Meu piano velho...
Tantas horas doces,
Passei sentado a
este piano,
Velho e preto,
Vertical em
ferro.
Que herdei de meu
Avô.
Nesta sala larga,
cheia de livros.
Móveis escuros.
E loiças finas,
Candelabros.
Damascos longos,
De cor cansada,
De tanto
escorrerem.
Cadeirões em
pele.
Florões aos
cantos,
Jarras de prata.
Retratos antigos.
Uns conheci e
muitos não.
E um oratório
bendito,
Ao Senhor dos
Milagres
Que tanto estimo
E tanto adoro...
Chegou a hora de
arranjar
As tábuas velhas,
Carcomidas,
Deste piano
cansado.
Tão afinado!...
Vacilo. Tremo de
medo.
Correrá perigo?
Vou sentir-lhe a
falta.
Colou-se a mim e
eu a ele.
Que farei destes
famintos,
Querem correr a
toda a hora,
De dia e noite,
Minhas pálpebras
ficarão paradas,
E estes sonhos de
cor
Que brotam em
mim,
Não sei donde
vêm...
Onde tocá-los,
Ficarão à espera...
E se não volta
...assim...
Depois de arranjado?
Pensei melhor.
Vai alta a hora.
O fim além!...
E ele chora
também,
Se o deixar sair...
Ouvindo Adágio de
Albinoni, com Karajan
Mafra, 27 de
Março de 2014
6h32m
Joaquim Luís
Mendes Gomes
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