domingo, 1 de dezembro de 2013

para esquecer...

Mosquito num olho...

Entrou-me um mosquito num olho.
Ao pé da estação.
Fiquei parado, 
Esfregando, esfregando,
Aflito.

Perdi o comboio
Que me ia levar em viagem.
Fiquei revoltado.

Passei a manhã no café,
Bebendo cafés 
E lendo jornais.

O seguinte seria,
No meio da tarde.

Na praça de táxis,
Debaixo das tílias
Falavam e riam,
Alegres da vida,
Os dois taxistas,
À espera da vez.

Camionetas chegavam,
Quase vazias,
De gente.
Traziam galinhas,
De crista vermelha,
De patas atadas,
em cestas de vime.

No ar, ouvia-se o rádio, 
Da venda,
Com meia dúzia de mesas,
Com toalhas lavadas
E algumas surpresas.

Lá fora, a vendedora de roscas,
Com a voz meio rouca,
Cantava o refrão:

- quem quer regueifas...quentinhas e boas!?...
Veja freguês!...

Atrás do balcão, a dona do bar,
de faces rosadas,
cabeleira bem preta,
apanhada atrás,
Não tinha mãos a medir,
Nas horas de ponta.

Copos de vinho,
Saído da pipa.
Bacalhau em bolinhos,
Cebolada de iscas...
Bifanas grelhadas,
Na brasa a ferver.

Passou-se depressa ... aquela manhã
Que um mosquito me deu...
Por perder o comboio
Que seguia para a Régua.

Berlim, 1 de Dezembro de 2013
Joaquim Luís Mendes Gomes

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