Cavador da alvorada...
Como um cavador da alvorada,
Eu vou para o campo,
Abro a cancela.
Meu cão de guarda,
Salta da casota,
Sempre ofegante,
Vem ter comigo,
Se me atira ao peito.
De olhos luzindo.
Digo-lhe adeus
E parto...
Enxada ao ombro.
Bebendo do ar,
Que me fumega ao vento.
Os tamancos secos,
Ao pisarem o chão
Acordam o passaredo alegre
Que me esvoaça à frente.
Miro as ramadas.
- Como vai o vinho?...
- Aquelas oliveiras....
De tão carregadas,
Parecem gemer.
Quase chegam ao chão...
E aquelas tronchudas gordas
Que me cobrem o quintal....
Se desdobram em graça,
Aquelas folhinhas verdes,
Com bacalhau cozido,
Esperando o Natal...
Atravesso a ribeira fresca.
Como corre mansa.
Até as luzidias rãs,
Soletrando rans,
Me saltam ao caminho
Para me dizer olá...
Como um franciscano,
Dou bom dia aos ramos.
Que me escondem a lua.
Oiço os passarinhos
Que já querem ir brincar.
Levo no bornal,
Um naco de broa.
Com azeitonas das pretas.
Uma bilha de água
E outra maior de vinho...
Pode estar salgado
O bacalhau às postas,
O derradeiro carinho
Da minha patroa...
Antes de se ir deitar...
Aí vou andando
Até ao fim da aldeia.
Foi aquela leira de bênção
Que eu herdei dos meus...
Donde eu tiro pão.
Com a graça de Deus!...
Ouvindo Wagner, Cavalgada das Valquírias,
Berlim, 19 de Dezembro de 2013
6h52m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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