sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

rumo à Régua...

Rumo à Régua...

Numa manhã fria de prata,
Tomei o comboio
E fui rente ao Douro,
Margem direita,
De Caíde à Régua.

Raivoso, soltou um apito
E largou...
Thunkathum!...thunkathum!...
Baforadas brancas de fumo
Sobem no vento,
Penetra num túnel,
Negro tão escuro,
Noite breu...
Se cerram janelas
E as cinzas, mesmo assim,
Rasgam as frestas
E sujam camisas...

Passado o negrume,
Ali vai a descer,
Verde e profundo,
Sulcado d’ondinhas,
Que flamejam ao sol.

Corre indiferente
Ao comboio que passa.
E aos rabelos hirsutos,
Com torres ao alto,
Que carrega no dorso,
Carregados de vinho...
E aqueles compridos,
De carvão a esbordar,
Rentinho à água,
Quase a afundar,
Dormindo sobre ele
Como se fosse um colchão...

Vai meditando nas horas que faltam
Para a foz e dormir...

E o comboio ronceiro
Apita e apita,
- Fujam da frente!
Avisando que vai...
Thukathum...thukathum...

Escorrem dos montes,
Socalcos de renda,
Com ondas,
Carregados de vinho.

Casinhas branquinhas de pobres
E casas-solar.
Banhadas de verde,
Há séculos sem fim,
Miram o rio
Sem se cansarem ...

Saúdam o comboio,
Ao fundo...
Esperam quem vem
E tarda em chegar...

Ouvindo Moldau, de Smetana

Berlim, 27 de Dezembro de 2013
12h9m
Joaquim Luís Mendes Gomes








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