não falta nunca,
Porque vem de cima,
Dum mar sem fim,
Será uma lavra,
Será um jardim,
Onde o fruto nasce igual,
O mesmo sabor e cor.

Esta é lei natural.
Não há ervas daninhas,
Por mais vistosas,
Por  mais ladinas,
Que ali vinguem.

Então, donde vem o mal
Que avassala o mundo...?

Ervas daninhas,
Com sementes do mal,
Também aparecem
E crescem
No coração da gente...
Ainda mais insidiosas,
Quando o sol do Amor,
Começa a faltar.

Ouvindo Kleydermann, a partir do you tube

Mafra, 26 de Março de 2014
7h21m

Joaquim Luís Mendes Gomes

terça-feira, 25 de março de 2014

meu terreiro...

O meu terreiro...

Varri meu terreiro amarelado,
De terra barrenta,
À volta da casa,
Voltada a nascente.

Tem canteirinhos ,
Com muros baixinhos,
Feitos de lascas de pedra,
Com muitas flores,
Sempre a luzir.

Fazem ruelas,
Como se fossem colares,
Com pérolas
Que cheiram a sol.

Podei as trepadeiras
Que me enfeitam
De verde,
Às vezes flores,
As ombreiras das portas
E das duas janelas,
Escondem ninhos,
Casinhas de amor,
Das andorinhas
Que estão para chegar.

Colhi as camélias,
Que estavam a murchar,
Com o frio gelado,
Deste inverno sem fim.

Lavei o lago em laje de loisa,
Que um chafariz alimenta,
Mesmo ao centro.
Ficou a esbordar.

Semeei-o de peixes,
Pintados às cores,
Pus-lhe alimento,
Ficaram a bailar.

Sentei-me num banco de pedra,
À volta da mesa redonda,
Pertinho do lago,
Onde costumo ler e escrever.

Leve e sereno,
Expus-me ao sol
Que acabou de nascer
Soltei meu pensamento,
Deixei-o voar
E fiquei-me à espera...

Ouvindo concerto de violino de Sibelius, a partir do you tube
Mafra, 25 de Março de 2014
7h20m

Joaquim Luís Mendes Gomes

segunda-feira, 24 de março de 2014

nas margens dum rio...

Nas margens do rio...

Abeirei-me das margens do rio
E pus-me a ver a água a passar.

Havia folhas caídas boiando.
Pedaços de ramos.
Seguindo, em derivas seguidas,
Dum lado para o outro,
Pareciam-se beijando.
Abraçados à sorte
Da morte que os fez desprender
Das árvores sombrias,
Sem sol.

Como famílias sem pão
Para dar aos filhos criados,
Na esperança de vida
Com sol...promessas
Da mãe-natureza.
Umas vezes é mãe.
Outras carrasco!..
Quem me diz o porquê?

Ali vai um cortejo
Sem leme, entregue à sorte,
Seu destino morrer.
Brilharam à luz.
Dançaram ao vento,
Contentes.
Sonhando uma vida imortal.

Presos ao tronco
Grosso e valente.
Abastado de porte.

Bastou uma lufafada mais forte,
Para se partir o raminho,
E aí vieram aos tombos,
Sem ninguém lhes valer.

Tão tristes eles vão.
Fazem chorar.
Adubo serão,
No seio da terra.
Outras sementes virão
Que precisam de pão
Para poderem crescer.

Árvores de fruto.
Caules de milho.
Searas com grão.
Em espigas doiradas
Que secas na eira,
Voltarão a dar pão,
Matando a fome
De quem mora à beira do rio
E precisa comer...

Ouvindo uma Valsa Triste de Sibellius

Mafra, 24 de Março de 2014
15h50m
Joaquim Luís Mendes Gomes


domingo, 23 de março de 2014

auscultar a madrugada...

Os auscultadores da madrugada...


Quando ainda é negro o manto
Que veste a madrugada,
Eu desperto.
Me adestro...naquelas passadas
Que têm de ser dadas,
Para me sentir bem,
Desço as escadas.
Meu canito d’olhitos vivos,
E a cauda a dar a dar,
Companheiro leal,
Incondicional,
De todo o sempre,
Avança à minha frente.
Abro-lhe a portada
E, contente,
Ele vai lá fora.

Puxo o estore.

Dissipou-se, entretanto,
O véu da escuridão
No céu
E uma claridão suave,
Cresce e se esparze,
Avassala a terra
Veste-a de verde,
Como uma mãe
Que embeleza a filha,
Antes de sair para escola.

Ponho meus auscultadores
E entro no you tube.
Prodigiosa sala de música
Que a modernidade nos deu...
...nem tudo é mau!...
Escolho. Conforme o momento.
Hoje foi Pucini!...
E, ansiosamente,
Aqui estou eu,
De olhar e ouvido atento,
Ao mais ínfimo sinal de belo,
Deixando correr meu pensamento...

Ouvindo “ o melhor de Pucini”...
   
Mafra, 24 de Março de 2014
6h50m

Joaquim Luís Mendes Gomes

vidraças cerradas...

Vidraças ao sol...

Chove lá fora.
Minhas janelas fechadas,
Me abrigam da chuva.
E ela, atrevida,
Se mete comigo.
Escorrendo nos vidros,
Rios de lava,
Sedentos de quê?...

Leio-lhe os sulcos,
Que poemas mais lindos,
Ela escreve para eu ler!...
Falta a música.
Os pássaros escondidos,
Não cantam...
Oiço baladas de som,
Perdidas no ar.

Hinos de sombra,
Clamando pelo sol.
Asas paradas,
Se esquecem...
A preguiça as tolhe
E querem voar.

Solto-lhe as amarras,
E prendo-as ao vento.
Fico a vê-las bailando contentes,
Poisando no chão,
Debicando sementes
Da lavra que queria crescer...

Minhas janelas fechadas
Banham meus olhos,
De lágrimas de sons,
Poesia a ferver.

Me recolho cá dentro
E começo a escrever...

Mafra, 23 de Março de 2014
15h43m
Joaquim Luís Mendes Gomes




no silêncio das nuvens...

No silêncio das nuvens...

Minha alma navega,
No alto do céu,
Banhada de sol,
Entre a terra e o mar.

Traz e leva
Perfumes de vento,
pintados de cores,
Com matizes raiados
Que brotam do chão.

Cheiram a terra,
Cheiram a mar.
Salpicos de ondas,
Sulcadas de amor.

Ondas de fumo,
Brasas ardendo.
Caiadas de luz,
Vulcões a ferver.
Traços rendados,
Bordados de oiro.
Em crivos de linho,
Secos ao sol.

Janelas abertas,
Cheirando a lar.
Braseiros de sal,
Em medas pintadas de cal.

Bolanhas lavradas,
Nas terras muradas,
À força das pás,
Dos braços e pernas,
Tisnados ao sol.

Pirâmides erguidas,
Escorrendo suor.
Canastas repletas,
Varinas possantes,
Que trazem e levam,
Vezes sem conta,
Saias ao vento,
Seios vibrantes,
Blusas de amor...

Ouvindo Hélène Grimaud,  em adágio de Mozart...

Mafra, 23 de Março de 2014
14h33m
Joaquim Luís Mendes Gomes



faces da lua e da terra...

Faces da lua e da terra...

Os pássaros azuis,
amarelos, doirados,
banhados de luz,
flutuam no ar.

Os peixes, lavados em prata,
no silêncio do mar,
Viajam à solta,
sem quererem voar.

As flores prostradas ao sol,
Abrem as asas
como passarinhos às cores,
Só querem encantar,
Regar de perfume,
Os passos amigos
de quem vai a passar.

As aves canoras
nunca estudaram  de música,
em escola nenhuma,
como anjinhos no céu,
sabem cantar.

Ouvindo “memories” por Suzan Erens, com André Rieu
Mafra, 23 de Março de 2014
8h16m

Joaquim Luís Mendes Gomes

sábado, 22 de março de 2014

a caminho da escola...primeiro dia

a caminho da escola...primeiro dia

Teve uma noite agitada.
Estava nervosa.
Amanhã, o seu primeiro dia de escola.

O livro de ler.
Um caderninho de linhas.
Um lápis bem afiado.
Foi seu avô...
Uma borrachinha de duas cores.
Rico cheirinho!...

Um ponteiro e uma ardósia,
Pretinha a luzir.
Para escrever e apagar,
Com um paninho em feltro.
Tudo bem arrumadinho,
Na sacolinha de pano às cores,
Que lhe bordou
A sua avó.

Que lindo vestidinho em chita,
Cor de rosa.
De golinha branca,
E seis botões em linha,
Espreitando à frente.
Breves mangas,
Com enchumacinhos,
Em pregas,
Ao sair dos ombros.

Nos pezitos,
Uns soquetes brancos
Muito bem rendados,
Até ao joelho,
Umas sandalinhas vermelhas,
Com fivela ao lado.

Ali vai ela,
De sacolinha pendente,
A tiracolo.

Olhitos brilhantes,
Num rosto a sorrir.
Um laço vermelho,
Lhe sustem no alto,
Uns cabelitos d’oiro,
Que lhe escorrem suaves,
Até aos ombros.

Já sabe bem o caminho.
Quer ir sózinha.
A senhora professora,
Bem a conhece...
É catequista.

Um beijo à mãe,
Saiu o cancelo
E, dizendo adeus,
Lá foi ela...
Seu primeiro dia de escola.
É minha irmã Delfina!

Ouvindo Maria João Pires tocando Mozart

Mafra, 22 de Março de 2014
8h16m
Joaquim Luís Mendes Gomes