Carta verde...
Recebi uma carta verde,
Numa manhã de Primavera.
Numa manhã de chuva e vento.
Acordara estremunhado.
Um vazio imenso.
Dum perdido
No deserto sem sol.
Tudo era escuro.
Sem horizonte.
Sem camelos
Nem dromedários.
Apetecia-me largar tudo
E fugir sem rumo.
Escrevi um poema.
Saíu negro
Como uma noite,
Envolto em bruma.
Pelas dez horas,
O correio chegou.
Trazia uma carta.
Uma carta verde.
Abri-a.
Era dum grande Amigo
Que Deus me deu.
Fora ele que me libertara
Anos atrás.
Saído da cidade,
A capital.
Onde mergulhara tenro,
Depois da guerra.
Era o avesso do que mais queria.
Um reboliço
Um mar de gente.
Tantos carros,
Um fervilhar constante.
Eléctricos cheios
A abarrotar.
Vai-e-vém constante.
Nos atropelos
De quem tem de chegar a horas.
Para seus ofícios.
Em vez da calma
Da minha aldeia.
Onde o sol nascia,
Subia no céu,
Sempre a brilhar.
Não via estrelas.
Não via o luar.
Só candeeiros,
Com horas contadas.
Uma barulheira constante
Pela madrugada.
Ali vivi, acorrentado.
Cordeiro atado,
Para poder viver.
Ali casei.
Ali estudei.
Fiz-me gente
Pronta ao labor.
À custa de remédios
Para poder dormir.
Senti-me afogado.
Num alto mar.
E pensava eu
Nunca mais me livro
De tantas algemas.
Mas a sorte sorriu.
Larguei tudo.
Peguei nas malas.
E subi para o norte.
Ali ao centro.
Ao pé da Ria.
Ao pé do mar.
Vivi no campo.
Com meus descendentes.
Ali cresceram.
Foram felizes.
Eles o dizem.
Apareceu-me um amigo.
Que me ressuscitou.
Passei a dormir,
Como um anjo no céu.
Fiquei-lhe em dívida.
Que depois paguei.
Com meu primeiro livro
De poesia...
Baladas de Berlim...
Fi-lo chegar.
Com dedicatória.
E que surpresa!...
O leu de chofre,
Pelo último Natal...
Uma bela prenda!...
Que nesta carta verde,
Me apareceu...
O sol brilhou!...
Mafra, 31 de Março de 2014
19h48m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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