Os segredos dos meus sentidos...
Nas órbitas onde moram
Os meus olhos, guardo segredos.
São só meus.
Vêm de longe.
Viram tanta coisa bela...
As estrelas todas que eucontei
Ao colo de meu Pai..
Que deus tenha em bom lugar.
As constelações do céu.
Tantos desenhos no quadro negro,
Pintado de luar de Agosto...
Ele me apontava
Na soleira da minha casa nova.
O bragal que minha bordou
Para eu levar novinho,
Para o seminário...
Como se fosse um príncipe.
A minha comunhão solene,
Aos dez anitos
Com um fatinho novo
E camisa branca
De popeline!
Minha priminha doce,
Que me mostrou
O amor, furtivamente.
Nunca mais a vi...
Nos meus ouvidos,
Oiço bem vivas
As derradeiras palavras
De minha Mãe,
Na véspera da morte...
E as cantilenas de cor
Tão bem timbradas,
Que minha irmã cantava,
Como se fosse a Amália,
Quando lavava a roupa,
No tanque da rega.
E o perfume das camélias rútilas,
Que cresciam aos montes,
Frente à minha casa.
E o quentinho do ferro de brunir
Que me aquecia os lençóis,
Ao deitar na cama,
No rigor de inverno...
E o gosto das rabanadas,
A escorrer açucar,
Nas vésperas
Dos meus natais.
E as dores que senti
nos pés,
Quando um sapateiro-médico,
Resolveu arrancar-me as unhas,
Que estavam encravadas.
Só eu guardo...em mim
Até ao fim da vida.
Mafra, 5 de Março de 2014
22h50m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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