quarta-feira, 26 de março de 2014

meu piano velho...

Meu piano velho...

Tantas horas doces,
Passei sentado a este piano,
Velho e preto,
Vertical em ferro.
Que herdei de meu Avô.

Nesta sala larga, cheia de livros.
Móveis escuros.
E loiças finas,
Candelabros.
Damascos longos,
De cor cansada,
De tanto escorrerem.

Cadeirões em pele.
Florões aos cantos,
Jarras de prata.
Retratos antigos.
Uns conheci e muitos não.

E um oratório bendito,
Ao Senhor dos Milagres
Que tanto estimo
E tanto adoro...

Chegou a hora de arranjar
As tábuas velhas,
Carcomidas,
Deste piano cansado.
Tão afinado!...

Vacilo. Tremo de medo.
Correrá perigo?

Vou sentir-lhe a falta.
Colou-se a mim e eu a ele.

Que farei destes famintos,
Querem correr a toda a hora,
De dia e noite,
Minhas pálpebras ficarão paradas,
E estes sonhos de cor
Que brotam em mim,
Não sei donde vêm...
Onde tocá-los,
Ficarão à espera...

E se não volta ...assim...
Depois de arranjado?

Pensei melhor.
Vai alta a hora.
O fim além!...

E ele chora também,
Se o deixar sair...

Ouvindo Adágio de Albinoni, com Karajan

Mafra, 27 de Março de 2014
6h32m
Joaquim Luís Mendes Gomes


Sem comentários: