terça-feira, 19 de novembro de 2013

molho de chaves...

Molho de chaves...


Tenho um molho de chaves,
Religiosamente guardado,
Desde os meus verdes anos.
Desde a altura
Em que me senti entregue a mim.
Nos anos de 52...

A primeira foi da mala,
Onde transportei meu enxoval.
Quando entrei no seminário.

Mala em pinho,
De encomenda,
Ao carpinteiro amigo
Do meu Pai.
Em ferro forjado.
Uma verdadeira miniatura,
Que a ferrugem come,
Da chave duma casa.

Depois, a da mala de cartão castanho.
Muito minúscula.
Pareceria agora um brinco...
Onde trazia a roupa e livros,
Quando vinha e ia no fim das férias.

A terceira, deu-ma a tropa.
Era singela...
Para um saco em pano,
Em manga d’alpaca
Até à hora solene
Em que me vi oficial.

Mais fidalga...
Luzia a prata.
Viajava em primeira,
Nos comboios
E no paquete
Que me levou
Num camarote,
Até ao Funchal.

E dali, até à Guiné...
Muito velhinha,
Só ela sabe o que lá passei...

Depois, a do quarto,
Como dum armário,
Em Lisboa,
Que eu tirei à dona,
Onde fui hóspede,
Até casar.

Fui saltitão,
De casa em casa,
Até assentar.
Do sul ao norte,
Terão sido sete.
As casas onde eu vivi.
E criei os filhos.

Agora, em Berlim,
Onde me trouxe o vento...
Que grande molho!
Com tantas histórias...
Até à derradeira,
Parecerá de oiro...
Que me levará para a cova...

Berlim, 19 de Novembro de 2013
16h7m
Joaquim Luís Mendes Gomes



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