As naves do Alentejo...
Saí de Mafra e fui ver o mar
Nas searas verdes,
Do Alentejo,
em vez de gaivotas,
Voam cegonhas,
De asas largas,
Ora rentes,
Ora altas,
E moram nas sineiras.
O dia nasceu radioso.
Muito depressa,
Nos vemos deslizando na
Ponte Vasco da Gama.
Um deslumbramento.
Largo. Quase infinito.
O céu alto nos abraça.
Nos convida a avançar.
O rio tejo se estende
como se fosse um mar.
suas águas refulgem azuis
e reluzentes.
Há barquitos pequenos e solitários,
Pescando.
Não se vê que têm em cima.
Lisboa deslumbrante,
Estendida
Pela encosta suave,
Telhados avermelhados,
Campanários e torres de prédios
Desafiando as alturas.
Um castelo lá em cima
De atalaia aos mouros
Que podem vor do mar...
Um comboio corre em silencio,
Como um verme correndo,
rentinho ao chão,
correndo para o norte.
Há barcos gigantes alapados dispersos,
Mergulhados na água.
Paquetes brancos,
Encostados ao cais.
Esperam seus viageiros
Que foram visitar Lisboa.
Entretanto, atingimos a outra margem.
O começo do Alentejo...
Plano, com a serra escura,
Da arrabida,
lá adiante.
Vêm planuras vastas.
Com aldeias disseminadas,
Irregularmente.
Casais com suas hortas.
Onde pastam ovelhas,
Por vezes vacas.
E chegam os montados
De pinheiros mansos
De copas largas.
Há sobreiros esparsos
Por entre eles.
Que se vão sobrepondo em número,
À medida em que seguimos.
Voltamos para sul,
Como quem vai para o Algarve.
É o ermo verde,
Num mar de copas.
Aqui um lago pequeno.
E um pequenino ribeiro.
Depois, se abrem de par em par
As lezírias vastas de arroz.
Nas margens do Sado.
Um rio manso que vem do caldeirão...
Vai tão lento.
Não quer chegar ao mar.
Beija Alcácer do Sal.
E suas pontes.
Baloiça seus barcos
Onde se pesca marisco.
E por cima,
Voando aos pares,
Há asas deltas,
De cegonhas livres.
Não são de cá!...
Só passam as férias...
Carregam gravetos...
Do seu tamanho e peso,
Como se fossem cargueiros.
Armam as tendas,
São arquitectas...
Sem terem a escola...
Junto às sineiras.
Ó que palácios!...
Ali criam as crias.
Dali saem de manhazinha.
Mal o sol nasce.
Vasculham tudo.
E comem à farta!
Chegámos a Alcácer!...
Que dor!
Que desilusão!...
Onde havia um largo
Tão atraente,
com ramos de árvores
derramando sombra,
onde alentejanos pacatos,
cansados do campo,
sonhavam suas vidas passadas.
Havia bancos.
Havia vendedeiras de tudo,
Em barracas e tendas.
Agora, o chão é de pedra.
Raparam as árvores
E o sol em brasa, queima!...
Ergueram umas merdas de palha,
Secas, sem vida.
Só o Sado está corre,
Suave e meigo....
Como foi sempre.
Almocei no mesmo restaurante.
Gente diferente.
O mesmo calor...
De antigamente.
Fui ao chinês.
Comprei uma máquina de barbear..
Por metade do preço.
E vim...tão feliz!...
E aqui estou...
Tão consolado...
Vou dormir nas nuvens..
Como se fosse um anjo!
Mafra, 7 de Março de 2014
20h50m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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