Migalhinhas de Natal
Andei perdido por esse mundo,
Sem sentido na minha vida.
Atravessei bosques.
Cidades repletas de gente,
De agitação e luzes.
Saltei montanhas,
Percorri os vales,
Onde a serenidade mora.
Sorvi do mar sua brisa,
Incessante e fresca.
Palmilhei carreiros cobertos
Ora de lama... ora de neve.
Sujei meu fato
Nana poeira das feiras de tudo.
Ouvi da música agreste e alienante
Que se vende em discos.
Dormi livre ao frio e ao relento.
Mesmo vestido.
Fartei-me a comer do bom e do melhor,
Sem ser em festa.
Dancei o tango.
E o corridinho solto.
Vi futebóis em gigantescos campos,
Roubados ao milho e vinho...
De tudo eu fiz,
Vazio e cada vez mais só.
Faltava-me o rumo
E um destino seguro e certo.
Faltava-me o sonho.
Eu era um morto-vivo a caminhar.
Sem luar nem sol.
Inesperadamente,
Me encontrei com a morte.
Ao virar da esquina.
Ameaçadora e sorridente...
Queria levar-me assim,
Tal qual eu estava...
Perguntei-me a mim:
- que andei eu a fazer,
No mundo, estes anos todos?...
Não servi para nada...
Nem a ninguém...
E, agora, que será de mim?
Ela, calma, sorriu e disse:
- Se quiseres, dou-te mais um pouco de vida.
Mas para viveres a sério
E aproveitares bem...
Tudo em mim tremeu.
Um clarão de sol se abriu...
Senti-me outro...
Uma vontade ingente
Me encheu de vontade de viver...
Ao ver a morte a ir-se embora...
E aqui estou,
Aproveitando cada migalhinha de tempo
Que Deus me der.
O Senhor do tempo...
Como se cada dia fosse Natal!...
Ouvindo Albinoni, Aranguês, à viola
Berlim, 25 de Dezembro de 2013
22h30
Joaquim Luís Mendes Gomes
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